sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Amor Ao Saber ou à Mentira?

O homem ama trivialidades, banalidades e o senso comum

Segundo Aristóteles, somos uma espécie dotada com a sede do saber. «Todos os homens têm, por natureza, a paixão do conhecimento», considerou ele na sua Metafísica.
Só que também podemos ver a nossa curiosidade e ânsia de conhecimento, noutra perspectiva, bem menos exaltante, bem menos passional. O saber de que gostamos salda-se muitas vezes num saber prático e convencional. É o saber que alimenta a nossa capacidade de sobrevivência, e de relacionamento com os outros e com a vida. E é um saber que muitas vezes se confunde com o mito e o sonho.

Frequentemente andamos demasiado embrenhados com as nossas ideias, ilusões e fantasias. Ou com os nossos filhos e cônjuges, ou os afazeres profissionais, sem tempo ou vontade para espreitar pelos buracos que dão acesso ao outro lado da vida e a outros patamares de saber.
Para agravar as coisas, quando porventura olhamos através desses buracos, para o outro lado das nossas vidas e da realidade, o que vemos não nos agrada. Percebemos realidades incómodas - fraquezas, limitações, dores, ameaças, guerras, miséria…- ou realidades demasiado complexas e complicadas. E fugimos.

O mais das vezes preferimos o sonho e o mito - o mito de que somos fortes, de que somos retratos e filhos de Deus (em vez de descendentes de símios), de que estamos no centro do universo, de que o nosso país é o melhor do mundo. Ou o mito de que os homens têm amor ao saber...


Citações
Conhecimento e mito

O homem acredita sobretudo no que ele quer que seja verdade. Rejeita coisas difíceis por incapacidade de reflexão; coisas sensatas, porque vão contra os seus sonhos; as coisas mais profundas da natureza, por superstição; a luz da experiência, por arrogância e orgulho; e aceita as coisas em princípio inaceitáveis, por respeito à opinião corrente.

Francis Bacon, 1561-1626, filósofo e político inglês, Novum Organon 

Na religião e na política as convicções são quase sempre obtidas em segunda-mão, e sem análise, de autoridades que não examinaram elas próprias as questões, que as tiraram em segunda mão de outros, cujas opiniões também não merecem o mínimo crédito.

Mark Twain, 1835-1919, escritor norte americano, Autobiografia

Os homens estão sempre prontos a considerar como verdadeiro aquilo que desejam que o seja.

Júlio César, 100-44 a.C., imperador romano, De Bello Gallico

Todos os homens ficam sujeitos a errar; e muitos homens, em muitos momentos, por paixão ou interesse, são tentados a fazê-lo.
John Locke, 1632-1704, filósofo inglês, Essay concerning the Human Understanding

As falsas opiniões parecem-se com a falsa moeda; inicialmente são cunhadas pelos grandes traficantes, mas depois são distribuídas por gente honesta, que perpetua inconscientemente o crime.
Joseph de Maistre, 1753-1821, escritor e filósofo francês, Les Soirées de Saint-Pétersbourg

A mentira para connosco mesmo revela a nossa aptidão para o desdobramento, visto que o Eu mentiroso consegue convencer-se da sua própria sinceridade.

E. Morin, sociólogo e filósofo francês, Método V

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