terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O que é amor

A primeira pergunta que deve ser respondida com toda a sinceridade do mundo é: Você quer reatar porque ama?

E aí você vai responder: - Como saber se eu amo ou não ele (a) ?

Eu posso te dizer o que não é amor:

Se você precisa de alguém para ser feliz, isso não é amor, é carência.

Se você é capaz de fazer qualquer coisa para ter essa pessoa ao seu lado, isso não é amor, é falta de amor próprio.

Se você acredita que "ruim com ele(a), pior sem ele(a)" e mantém um relacionamento que já acabou, só porque não tem vida própria, isso não é amor, é dependência, comodismo.

Se você acha que o outro te pertence, isso não é amor, é posse.

Se você não sente desejo, mas gosta de estar com essa pessoa isso não é amor, é amizade.

Se discutem por qualquer coisa e nem sempre fazem os mesmos planos, não gostam de fazer as mesmas coisas, não saem juntos, não dialogam, mas sexualmente combinam em tudo, isso não é amor, é desejo.

Se seu coração fica descompassado, sua respiração ofegante e sua temperatura muda em apenas pensar na pessoa, isso não é amor, é paixão.

Operação resgate:

Caso consiga a reconciliação, não adianta depois que a tempestade passar voltar a ser o que era. Tenha ao menos caráter. A lógica das reconciliações está em se pensar que “se essa pessoa nos amou uma vez, podemos fazê-la voltar a amar novamente .”

Uma pessoa te ama pelo que você é e apesar do que você é. Graças a Deus.

Em alguns tombos e tropeços da vida apenas pedimos desculpas e tudo passa. A dor passa. Mas em sentimentos de adultos, desculpas não bastam. A dor é maior, é muito mais profunda, principalmente se ofende a pessoa amada com palavras.

Perceber que errou também é dolorido. Essa revolução interior vai machucar, tenha certeza. Voltar para casa é difícil e exige coragem.

“Reescolher” ou tentar novamente é algo maravilhoso, mas não vai acontecer do dia para a noite, a menos que você tenha muita sorte.

A pessoa não vai voltar só porque você está correndo atrás dela. É preciso um esforço maior, pois agora ela tem o direito de punir. Você deu esse direito a ela Reinvente o seu ser, o seu personagem, negocie com a vida.Construímos, portanto podemos modificar.

Diferenças existem e se não tentarmos negociá-las, o amor minará e trará ressentimento, problemas sem soluções, faturas impagáveis. Merecer o amor de alguém não é uma dádiva e sim uma conquista. Quando já não se esperam mudanças, tudo esta acabado.

Vejo muitas pessoas que falam algo do tipo:

"Queria te pedir desculpas pelo que fiz, mas você também errou nisso ou naquilo..."

Você já errou amigo(a) !!!

Não se pede desculpas se defendendo. Foi você quem errou, lembra?

Desarme seu espírito. Desculpas significam que você sabe que errou e que está disposto a encarar as conseqüências, mesmo que elas sejam uma merda.
Você sabe que esta errado e não que foi levado a errar.

E se conseguir a reconciliação, como fazer para manter?

Falando, dialogando, alertando e tendo muita, muita paciência.

Perdoa-se na medida que se ama, conte com isso.

Ninguém consegue ser tudo para alguém o tempo todo. Nem você.

Não basta perdoar. É preciso esquecer.

Ninguém adivinha o que o outro quer.

Aprenda a ouvir ....e principalmente... a dizer!!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O AMOR NA MITOLOGIA: UMA LEITURA ARCAICA DO MITO GREGO POETICAMENTE ACOLHIDO

O mito do Amor em sua nascente arcaica — O Começo das Coisas...

Na origem, o mito do Amor está circunscrito na narrativa do princípio das coisas. Para compreendê-lo é preciso levar em conta os termos desta narrativa (ou narrativas) em seu círculo gerativo retornante. As mitologias de todos os povos primevos da Terra agrupam muitas narrativas acerca do princípio das coisas. A ocidental, de origem grega, também tem suas cosmogonias originantes. A que se considera a mais velha parece ser a que vem de Homero, quando atribui a Oceano a “origem de todos os deuses”, e a “origem de tudo”. Como narra Kerényi, “Oceano era um deus-rio; um rio e um curso de água e um deus na mesma pessoa, como os demais deuses-rios” (1998, p. 25). Como deus-rio, possuía poderes inexauríveis de gerar, como acontece com os nossos rios. Entretanto, Oceano não era um deus-rio comum, o seu ser-rio não era um rio comum. A partir do momento em que tudo dele tem origem, dele tudo flui incessantemente nele mesmo. Oceano é, assim, um deus-passagem, deus-fluxo em si mesmo. No princípio, portanto, estava o FLUXO, ser origem e fluxo, “fluindo de volta sobre si mesmo num círculo”. O Fluxo é, então, a força do que reflui incessantemente para si mesmo. O Fluxo é o Mundo, o Cosmo, o Universo. Fluxo é a Vida em seu modo de ser-fluxo. O Fluxo reflui de si mesmo para além de si mesmo, em si mesmo. Fluxo é campo de força e vastidão: incomensurabilidade. A Água é Fluxo; o Fogo é Fluxo; a Terra é Fluxo; o Ar é Fluxo. Tudo o que é, é Fluxo.

Fluxo, então, é o deus originante de tudo o que é. Oceano é o seu nome grego na designação de um deus-rio. A água, portanto, é o seu elemento. E porque se trata da água que jorra de uma nascente, o deus Água, Oceano, é a própria nascente em seu perene fluir: a nascente que se perpetua na nascente e se expande aos confins do seu fluir, e para si mesmo retorna originando o Fluxo, na escuridão abissal do infundado Caos.

No princípio, então, é o Fluxo. O Fluxo chamou-se Oceano; Oceano presentificou a Água como elemento originante. Entretanto, Oceano em si mesmo é o par de Tétis: ele mesmo é, enquanto Oceano, a própria Tétis, isto é, a Mãe de tudo o que é. Oceano e Tétis formam o casal original. O Fluxo, portanto, é Fluxo fundado na diferença entre o “O” e o “T”, isto é, no encontro de iguais enquanto Fluxo: o meio, não o início, não o fim, mas apenas o que flui, o que jorra, o que escorre e o que passa apenas para recomeçar a passar de novo, sempre outro, sempre o mesmo fluir-ir-e-vir. Ao poucos indícios mitológicos acerca de Tétis a associam à Senhora do Mar, isto é, a esposa de Oceano.

Contudo, procurando ouvir uma outra ressonância, aquela que parece provir do poeta Orfeu, o sentido de Fluxo como o “casal original”, compreendendo aí a geração de um campo de força no fluir incessante das coisas. Esta outra narrativa nos diz que no princípio era a Noite (Nyx). A história a descreve como um pássaro de asas negras. A Noite copula com o Vento e gera Eros. Na narrativa de Kerényi:

A antiga Noite concebeu do Vento e botou o seu Ovo de prata no colo gigantesco da Escuridão”. Do Ovo saltou impetuoso o filho do Vento, um deus de asas de ouro. Chama-se Eros, o deus do amor; mas este é apenas um nome, o mais lindo de todos os nomes usados pelo deus. (1998, p. 26)

Nessa versão da origem dos deuses, Eros é o filho do casal primogênito. O ovo do qual nasce Eros é de prata. Eros, entretanto, luze com suas asas de ouro. O amor, assim, nesta imagem arcaica, é encantador e flamejante. O amor tem asas de ouro. Ou melhor, o amor tem asas de fogo. O amor encandeia em seu próprio luzir dourado. O amor, assim, é quase o astro rei em sua marcha perene. A solaridade do amor em suas asas de ouro: o quente, o agitado, o fluido incandescer pulsante.

Eros é o deus do amor. Nesta revisão, os seus outros nomes aparecem como atribuições de sua pujança ígnea. Assim, Eros é também conhecido como Protógono e como Fanes. No primeiro caso, salienta-se que ele foi o “primogênito” de todos os deuses, enquanto no segundo caso, indica-se exatamente o seu primeiro ato ao sair do Ovo: “revelou e trouxe à luz tudo o que antigamente jazera escondido no Ovo de prata — em outras palavras, o mundo inteiro” (Kerényi, 1998, p. 26). Acima deste Ovo de prata estava o vazio, isto é, o Céu. Abaixo dele, o Repouso. Os gregos chamaram este vazio de “Caos”, ou seja, simplesmente aquilo que “bocejava”, a absoluta ausência de qualquer coisa, a Escuridão abissal do Nada. Só com o passar do tempo é que a palavra “Caos” irá adquirir o sentido de tumulto, confusão e desordem. Esta perda do sentido mais original de “Caos” ocorre em virtude do surgimento do pensamento originário grego, que elabora uma doutrina dos Quatro Elementos. Deste modo, na sua forma primeva, o Caos encontrava-se abaixo do Ovo em estado de quietude; o Caos era Repouso. Segundo uma outra versão da história, a terra jazia abaixo do Ovo, e o céu e a terra se uniram. “Essa foi a obra do deus Eros, que os trouxe para a luz e depois os obrigou a se misturarem. Eles produziram um irmão e uma irmã, Oceano e Tétis”, como diz Kerényi (1998, p. 26).

Essa velha história de origem órfica, provavelmente, tinha sua continuidade na narrativa que dizia que, no princípio, Oceano encontrava-se abaixo no Ovo, não estando só, mas acompanhado de Tétis. Este par primordial foi o primeiro a agir sob a compulsão de Eros. Como se encontra em um poema de Orfeu: “Oceano, o que flui lindamente, foi o primeiro a se casar: tomou por esposa Tétis, sua irmã por parte de Mãe”, isto é, a Noite (Nyx).

Isso mostra, na versão órfica, Eros como o primogênito de todos os deuses nascidos da união da Noite com o Vento. A partir de Eros ocorre o refluir da própria origem como Fluxo. Eros, assim, é a origem da união dos opostos em fluxo e refluxo contínuo. O Amor, desta forma, em sua origem é a força de atração e repulsão de tudo o que é. O Eros primordial é a força de coesão do mundo: a união dos opostos em perpétuo fluir gerador — a gênese da multiplicidade. O Amor, assim, como deus originante, é a incandescência da vida em seu esplendor instante: o intemporal que freme na temporalidade — a superfície bela do mostrar-se encandido, inflamado nas cordas que ressoam sua imagética ígnea. O Amor primordial, assim, é o verbo “amar”.

Etimologicamente, Eros, em grego “Érõs”, provém do verbo “érasthai”, que significa estar inflamado de amor, designando algo como desejo incoercível dos sentidos. Há, também, uma versão de Carnoy que faz uma aproximação deste verbo com o indo-europeu (e)rem, que significa comprazer-se, deleitar-se (Brandão, 1993, p. 356). De qualquer modo, é como verbo que o deus Eros se mostra na origem: o verbo Amar. Isto indica, entre outras coisas, o desejo incoercível dos sentidos: comprazer-se, deleitar-se; indica, portanto, o querer-ser de tudo o que é vivo e vivente. O Amor primordial, assim, encontra-se despersonificado, o que não quer dizer que se encontre desencarnado. De forma precisa, ele é a encarnação da vida-sendo: o Fluxo. E o Amor, enquanto Fluxo, cinge, no mesmo Ovo de ouro, a Necessidade e a Liberdade. O Amor é justamente o meio de propagação desta união. Unido é o Amor na perpetuação do Fluxo vivente da diferença primordial dos opostos. O Amor, portanto, está sempre no caminho de si mesmo: por isso é sempre um consumar-se perpétuo, um dilacerar-se incansável. O Amor é sim, desejo: a carnalidade dos sentidos. O Amor sente, ele é sentido-sendo. O Amor é, assim, também cego: nele não se pode encontrar o ordinário, o corriqueiro, o plausível, o racional, o sensato. Ele, o Amor, é a encarnação do que freme de vida em todas as direções e sentidos. O Amor ama. Ao amar, o Amor se consuma em superfícies. Ele goza o gozo por si mesmo, e nunca depende do outro para gozar. O outro é, assim, para o Amor, motivo de si mesmo: o outro é o Amor do outro — afinal, tudo flui incessantemente para o sempre outro de si. Envolto em sua igneidade velada, o Amor sempre surpreende o seu amante. O amante é para o Amor o seu desejo no amar do outro: a alteridade luzente do Fluxo.

Para fechar o círculo das narrativas arcaicas e despersonalizadas, irei agora relatar a terceira versão do mito do princípio, na qual o Amor (Eros) aparece em sua forma originante. A mesma encontra-se na Teogonia de Hesíodo. Preferimos, aqui, transcrever os versos de Hesíodo (1992) pela tradução de Jaa Torrano. Situando a narração da origem, Hesíodo evoca as Musas para que falem do princípio de tudo. No que elas respondem:

Os Deuses primordiais

Sim bem primeiro nasceu caos, depois também

Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre,

Dos imortais que têm a cabeça do Olimpo nevado,

E Tártaro nevoento no fundo do chão de amplas vias,

E Eros: o mais belo entre os Deuses imortais,

solta-membros dos Deuses todos e dos homens todos

Ele doma no peito o espírito e a prudente vontade.

(Hesíodo, 1992, p. 111)

Nessa passagem breve do poema de Hesíodo, Eros aparece como “o mais belo entre os Deuses imortais”, libertador dos membros dos deuses e dos homens, e governante do espírito de todos os deuses e homens. Sim, em Hesíodo é apenas esta a presentificação do Amor primordial. Eros, assim, de forma velada, aparece como um deus que é o mais luzente de todos, isto é, o mais brilhante — o mais belo. Da suprema beleza de Eros provém a força que desconcerta deuses e homens, liberando-os das libações sem-sentido. Assim, Eros governa o “coração” de deuses e homens: “doma no peito o espírito e a prudente vontade”. Isto é o Amor (Eros) na versão hesiódica.

Entretanto, acolhendo a interpretação de Kerényi, é preciso observar a situação de Hesíodo em sua ambiência histórica particular. Pastor, lavrador e poeta ao mesmo tempo, quando jovem pastoreava carneiros na montanha divina do Hélicon, local de culto ao deus Eros e às Musas. Circulavam pelas redondezas do monte Hélicon os discípulos de Orfeu, que devotavam especial reverência a essas divindades. Significa dizer que Hesíodo provavelmente não desconhecia a versão órfica do mito da origem. Concordando com Kerényi, a história contada por Hesíodo soa como se ele tivesse omitido o ovo da história da Noite, o Ovo e Eros, apresentando Géia, a Terra, como a deusa primordial, justamente pela sua proximidade com o elemento terra, na qualidade de agricultor. E se em sua Teogonia ele cita primeiro o Caos, este não era para ele uma divindade, mas tão somente um “bocejo” vazio — isto é, o efeito do ovo vazio depois de retirada a casca.

De qualquer modo, também em Hesíodo, Eros é um deus que não se encontra ainda personificado, apesar de mostrar-se como “o mais belos entre Deuses imortais”, o que também indica uma distinção que apresenta uma diferença: Eros é o que liberta os imortais e os mortais dos grilhões da indistinção e da não-vida. Assim, Eros também aqui se mantém como força jorrante, na medida em que “doma no peito o espírito e a prudente vontade” dos imortais, assim como dos mortais. Tudo, deste modo, é perpassado pelo agir de Eros em seu fulgor extasiante. Na versão de Hesíodo, Eros permanece sendo uma força ingente que a tudo arrasta em sua desconcertante marcha. Entretanto, ele consegue conjugar a força desconcertante do Amor — que a todos “solta-membros”, isto é, enlouquece, libera, multiplica, extasia —, com a força capaz de domar no peito (coração) o espírito, levando a vontade a temperar-se no caminho do meio, isto é, na prudente sabedoria. O Amor primordial em Hesíodo, deste modo, apesar de esconder-se em sua vastidão incomensurável, é tanto a paixão bruta do desejo cego, a híbris, como a sabedoria hineante da mais bela harmonia, a díké. O Amor é o “descomedimento” e o “comedimento” conjuntamente, o “desequilíbrio” e o “equilíbrio” em um só fruir. O Amor é assim: oras é arrebatamento, oras é sabedoria; oras rebento ingente, oras apaziguamento vívido, despojamento serenojovial e humor benfazejo. O Amor se esconde em muitas faces: ele se metamorfoseia em diversidades sempre inesperadas.

Em Hesíodo, o Amor primordial, o deus Eros, é apenas evocado em sua luzência fundante: ele perde os contornos de sua imperância primordial, para distribuir-se como Idade da Justiça, a denominada Era de Zeus. A saga de sua Teogonia compreende um arco de tempo que vai do Caos até Zeus, ou seja, vai do Caos até a culminância da terceira geração divina, identificada como a Era da Justiça. A partir do enfoque de uma decadência brutal do espírito dos homens, tendo vivido ele mesmo na pele o despotismo de senhores feudais desonestos e injustos, promotores da injustiça entre os homens, Hesíodo profetiza o advento de uma nova era. E porque o enfoque de Hesíodo é a rememoração do que foi e o que virá, o mito do Amor em sua forma arcaica é deixado de lado para dar lugar a uma outra criação: a criação do homem. Este, entretanto, é fruto de relações incestuosas entre os imortais e os mortais, são neste sentido “heróis”, isto é, filhos nascidos das relações amorosas entre os diferentes pólos do desejo. E porque com Hesíodo envereda-se em uma passagem onde mortais e imortais se aproximam como nunca, o Deus do Amor se faz também a temperança de um temperamento justo: alcança o Amor maduro. Neste aspecto, teríamos que percorrer outros caminhos e desembocar no grande Oceano do Amor Sábio. Este, entretanto, sempre se vela nas peripécias de sua divina mania: não se deixa nunca capturar em redes fixas e em casas abandonadas. O Amor Sábio, em Hesíodo, parece confundir-se com a figura do grande Zeus. Zeus, assim, seria a presentificação do Amor maduro, isto é, o Amor Sábio: a justa medida.

Nessa transposição arriscada, o Amor Maduro perde o seu contorno primevo e se encarna na poeticidade do fazer humano. Esta passagem, entretanto, não é feita de uma só vez, o que não cabe ao mito explicar, pois, enquanto narrativa originante, o mito do Amor não foi deixado para trás no tempo das “fábulas” e das “fabulações”, mas continuamente faz acontecer o ser em sua ingente beleza: tudo sempre precisa sempre recomeçar para poder fazer algum sentido.

O mito do Amor, deste modo lido, arcaicamente lido, não é, portanto, uma mera “fábula”. Ele, em sua fala estranha e estrangeira, me faz cantar em sua vigência e em seu nome dizer de novo: não é preciso acreditar no Amor para que ele exista. Neste sentido, o Amor não pode ser objeto de crença e sua personificação, qualquer que ela seja, não passará de sombra pálida de sua luzência perene. Sua luzência, entretanto, não é visível apenas pelos sentidos comuns, mas também se propaga fora da visão e dos sentidos. Sua luzência é a perenidade da doação pulsiva e liberadora. Assim, sua luzência nada tem a ver com as luzes da razão sempre certa, sempre lógica. Pelo contrário, o Amor prima pela sua irrazão, ou melhor, por sua abundância jorrante e sempre sensível.

A partir dessa perspectiva apresentada do Amor mítico, o mesmo foi acolhido poeticamente em sua força ingente e originante. Para mim, isto quer dizer uma coisa muito simples: nesta minha fala não fiz mais nada do que reencontrá-lo em mim mesmo. Sinceramente, não fiz senão executar um cântico amante do Amor. Esta é a minha parte da lenha necessária para acender a fogueira coletiva desta mesa-redonda. Espero não tê-los entediado em demasia com essa leitura arcaica do Amor. Amor que se abriu como desvelamento de tudo o que é vivo e vivente. Amor despojado de suas infinitas manifestações singulares: força motriz de tudo — vida-sempre-viva ultrapassando-se.

 

[Dante Augusto Galeffi]

Amor e sexo, é preciso aprender?

O amor é a realização mais completa das possibilidades do ser humano. É o mais íntimo e o maior, é onde ele encontra a plenitude do seu ser, a única coisa que pode absorvê-lo inteiramente.

O prazer que deriva da sua expressão no amor conjugal é talvez o mais intenso dos prazeres corporais e também talvez o que mais absorve. O entusiasmo que produz uma paixão pura e sincera retira o homem ou a mulher de si mesmo para se entregar e viver para o outro: é o maior entusiasmo que a maioria dos seres humana tem na sua vida.

Quando o prazer e o amor se unem em entrega mútua, então é possível alcançar um alto grau de felicidade e prazer. Em contrapartida - como escreveu Mikel Gotzon Santamaria - quando se prima pela busca do simples prazer físico, esse prazer tende a converter-se em algo momentâneo e fugidio, que deixa um rasto de insatisfação. Porque a satisfação sexual é na realidade apenas uma parte, e talvez a mais pequena, da alegria da entrega sexual de alma e corpo própria da entrega total do amor conjugal.

- Mas, nem sempre é fácil distinguir o que é carinho do que é fome de prazer.

Às vezes é muito claro. Outras, nem tanto. Em qualquer caso, na medida em que se reduza a simples fome de prazer, está-se a usar a outra pessoa. E isso não pode ser bom para nenhum dos dois.

Quando se usa a outra pessoa, não a amamos, nem sequer a respeitamos, porque se utiliza e se rebaixa a sua intimidade pessoal.

O terreno sexual oferece, mais do que outros, ocasiões para se servir das pessoas como se fossem um objeto, ainda que seja inconscientemente. A dimensão sexual do amor faz com que este possa inclinar-se com certa facilidade para a busca do prazer em si mesmo, uma utilização que sempre rebaixa a pessoa, pois afeta a sua mais profunda intimidade.

Sendo o sexo expressão da nossa capacidade de amar, toda a referência sexual chega até ao mais fundo, ao núcleo mais íntimo, e implica a totalidade da pessoa. E, precisamente por possuir tão grande valor e dignidade, a sua corrupção é particularmente corrosiva.

Cada um faz do seu amor o que faz da sua sexualidade.

Aprender a amar

O homem, para ser feliz, tem de encontrar resposta para as grandes questões da vida. Entre as questões que afetam o homem em qualquer tempo e lugar, que apelam ao seu coração, que é onde se desenvolve a trama mais importante da sua história, está, inquestionavelmente, a sexualidade.

O homem procura encontrar resposta a perguntas capitais como: que devo fazer para educar a minha sexualidade, para ser dono dela?, pois, por sua vez, o corpo da outra pessoa apresenta-se como reflexo dessa pessoa e também como ocasião para dar rédea solta a um desejo de auto-satisfação egoísta.

- Consideras então a sexualidade um assunto muito importante?

O governo mais importante é o de si próprio.

Se uma pessoa não adquirir o domínio necessário sobre a sua sexualidade, vive com um tirano dentro de si.

A sexualidade é um impulso genérico entre qualquer macho e fêmea. Em contrapartida, o amor entre um homem e uma mulher procura a máxima individualização. E, para que o corpo seja expressão e instrumento desse amor individualizado, é preciso dominar o corpo de modo a que não fique subjugado pelo prazer imediato e egoísta, e, acima de tudo, atue ao serviço do amor. Porque, se não se educar bem a própria afetividade, é fácil que, no momento em que deveria brotar o amor puro, se imponha a força do egoísmo sexual. Visto que, no momento em que a sexualidade deixar de estar controlada, começa a sua tirania.

Como dizia Chesterton, pensar numa desinibição sexual simpática e desdramatizada, na qual o sexo se converte num passatempo bonito e inofensivo, como uma árvore ou uma flor, seria uma fantasia utópica ou um triste desconhecimento da natureza e da psicologia humanas.

Um certo "treino"

Apenas as pessoas podem participar no amor. Todavia, não o encontram já pronto e preparado em si próprias. Se uma pessoa permitir que a sua mente, os seus hábitos e as suas atitudes se impregnem de desejos sexuais não encaminhados para um amor pleno, resultará que pouco a pouco se vá deteriorando a sua capacidade de amar verdadeiramente, e estará permitindo que se perca um dos tesouros mais preciosos que todo o homem pode possuir.

Se não se esforçar por retificar esse erro, o egoísmo far-se-á cada vez mais dono da sua imaginação, da sua memória, dos seus sentimentos, dos seus desejos, e a sua mente ir-se-á enchendo de um modo egoísta de viver o sexo.

Tenderá a ver o outro de um modo interesseiro, apreciará acima de tudo os valores sensuais ou sexuais dessa pessoa e fixar-se-á muito menos na sua inteligência, nas suas virtudes, no seu caráter ou nos seus sentimentos. O despertar do prazer erótico antes do tempo costuma ocultar a necessidade de criar uma amizade profunda e pura. Aliás, uma relação baseada apenas numa atração sensual, tende a ser flutuante pela sua própria natureza, e é fácil
que em pouco tempo - ao desvanecer-se esse atrativo - acabe em decepção, ou
até numa reação emotiva negativa, de antipatia e desafeto.

- Consideras difícil de retificar essa deterioração no modo de ver o sexo?

Depende da profundidade que tenha a deterioração e, sobretudo, de se é firme ou não a decisão de a superar. O fundamental é reconhecer sinceramente a necessidade de proceder a essa mudança e decidir-se verdadeiramente a realizá-la.

É como um desafio: é preciso purificar, encher de higiene a imaginação, de limpidez a memória, de claridade os sentimentos, os desejos, a pessoa na totalidade.

É - em um outro âmbito muito mais sério - como treinar-se para recuperar a frescura e a agilidade depois de ter perdido a boa forma física.

- E não é um pouco artificial isso de treinar-se? Não chega ter as idéias claras?

No amor, tal como acontece na destreza de qualquer desporto, ou na maioria das habilidades profissionais, ou em tantas outras coisas, se não há suficiente prática e treino, as coisas saem mal.

Para aprender a ler, a escrever, a dançar, a cantar, ou inclusive a comer, é preciso predispor-se, seguir uma certa aprendizagem e adquirir um hábito positivo, senão faz-se de forma tosca e rude. Para expressar qualquer coisa bem e com alguma graciosidade convém treinar-se, cultivar-se um pouco. Quando uma pessoa não o faz, torna-se-lhe difícil expressar o que deseja. Sente a frustração de não poder comunicar o que tem dentro, de não poder realizar os seus sonhos. E isso acontece tanto ao expressar-se verbalmente como ao expressar o amor. Se não educamos a nossa capacidade de amar e de nos entregarmos por inteiro, em vez de expressar amor comportar-nos-emos de forma rude, como sucede a quem não sabe falar ou comer.

Cultivar-se assim é uma forma de se aproximar ao que cada um entende que deve chegar a ser. Com esse esforço de automodelação pessoal, de autoeducação, o homem faz-se mais humano, personaliza-se um pouco mais a si próprio.

Educar a sexualidade

É pena que muitos limitem a educação sexual à informação sobre o funcionamento da fisiologia ou da higiene da sexualidade. São coisas inquestionavelmente necessárias, mas não são as mais importantes e, acima de tudo, são coisas que hoje quase todos já sabem de sobra.

Em contrapartida, o autodomínio do apetite sexual e, por conseguinte, da imaginação, do desejo, do olhar, é uma parte fundamental da educação da sexualidade a que poucos dão a importância devida.

- E por que razão lhe você dá tanta importância?

Se não se conseguir essa educação dos impulsos, a sexualidade, como qualquer outro apetite corporal, atuará a nível simplesmente biológico, e então será facilmente presa do egoísmo típico de uma apetência corporal não educada. A sexualidade expressar-se-á de forma parecida a como bebe e come ou se expressa uma pessoa que quase não recebeu educação.

Necessitamos de um olhar e de uma imaginação treinados para considerarmos as pessoas enquanto tais e não como objetos de apetite sexual. Por isso, quando na infância ou na adolescência se introduzem as pessoas num ambiente de freqüente incitação sexual, comete-se um grave dano contra a afetividade dessas pessoas, um atentado contra a sua inocência e a sua boa fé.

- Não exageras um pouco?

Ainda que pareça demasiado forte, penso que não exagero, porque tudo isso tem algo de atentado contra um inocente. Romper nesses rapazes e raparigas o vínculo entre sexo e amor é uma forma perversa de quebrantar a sua honestidade e a sua sensatez, tão necessárias nessa etapa da vida. Os primeiros movimentos e inclinações sexuais, quando ainda não estão corrompidos, têm uma mescla de entusiasmo, de amor puro, de juventude.
Irromper neles com a mão grosseira da sobre-excitação sexual danifica torpemente a relação entre rapazes e raparigas. Nas palavras de Jordi Serra, "não se maltratam atando-os com uma corda, mas escravizam-se submergindo-os num mundo irreal".

Como escreveu Tihamer Toth, a castidade é a pedra de toque da educação da juventude. Pela intensidade e veemência do instinto sexual, esta virtude é das que melhor manifestam o esforço pessoal contra o vício. Talvez por isso a história seja testemunha de que o respeito à mulher sempre tenha sido um índice muito revelador da cultura e da saúde espiritual de um povo.

Autodomínio sobre a imaginação e os desejos

Tal como o uso inadequado do álcool conduz ao alcoolismo, o uso inadequado do sexo provoca também uma dependência e uma sobre-excitação habitual que reduz a capacidade de amar. E, de maneira semelhante, tal como o paladar se pode estragar pelo excesso de sabores fortes ou picantes, também o gosto sexual estragado pelo erótico se torna cada vez mais insensível, mais ofuscado para perceber a beleza, menos capaz de sentimentos nobres e mais ávido de sensações artificiais que com facilidade conduzem a desvios estranhos ou a aborrecimentos máximos. Alimentar o instinto sexual em demasia leva a um funcionamento anárquico da imaginação e dos desejos.

Quando uma pessoa adquire o hábito de se deixar arrastar pelos olhos, ou pelas suas fantasias sexuais, a sua mente tenderá a uma carga de erotismo que disparará os seus instintos e lhe dificultará conduzir a bom porto a sua capacidade de amar.

- E não haverá outra solução senão reprimir-se?

Penso que não é uma questão de reprimir-se, mas antes de direcionar bem os sentimentos. Basta que a vontade se oponha e se distancie dos estímulos que resultam negativos para a própria afetividade. É preciso travar os arranques inoportunos da imaginação e do desejo, para assim ir educando essas potências, de forma a que sirvam adequadamente a nossa capacidade de amar. Entender isto é decisivo para captar o sentido desse sábio preceito
cristão que diz: não consentirás em pensamentos nem em desejos impuros.

Quem se esforçar nessa linha pouco a pouco aprenderá a conviver com o seu próprio corpo e com o dos outros, e tratá-los-á como merece a dignidade que possuem. Gozará dos frutos de ter adquirido a liberdade de dispor de si e de poder entregar-se ao outro. Viverá com a alegria profunda de quem desfruta de uma espontaneidade madura e profunda, na qual o coração governa os instintos.

[Alfonso Aguiló]

Atração física

O homem de hoje, ainda convive com facetas que por tomarem matizes de semelhança, acabam, por confundi-lo.
Vê-se em meio  a terrenos diversos uns dos outros e alguns guiados pela mídia, outros, por construções atávicas muito arraigadas a si ainda hoje, no presente de nossos dias, acabando por seguir pelo que lhe soa mais fortemente. O Sentir.
Acontece que este Sentir, executa-se por vias diferenciadas, estes os terrenos onde ele se confunde. O SENTIR maior é comandado pela vibração alteada do SENTIMENTO AMOR, o outro sentir, este menor, mas não mais fraco ou sem importância, dá-se pela fieira da SENSAÇÃO.
Sentimento e sensação, quantas vezes já nos pegamos a misturá-los num coquetel embriagante, que nos pode trazer a dor, a amargura, ou a desilusão?
Nos primórdios, o homem, ainda pouco diferindo dos animais, sentia tão somente no terreno das sensações, intelecto ainda primário, agia pelo instinto, não pela moral, tão animalizado ainda estava que este se exprimia mais que os eflúvios do Sentimento.
Foi-se o tempo e em nossos dias, alguns ainda ladeiam na estrada dos instintos e das sensações, não sabendo ainda diagnosticar um e outro. Quantos dormitam nesses campos...
Adultério, desvalorização de si e do companheiro, baixa estima, compulsões variadas nos terrenos da libidinagem, uma perfeita babel se instala em seus pensamentos mais escondidos, assim, passam seus dias privilegiando a carne, enquanto os votos do Sentimento  sublime dignificado pelo Rabi, são esquecidos e não vivenciados.
Não podemos esquecer que a juventude, onde a libido se instala com maior fulgor, é essa escola que pode ensinar, conduzir o aluno da hombridade, para o terreno do Sentimento, ou para campo puramente físico, onde irão predominar a Sensação e o Instinto animal, não o Sentimento.
Assim, a Atração Física, forte elemento no campo da sensação, trás esse apelo tão forte ao jovem de todos os quadrantes do mundo, permanecendo com eles pelos tempos de adulto, se não lhes forem passados no lar, os exemplos que dignificam e demonstram a primazia do Sentimento, que eleva, consagra e fortifica o homem, no caminho da ascensão espiritual.
Muita paz.

[Moura Rêgo]

Amor ou paixão

A ternura de amar, confiar, respeitar, dedicar... nada tem a ver com a paixão que não aceita desculpas e tudo exige, é imediatista e destruidora quando não se observa e coloca em prática o amor sincero.
Quantos de nós damos valor ao companheiro(a) verbalizando o puro sentimento?
Todavia quando o perdemos, percebemos o vazio deixado, e tardiamente arrependemo-nos das palavras não ditas e das ações não praticadas. Lamentamos eternamente a não-verbalização da simples palavra, mas, de extrema força e magnitude: “o amor”.
Quantas brigas, ofensas e toda sorte de negatividades e, nenhum se apresenta ao reconhecimento das faltas petrificando assim um relacionamento que poderia ter sido maravilhoso.
Não reconhecer nossos erros e os momentos difíceis do outro é deixar-se ser norteado pelo orgulho, que, morosamente vai destruindo o prazer e a vontade de ser e de viver de cada um. Assim, partimos iludidamente à procura do “par perfeito” até que o dia-a-dia nos una aos mesmos. Mas os erros e diferenças pessoais aproximam-se e, com o tempo, o par perfeito desmorona, vira pura ilusão.
E assim vamos tropeçando em nossos relacionamentos até que um dia somos chamados a atenção para o entendimento de que, com respeito, compreensão, carinho, calma, atenção... na caminhada de ambos, a felicidade e o prazer vão se exteriorizando.
O reconhecimento do “par perfeito” aos pouco vai se formando através da harmonia e comprometimento da relação, da dedicação, da amizade, da afeição e do companheirismo que um transmite ao outro, tudo isto vai se transformando em amor, em prazer de viver e estar ao lado de quem luta junto, de quem ajuda, sofre junto, do ombro amigo, enfim, do ombro amigo, do parceiro que também erra e perdoa. O amor chegou!
Estar abertos ao diálogo sincero, honesto e carinhoso, olhar para o outro como um ser que se esforça para acertar, assim como nós. Firma-se o amor!
Analisemos nossas atitudes para não nos desviarmos destes caminhos e, assim, desfrutar da alegria de viver junto ao parceiro(a) querido(a), interiorizando a paz e o sentimento de realização. E quando vermos um casal de velhinhos felizes e cúmplices, de mãos dadas atravessando a rua, entendamos que um dia já passaram por todo esse processo. Hoje é amor!
Todos nós somos iguais, amamos e queremos ser amados e a união destas emoções e sentimentos quando equilibrados - é que tornará o casal e a família felizes.
Agindo assim chegaremos ao amor universal e amaremos uns aos outros independentemente de cor, da etnia, do credo... como filhos de Deus que somos.
PRATIQUEMOS O AMOR!

É paixão ou amor?

Há muito pouco tempo os cientistas associaram a feniletilamina (um dos mais simples neurotransmissores conhecidos) com a paixão, pois a mesma já havia sido identificada há aproximadamente um século. Esta é uma molécula natural semelhante a anfetamina e suspeita-se que sua produção no cérebro possa ser desencadeada por eventos tão simples nas situações de flerte (trocas de olhares, por exemplo) e nos momentos de toque e carícias com outro ser humano.

Normalmente o cérebro de uma pessoa apaixonada contém grandes quantidades de feniletilamina, e esta substância pode responder, em grande parte, pelas sensações e modificações fisiológicas que experimentamos quando estamos apaixonados em uma contínua estimulação. Dessa maneira, no início do relacionamento, e aqui me refiro a paixão, há sensação que emerge é a de um perfeito bem-estar. O casal sente necessidade de permanecer junto grande parte do tempo, senão, todo tempo, afinal, precisam ficar juntos para se conhecerem, amarem-se. Nesse período, pouco importa a personalidade de cada um, caem as defesas, o raciocínio temporariamente suprimido para muitas análises no que se refere ao outro se torna oblíquo e viesado, hiperdimensionando suas qualidades e subestimando suas falhas. A sensação pode ser de amor à primeira vista. Um outro dado interessante é que a feniletilamina existe em altos níveis no chocolate, o que fez com que alguns cientistas procurassem dar explicações racionais para esclarecer o porquê as pessoas compram chocolates para suas amadas.

As associações primevas entre a feniletilamina com a paixão tiveram início com uma teoria proposta pelos médicos Donald F. Klein e Michael Lebowitz, do Instituto Psiquiátrico Estadual de Nova Iorque. Há outros neurotransmissores que podem estar envolvidos nos estados relacionados à paixão e seus efeitos. A Dra. Donatella Marazziti, psiquiatra da Universidade de Pisa, acredita que pessoas os apaixonados estejam num quadro semelhante a um Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Inegavelmente, a paixão e o Transtorno obsessivo-compulsivo compartilham diversos aspectos comuns. E isto não é meramente uma teoria sem fundamentos: "ambos estados associam-se a baixos níveis cerebrais de serotonina, uma substância química fabricada pelo corpo que nos ajuda a lidar com situações estressantes". Uma segunda descoberta do trabalho da Dra. Marazziti e não menos importante merece ser mencionada: bebidas alcoólicas também diminuem os níveis de serotonina no cérebro, por exemplo, fornecendo a ilusão de que a pessoa do outro lado da danceteria de onde você se encontra é o grande amor da sua vida. Logo, cuidado com as noitadas e os excessos no consumo de álcool, pois, você pode dormir com o príncipe, ou ainda, com a princesa dos contos de fada e acabar acordando com o cavalo, ou ainda, com a própria bruxa.

A antropóloga da Universidade Rutgers e autora do livro “Anatomia do amor”, Helen Fisher, demonstrou que os sintomas provocados pela paixão, como a euforia, a falta de sono, ou ainda, de apetite estão associados a altos níveis de dopamina e norepinefrina, estimulantes naturais do cérebro.

Outros estudos apontam que os seres humanos são biologicamente programados para se sentir apaixonados entre 18 a 30 meses. Em um levantamento que contou com a ajuda de cinco mil pessoas de 37 culturas diferentes, foi descoberto que a paixão possui um "tempo de vida", tempo longo o suficiente para que o casal se conheça, copule e reproduza. Depois disso, este sentimento evolui para emoções mais brandas, ou ainda, cada componente da díade tem a opção de migrar para um outro relacionamento recomeçando todo o ciclo. Dessa forma, compete ao casal continuar ou não no relacionamento, promovendo-o a um novo estágio, como novos investimentos e novos graus de compromissos. Em caso de permanecerem unidos e voltados um para o outro, se habituarão a manifestações mais brandas de afetividade como o companheirismo e a tolerância. É isso o que concebemos enquanto amor, ao menos, do ponto de vista fisiológico.

Dificilmente, a paixão resiste a mais de dois anos. Pode-se dizer, então, que geralmente estar com o(a) mesmo(a) parceiro(a) por mais de dois anos seja um forte indício do é amor presente cimentando a relação. Tanto a dopamina quanto a feniletilamina estão relacionadas com as endorfinas. E endorfinas viciam. E como todo vício, produz síndrome de abstinência quando somos privados. Todo o sofrimento pelo qual passamos quando levamos um fora do objeto de nossa paixão nada mais é do que síndrome de abstinência.

Entretanto, apesar de todas as pesquisas e descobertas, ainda paira uma sensação de que a evolução, por algum motivo, deu-se no sentido de que surgisse o amor não-associado à procriação, quem advoga esta teoria, fundamentada em muitas de suas pesquisas é a antropóloga Helen Fisher. Calcula-se que isso deva ter acontecido há aproximadamente 10.000 anos e que tenhamos herdado este legado amoroso. Dessa forma, os homens passaram realmente a amar as mulheres, não como mera reprodutoras, e algumas destas passaram a olhar os homens como algo mais além de provedores para o sustente de si mesmas e de suas proles.

Até que se prove o contrário o amor é um aspecto inerente da espécie humana; talvez os animais também sejam capazes de amar, ou pelo menos de se apaixonarem, antropomorficamente falando, mas, não possuam meios para verbalizarem seus afetos. E desde o nascimento, um hormônio secretado pela hipófise e que nas mulheres também estará relacionado à estimulação da lactação e o desencadeamento das contrações uterinas é aquele relacionado com as primeiras formas de apego do ser humano, entre os novos seres viventes e seus cuidadores. Ao longo do tempo estes, transferirão tais vínculos para outros parceiros nos quais investirão seu amor. Assim, novamente reiniciraá todo o processo de produção para novas quantidades do peptídeo oxitocina que regerá, não mais o apego parental, mas, o novo investimento entre parceiros que decididamente permanecerão juntos com laços estáveis de companheirismo. Este hormônio sensivelmente diminuirá os efeitos do estresse do ambiente e também estará relacionado a uma melhoria do sistema imune e conseqüentemente a uma melhor qualidade de vida nos seres humanos que se beneficiarão diretamente e indiretamente do vínculo constituído.

Aparentemente, contrastando-se paixão ao amor, à primeira vista, parece que a paixão leva muitas vantagens devido aos seus arroubos românticos e porque geralmente relacionados o amor aos exemplos cotidianos que conhecemos e que relacionamos a divórcios, separações, infidelidades, dentre outras inúmeras situações. Mas, não nos enganemos. A despeito desses exemplos, eles não se constituem uma amostra representativa da realidade, muitos estudos afirmam que casais que permanecem juntos (por exemplo, em casamentos) estão aparentemente protegidos contra eventos adversos da vida, ou ainda, situações como doença, pobreza, ou a perda de familiares. Acontecimentos esses que provavelmente uma pessoa apaixonada, dada a efemeridade da paixão, provavelmente preferirá não permanecer para dar suporte de qualquer natureza. Neste sentido, os parceiros que se amam acabam atuando como uma equipe em sinergia para o bem em comum. Dessa forma, segundo alguns autores relacionamentos de longo prazo atuam como um recurso social e psicológico que ajudaria as pessoas a resistirem melhor às possíveis perdas e às adversidades.

 

[Thiago de Almeida - Psicólogo]

domingo, 21 de dezembro de 2008

A diferença entre amor e paixão - I

 


    Conheci alguém que tinha vivido, durante dois longos anos, um relacionamento muito turbulento cheio de ciúmes, términos e voltas súbitas. Onde o sofrimento era maior do que a  felicidade. Onde o ciúme imperava. Onde a insegurança era maior do que a certeza. E como não podia ser diferente, a história chegou ao fim. No auge do seu sofrimento ela sentiu que a vida sem ele não tinha tanta graça e
jurou que nunca mais iria amar outra pessoa! 

Foi aí que lhe perguntaram se o que ela sentia por ele era amor de verdade ou uma daquelas paixões avassaladoras que nos deixa sem rumo, sem chão, sem visão, sem identidade e que nos faz passar a gostar mais do outro do de nós mesmos. Ela respondeu, com toda certeza do mundo, que era amor verdadeiro. Aquela resposta não me surpreendeu em nada, pois quem nunca teve um relacionamento como este tão avassalador? Quem nunca cometeu uma loucura por alguém por achar que aquela era pessoa da sua vida? Quem nunca abriu mão do que mais gostava pra viver o que o outro mais gostava? Quem nunca achou que se ele te deixasse, a vida não valeria mais a pena?

Muitas pessoa costumam acreditar que  isto é amor. Mas definitivamente não é. Existe uma grande diferença entre paixão e amor.

   Paixão é euforia, amor é calmaria. Paixão é rápida, amor é duradouro. Paixão é súbita, amor é progressivo. Paixão é agressiva, amor é delicado. Paixão é vendaval, amor é brisa. Paixão destrói, amor constrói. Paixão vinga, amor perdoa. Paixão é doença, amor é saúde. Paixão é dor, amor é alívio. Paixão é dúvida, amor é certeza. Paixão é loucura, amor é cura.

O amor faz a gente querer ser mais, querer aprender mais para poder trocar com quem amamos novas lições de vida. O amor ajuda a superar dificuldades enquanto a paixão cria obstáculos. A paixão é totalmente egocêntrica, passional, escandalosa. O amor é cuidadoso, atencioso e cúmplice. Ele nos faz acreditar que a felicidade não está nas mãos de outra pessoa e sim nas nossas mãos. Que só podemos ser felizes com alguém se conseguirmos ser felizes com nós mesmos.

    O amor é aceitar que o outro tem defeitos, que somos diferentes, mas que podemos conviver com estas diferenças, pois o que atrai duas pessoas é exatamente o que um tem e o outro não. Há quem acredite que é necessário viver cegamente uma paixão já que as pessoas hoje em dia não se permitem mais sofrer. Mas quem disse que quem ama não sofre, não chora, não erra, não sente ciúmes e não se decepciona às vezes?

    Apesar da paixão ter mais contras do que prós em relação ao amor, ainda acho que não há vida sem um pouco de paixão. Portanto, o melhor seria viver a vida apaixonadamente para que possamos ter um amor de verdade!!!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Amor virutal

Tereza e Francisco trocaram e-mails por dois anos. Jamais se conheceram. Os únicos contatos foram através do chat, e-mails e cartões virtuais. Trocaram fotos e as promessas de um encontro real foram adiadas. Tereza, 26 anos, solteira, estava apaixonada. Simpatizou-se com o rapaz quando iniciou o bate papo no chat. Francisco, solteiro, 27 anos, era simpático e escrevia bem. Seus e-mails eram carinhosos e o estilo de escrever muito romântico. No entanto, havia uma barreira natural entre os dois: Tereza morava no Rio Grande do Sul e o Francisco em Recife.

O amor virtual resistiu por dois anos à distancia, mantendo-se apenas com o romantismo dos e-mails e as conversas no  MSN. As promessas de um encontro real jamais foram cumpridas pelo rapaz. Havia sempre uma desculpa: falta de dinheiro,   tempo ou problemas pessoais. Tereza foi mais corajosa. Tomou a iniciativa de sugerir ao namorado virtual uma viagem até Recife para conhecê-lo. Francisco desconversou. Assim, aos poucos, os e-mails rarearam  e a conexão de amor do casal  caiu de vez.

Tereza sofreu um pouco, mas se conformou. Ficou muito desiludida  com os amores virtuais e parou de entrar nos chats. Perdeu de vez o contato com Francisco e jamais soube o verdadeiro motivo pelo qual evitava conhece-la pessoalmente.

  Alguns casais virtuais têm mais sorte. A paixão virtual se fortalece após o contato real e, às vezes, pode acabar em  compromisso sério ou casamento. No entanto, nem sempre isto acontece.


O microcomputador pode ser um grande aliado na aproximação das pessoas. A máquina encurta distancias e facilita os contatos, mas é uma faca de dois gumes. No entanto, através da letra, do bate papo ou do ICQ não há nada que possa confirmar a veracidade das palavras ou sentimentos. Pode ser até arriscado procurar um namorado virtual. Nunca se sabe o caráter da pessoa e sua verdadeira intenção quando está teclando num  chat.

Mesmo na vida real, podemos nos enganar com relação ao caráter das pessoas. Acontece que, no dia a dia, num barzinho ou mesmo com amigos, estamos vendo a pessoa, olho no olho. No primeiro momento, a visão é a primeira aliada na paquera. Você vê o rapaz ou a moça e a acha bonita ou atraente. Se estiver próximo(a) a ele(a) poderá gostar do seu perfume. Neste contexto, entra a audição, como uma forma de elo; você gosta da voz da pessoa. Depois, vem a conversa. Através desta conversa, despertam as afinidades e as semelhanças.

João gosta de música, Beth também. Elisa tem olhos azuis e Mário gosta de mulheres claras de olhos azuis. Pedro adora cães e Maria também. Ou então o contrário: Luciana achou Beto um rapaz muito bonito, mas ele não sabe conversar. Ângela começou a namorar Chico, mas ele é muito ciumento. Não deu certo.

O Amor  virtual tem nuances diferentes. As pessoas se aproximam por causa das afinidades. Gostam do jeito de escrever da outra, percebem que têm os mesmos gostos. Depois, vem  os estímulos visuais, através da troca de  fotos. Seguem  os  telefonemas e  talvez,  os encontros. Daí, pode acontecer um grande amor ou um grande desastre!

  Paula teclou um mês com um homem romântico  e educado. Marcaram um encontro no shopping de sua cidade. Não haviam trocado fotos ainda. Ela gostou dele à primeira vista. Ele não! O primeiro encontro foi um fracasso! O homem tratou-a secamente. Ficou  decepcionado! Apesar de Paula ter sido sincera, quando descreveu seu tipo físico, ele não se sentiu atraído por ela no encontro real.  O homem "romântico e educado" nunca mais apareceu no MSN, lugar marcado para os encontros virtuais.

  Sílvia conheceu um homem separado num  chat de internet. Com o desenrolar da conversa, descobriram que moravam no mesmo bairro. Marcaram um encontro e, hoje, mantém um compromisso sério. Através do contato real, Sílvia pôde se certificar onde morava o rapaz, seu trabalho e até o estado civil. Ficou mais tranquila e, através do namoro real, estão se conhecendo melhor.

Se você gosta de conhecer pessoas através da Internet, tome certas precauções. Procure observar a pessoa com a qual está teclando. Escolha um bate papo e observe. Faça muitas amizades . Volte sempre ao mesmo bate papo. Assim, você ficará familiarizada com as pessoas. Pode se informar sobre um flerte ou uma paquera. As mentiras se espalham nos chats. Homens casados se transformam em  conquistadores para viverem suas fantasias virtuais. E nem sempre contam sobre seu estado civil. 'As vezes, um rapaz gentil , tímido e  solitário, pode ser um marido frustrado. Através do computador, podemos ser o que desejamos e viver muitas fantasias . Uma mulher solitária- uma mulher sensual; um rapaz tímido- um homem sedutor. Se a pessoa sabe o que deseja, a Internet lhe dá passe livre para agir como quiser. No entanto, tome cuidado, porque "o feitiço pode virar contra o feiticeiro." Usar a  internet para mascarar problemas sérios ou frustrações afetivas, através de mentiras e enganos, pode ser perigoso.

Não há limites para o mundo virtual. Você pode ser o que você quiser. Através dos nicks escolhe a vida virtual que deseja para si. Sai da rotina do dia a dia ou de um  casamento frustrado para um mundo cheio de fantasias e ilusões. 'As vezes, o dia a dia em casa é chato... puro tédio. Então, o que fazemos? Entramos em nosso quarto, deixamos a esposa ou esposo no sofá vendo TV e vamos para o mundo da fantasia. Lutar por uma dia a dia proveitoso é difícil. O retorno virtual é mais imediato. Num bate papo, podemos conseguir um amor e até Sexo. Sexo virtual ou até mesmo real.

   Se você  souber o que deseja da Internet, poderá estar mais fortalecido(a). Sonhe, fantasie, mas tenha cuidado para não se machucar ou machucar as pessoas. Seja sempre sincero(a) consigo mesmo. A mentira tem pernas curtas e, você poderá até ameaçar seu casamento ou relacionamento, com as fantasias de um amor virtual. Um relacionamento tem que estar bom para os dois. Alguns casais se dão muito bem vivendo um amor virtual platônico ou secreto. Liberam suas fantasias e assim está bom para eles. No entanto, o que é bom para uma pessoa nem sempre é bom para a outra.

Nada substitui a vida real, o "olho no olho", o toque das mãos, o contato da pele do ser amado. Se você acha que seu amor virtual.. está demorando muito para se tornar real, fique esperto(a)! Pode ser que haja uma mentira por aí... ou então, seu flerte queira apenas um amor platônico. Amor platônico não se compromete e vive apenas de e-mails e cartões virtuais.

O Amor verdadeiro se compromete, é sincero... e muito real. Pode até começar no Micro computador, mas entra na sua vida real, entra no seu mundo. O amor real tem endereço, casa, telefone.. e não vive de mistérios ou mentiras.

Vá com calma! Acredite nas pessoas, acredite no Amor, mas tenha bom senso!

Quando for marcar um primeiro encontro real com seu amor virtual, escolha um local público. Através do diálogo, seja sempre sincero(a) e procure conhecer melhor a pessoa.

O Amor entra no destino da pessoa no momento certo. Pode ser na rua, numa lanchonete, num chat virtual, num cinema ou até numa danceteria.

Seja sempre você mesmo(a) e lute pelo que você quer. Não faça  aos outros o que você não deseja para si!

Lembre-se! O Mundo virtual é feito de pessoas de carne e osso! Um dia, o que é falso e ilusório, cai por terra!

  Seja feliz!

  * Os nomes mencionados são fictícios.

Sandra Cecília

SOFRER POR AMOR FAZ MAL A SAÚDE

A tristeza causada pela perda de um grande amor pode fazer mal a nossa saúde, física e emocional entretanto mesmo nesses momentos
difíceis temos que ter certeza que a amargura que sentimos é
manifestação da vida e trabalharmos no sentido de obter o equilibrio
físico e emocional.
Os níveis de estresse e cansaço acompanhado de mal estar devido as
noites de insonia aumentam consideravelmente podendo afetar o coração.
Segundo um estudo realizado pelo Hospital John Hopkins,EUA, os
indivíduos que sofrem problemas amorosos podem ter dor no peito, aperto no coração, semelhantes a um ataque cardíaco.Esses sintomas têm o nome de "Síndrome do Desgoto Amoroso".

Para que o coração continue saudável, é necessário reagir a desilusão amorosa, fazendo exercícios de relaxamento, como respirar fundo várias vezes ao dia e até mesmo praticar meditação.
Não tenha medo de demonstrar fraqueza, chorando e dividindo com alguém de absoluta confiança o motivo de seu sofrimento. Não fique trancado dentro de casa, encontre-se com amigos e tente se distrair, mesmo que possa parecer impossível.
Não se descuide da aparencia física jamais, tenha sempre a certeza de que o problema atual é apenas uma fase transitoria.
Se por acaso não quiser dividir com ninguém o problema, escreva em um papel qualquer suas mágoas, ou seja faça um desabafo, tendo o cuidado de que ninguem leia e e seguida rasgue em pequenos pedaços que sejam impossíveis de serem lidos e jogue no lixo. Esse ato simbólico age no subconsciente fazendo uma purificação mental.

Quando o amor faz mal

A novela Mulheres Apaixonadas, que atualmente a TV Globo reprisa no Vale a Pena Ver de Novo, mostra a história de Heloísa (Giulia Gam), uma mulher bem-sucedida que pára sua vida ao perder o controle do amor que sente pelo marido, Sérgio (Marcello Antony), e passa seus dias tentando retomar um casamento sufocado pelo ciúme e pela desconfiança. Para abandonar o “vício” no marido, Heloísa procura o grupo Mulheres que Amam Demais Anôminas (Mada), que dá apoio a mulheres que sofrem do mesmo mal. Foi justamente pela novela que a jornalista Marília Gabriela conheceu o Mada e foi lá que ela encontrou as personagens, desta vez bem reais, para seu livro Eu que Amo Tanto, recém-lançado pela editora Rocco.
Marília colheu o relato de 13 mulheres e depois interpretou as histórias delas.“Criei a imagem literária delas, mas fiz questão de manter a personalidade de cada uma”, conta a ÉPOCA. O livro ainda conta com as fotos do catalão Jordi Burch, amigo da escritora, que leu as histórias e traduziu em imagens os dramas dessas mulheres, usando elas mesmas como modelos, mas preservando sua identidade.
A jornalista convive com essas mulheres há quase um ano. As entrevistas foram feitas durantes os finais de semanas, na casa de Marília. Além disso, quando estava no Rio de Janeiro gravando suas cenas na novela Duas Caras, ela fazia questão de ligar para suas “entrevistadas”. “Perguntava para elas como estava a vida, deixava elas chorarem suas pitangas. Muito enxerida, dava meus palpites e pedia para que elas não desistissem de mim." Foi aí que nasceu a cumplicidade. “Foi muito confortável. Elas acharam até que o processo foi terapêutico”.
No livro, há a história de uma mulher que, depois de anos de casamento e com uma filha adolescente, decidiu trocar o marido por uma mulher. Acabou adquirindo um ciúme doentio da nova companheira, a ponto de lhe dar uma surra por desconfiar que ela matinha contato com uma ex. Em outro caso, uma mulher conta que chegou a ligar 78 vezes para o namorado em um único dia.

ÉPOCA - Por que você quis conhecer o universo das mulheres que amam demais?
Marília Gabriela -
O assunto amor sempre foi meu foco de interesse. Sempre. Sou fascinada mesmo. Há mais de vinte anos eu leio a respeito de amores e relações afetivas, sempre discuti o assunto com analistas para tentar entender o mecanismo entre homens e mulheres. Quando surgiu a oportunidade de trabalhar junto com o Jordi Burch, de fazer um livro com fotografias, logo pensei nas mulheres que amam demais. Por sua vez, o Jordi também sugeriu o tema amor.
ÉPOCA - Você é famosa, tem uma imagem de uma mulher forte, bem-sucedida. Isso ajudou na sua aproximação com essas mulheres?
Marília - Eu tenho uma técnica de entrevista que adquiri ao longe da carreira. Isso, claro, facilita na aproximação. Mas havia também o meu interesse franco e genuíno em ouvir o que essas mulheres falam. Porém, quando fui à primeira reunião, senti que elas se calaram. Teve uma que até saiu da sala. Percebi que era por minha causa e falei que não estava lá profissionalmente, pelo menos naquele momento, e que também era mulher, que tinha minhas mazelas e que gostaria muito de ficar e ouvir as histórias delas. Depois, disse para elas que havia ficado muito impressionada e que elas estavam passando realmente por um grande sofrimento. No final da reunião, propus que elas, uma por uma, fossem a minha casa, me contar a história delas e que eu ofereceria em troca daquele momento de horror, um momento de beleza que seria um livro baseado nas experiências dela, sem qualquer sombra de julgamento, e uma exposição de fotos feitas pelo Jordi Burch.
ÉPOCA - Você se identificou com alguma história?
Marília -
Claro. Existem as escolhas que passam, invariavelmente, pela infância e pela relação com os pais. Enquanto conversava com elas, percebi algumas coisas que passei pela vida e que não conseguia ver com muita clareza. Percebi também por onde passa o ciúme. Vi que tem momentos que a gente tem vontade mesmo de fazer um escândalo, expor certas situações, mas a gente não faz, mas elas optaram por fazer. Essas mulheres são como todas nós. Tem a jornalista, a auxiliar de limpeza, a modelo, a professora. São mulheres possíveis. A gente passa por elas todos os dias. Elas vivem esse drama, mas a gente não as ouve, não as vê. Queria que elas tivessem um momento de atenção.
ÉPOCA - Você conseguiu identificar quando o amor passa a ser uma patologia?
Marília -
Tenho a impressão de que a coisa avança para a patologia quando as mulheres sentem que perderam o controle do outro. Aí é que se dá o rompimento. Quando elas não conseguem ter a pessoa, ter no sentido total, de dominar, de saber onde está o tempo todo, o que a pessoa está fazendo,enfim, quando não conseguem dominar o amor do parceiro.

Jordi Burch

ÉPOCA - E isso é o que move a vida delas...
Marília -
Sim. Pura falta de auto-estima. É uma dependência do outro para existir. Elas só se enxergam em casal. Uma delas me perguntou: ‘você consegue ficar sozinha?’. Eu respondi ‘claro, e você também consegue!’. Quando você está bem, está acompanhada, mesmo sozinha. Você desenvolve trabalhos, projetos, aumenta sua auto-estima. E, aí sim, você se prepara para receber alguém na sua vida.
ÉPOCA - No livro, parece que algumas mulheres sentem um certo “orgulho” em amar demais...
Marília - Pode ser que uma ou outra sinta esse orgulho, mas elas sabem que isso é um equívoco. São mulheres que buscam a ajuda de um grupo de apoio para superar algo ruim, que elas mesmas se sentem incomodadas. Algumas levaram um susto ao pegarem o livro e verem a interpretação que eu dei para as histórias delas. Mas, no posfácio, escrevi que esperava que elas estendessem as cores com as quais eu pintei os relatos delas.
ÉPOCA - Você acha que os companheiros também são culpados ou colaboram para que essas mulheres tenham esse comportamento obsessivo?
Marília -
Sim. O problema é o casal. É muito fácil você desaparecer. Você colocar um ponto final no romance. Mas essas são histórias que duram muito tempo. Existe uma co-dependência aí. Tem casos no livro em que os homens arrumam outras mulheres, mas continuam na manutenção desses relacionamentos possessivos. Só que tem uma coisa: a mulher fala, se expõe, busca ajuda. Já os homens têm uma trava. Não falam de afetividade. Eu gostaria muito de, em um próximo trabalho, encarar esses homens que, ou amam demais, ou se permitem ser amados demais.
ÉPOCA - E você? É ciumenta?
Marília -
Eu já fui ciumenta em algumas situações. Mas, quando eu estou com uma pessoa bem resolvida, que me dá segurança, eu não sou. O ciúme vem de insegurança, da desconfiança. Eu tive casamentos com homens que foram muito honestos comigo. Foram relações bem resolvidas e por isso duraram muito tempo. Tive um ou outro namoro em que houve jogos de insegurança, que me geraram sentimentos péssimos, como o ciúme, que eu acho algo humilhante.
ÉPOCA - Você esteve segura mesmo quando foi casada com o Reynaldo Gianecchini, um dos homens mais desejados do Brasil?
Marília -
Sim, totalmente segura. O "Giane" foi de uma honestidade, de um amor tão claro e profundo...A gente se protegia tanto! Isso são palavras dele mesmo. Ele me diz que olha para trás e vê que a gente se protegia um ao outro. Com ele tive uma relação perfeita do início ao fim.

Entre uma decepção de outra...

Entre uma decepção e outra, que tal uma pausa para aprender?
Se insistirmos em não aceitar, em brigar, em nos rebelar, em nos revoltar... conseguiremos tão somente mais dor... e menos amor

Tem época na vida da gente que parece que os encontros 'amorosos' são mais uma provocação do que uma oportunidade de se sentir satisfeito e feliz. Assim, vamos contabilizando decepções e desacreditando na possibilidade de viver uma experiência positiva e motivadora.

Quando isso acontece, creio que o melhor seja parar. Uma pausa para aprender. Ou melhor, antes apreender. Perceber o que está acontecendo, quais são nossos verdadeiros desejos e quais têm sido nossas atitudes para torná-los concretos.

Muitas vezes, fazendo uma análise mais justa e desapegada, sem assumir nenhum papel, nem o de vítima das armadilhas da vida, nem da sacanagem dos outros e nem o de culpado, como se tudo o que fizéssemos estivesse definitivamente errado, terminamos descobrindo que há alguma incoerência nisso tudo.

Só que para isso precisamos de tempo e, principalmente, de coragem para admitir limitações, assumir pensamentos negativos e confiar mais na sabedoria da vida e seu ritmo. O que acontece, no entanto, é que a maioria de nós não quer esperar, não quer refletir. Tem apenas um único pensamento que alimentamos o tempo todo: quero namorar, quero ter alguém!!!

Será que estar com alguém é o mesmo que estar feliz? Pode ser que sim, mas pode ser que não. E se por qualquer motivo você não tem ficado com quem deseja, talvez seja o momento ideal para um intervalo, tão útil entre uma decepção e outra.

Tempo de se observar, de observar as pessoas e ouvir o que elas dizem. Tempo de aprender, crescer, ter uma nova conduta, desenvolver uma nova postura. Aguardar até que a vida lhe mostre qual é o melhor caminho a seguir. Mas para ver, você precisa estar atento, sem tanta ansiedade e tanto desespero para tentar fazer com que as coisas aconteçam do jeito e na hora que você quer...

E se nenhuma resposta vier, talvez signifique que você precisa ver e ouvir com o coração. Respeitar o silêncio. Aceitar a ausência de quem você tanto deseja encontrar. Talvez não haja uma resposta e nem haja uma explicação.

Às vezes, simplesmente não existem respostas nem explicação. Apenas a vida. Apenas as pessoas. Apenas o mundo. Apenas a dor e o amor. Apenas...

E se insistirmos em não aceitar, em brigar, em nos rebelar, em nos revoltar... conseguiremos tão somente mais dor... e menos amor. Aceite que você não tem o controle, que você não pode decidir sozinho, que o universo tem seu próprio ritmo. Faça o que está ao seu alcance; faça a sua parte... e bem feito; da melhor maneira que puder...

E o que não puder, entregue e espere... porque embora diga sabiamente a música “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, tem ocasiões nesta vida em que quem sabe espera acontecer e respeita a hora de não fazer. Até que um dia, o amor de repente acontece... porque seu coração estava exatamente onde deveria estar para ser encontrado!

Decepção

Porque nos decepcionamos com uma pessoa, com um acontecimento, com uma situação, com a vida?

A decepção é um sentimento tão frustante, talvez seja das sensações que mais me entristece, me deita abaixo, me impede de continuar, me bloqeia.

Será que criamos expectativas altas demais? Ou será que as expectativas eram normais, próprias e adequadas, mas a decepção teimosamente nos bate à porta?

Será um problema de ansiedade, de querermos que tanto se realize, que tanto aconteça?

Será que somos exigentes demais, e exigimos dos outros, coisas que nem nós próprios sabemos fazer?

Será que uns são mais atreitos a decepções que outros?

Será que uns, nem percebem a decepção não lhe dando a importância que outros lhe dão?

Será que as decepções só acontecem aos emotivos? Aos frágeis? Aos corajosos? Aos exagerados? Aos idiotas?

E acordar depois de uma decepção?

Acordar para a Vida, acordar para o Dia, pôr os pés fora da cama, levantar o corpo, calçar qualquer coisa para começar a pisar o chão, a terra, olharmo-nos no espelho, olhar uns olhos decepcionados,….

E depois, muitas vezes voltar ao mesmo sítio, ao mesmo local, ver a mesma pessoa, ter de falar com essa pessoa, voltar e reencontar o mesmo ambiente, o mesmo cenário…..

Reagir…. Como se faz para Re Agir? Reagir é voltar a agir! Para voltar a agir, é preciso ter vontade de agir. E o mundo que nos rodeia, exigente, que não tolera a insatisfação, não tolera tristezas, que como uma criança mimada, quer-nos Lindos, Contentes, Sorrizinhos, Arranjados, Elegantes, Perfeitos, e todos nos pedem, “Vá reage, faz qualquer coisa, tens de melhorar! Lá estás tu com o teu péssimismo!…”. E para culminar, lá dizem a frase: “Não percebo, porque ficas assim, não é caso para isso!”. E nós, envolvidos num manto negro de tristeza, de amargos na boca, de nós no estomâgo, de dedos das mãos frios, de joelhos ligeiramente a quebrar, ficamos perplexos a olhar para aquela gente que nos diz “Que não é nada!”. Não é nada???! Mas não percebem, que para nós É TUDO!Que houve uma derrocada de terras, por cima da nossa boca, que houve uma inundação de líquidos salgados, que nos deixou molhados de suores frios, que o nosso coração saltou, mexeu-se, como se de um sismo se tratasse e nos deixou com taquicárdia, que houve um corte a meio dos nossos pulmões, e os pôs a trabalhar em limites mínimos, que sentimos o sangue a parar nas veias e que fomos invadidos por um vento frio e quente, que levantou todas as areias no ar que nos sufocam e nos cegam? Pois, não vêem isto?Faltam as lágrimas? Ah, as lágrimas, as piegas lágrimas, que comovem os outros….. Mas olhem, os decepcionados não choram por fora, choram por dentro! Choram, choram, choram, até ficar secos, como um solo africano, seco, ressequido, morto….

Deixem-nos enterrar uma decepção, como se de um corpo morto se tratasse, deixem-nos enviuvar, chorar aquilo que nunca acontecerá, que nunca iremos possuir, deixem-nos cair no chão (não nos levantem, por favor!), de pernas e braços abertos deixem-nos gritar, gritar muito para que saiam os espíritos malígnos que nos envenenam, deixem-nos enlouquecer, perder o juízo, falar sózinhos, deixem-nos sair para a rua de robe e chinelos como um velho senil, deixem-nos estar sós, desgrenhados e sem comer, deixem-nos fugir (não vão à nossa procura, por favor!) e se quisermos deixem-nos morrer.

Decepções do amor

Tudo estava bem, tudo estava maravilhoso, tudo era lindo e perfeito, havia inveja, havia comentários  quando eles passavam, admiravam quando os olhavam.

Quando estavam juntos parecia uma magia. Os enamorados comentavam entre eles que viam algo  semelhante em somente em novelas. Quando juntos, em uma praça, veio uma brisa maravilhosa, passava entre e sobre eles, como um bálsamo enquanto se beijavam.

A missão do apaixonado era amar, como nunca ninguém amou sua amada. A missão era fazê-la feliz e custasse o que pudesse custar. Torná-la segura como ninguém nunca a fez. Ele tinha que prometer e fazê-la acreditar que seria seu para sempre e nunca a abandonaria.

Era difícil, pois palavras são somente palavras e ele tinha que provar com gestos e atitudes os seus sentimentos  Sua missão era difícil, mas sua mente e seu coração não o achavam.

Tornava-se fácil, pois ao levantar ao andar, ao trabalhar, ao conversar ou a fazer qualquer coisa ele pensava nela. Era como se estivesse gravado, em uma marca indelével que não o permitia esquecê-la por ao menos um segundo.

A todo o momento, em qualquer lugar e em qualquer situação, seu sub-consciente estava lembrando de seus olhos brilhantes e alegres, do seu sorriso lindo e consolador, do seu andar simples que exalava beleza e magnitude, da sua voz sincera e às vezes temerosa. O amor aumentava a cada dia, apressadamente rompia limites, sem parar, não havia medida.

E então ele ficava contente, sabendo que sua missão estava sendo cumprida. E o que ele mais temia, de toda a sua alma, era decepcioná-la, vê-la sofrer. Ele não suportava sua tristeza ou sofrimento.

Os lindos e puros olhos de sua amada, quando estavam felizes o fortaleciam e o levavam a satisfação plena, como se ele tivesse toda a riqueza do mundo. Quando choravam, pelo contrário, era como se ele estivesse em desespero desejando alterar as circunstâncias em um segundo, para naquele instante fazer a tristeza cessar.

Seu orgulho de ser feliz, sua satisfação em andar de mãos dadas diante de todos que o conheciam, com sua tola segurança e certeza de algo que jamais o homem poderia ter o domínio.

O que passa no coração de outra pessoa.

A lembrança é uma tirana cruel e sem piedade. Não se importa em provocar dor e sofrimento. Não se importa em retirar as forças e sugar o ânimo. Ela vem a todo o momento e o faz associar tudo ao que hoje não mais o pertence.

É como se ela viesse e tivesse prazer em dizer: Veja o que teve e não tem mais. Veja o tesouro que amou, viveu e exibiu a todos com orgulho. Nunca mais você o terá. Junto com a lembrança vem a saudade. De igual modo cruel, não o libertam do sofrimento. Não o deixam esquecer que nunca mais terá a sua amada e que só restará a incerteza do que aconteceu, como e porquê. Já que de tão repentina, nada justifica, nada é crível e nunca, nunca ele saberá a verdade. Pois o ser humano a sabe esconder e isso ninguém tem poder de descobrir.

Como na morte de um ente querido, que em um dia está saudável e feliz e no outro se foi para sempre, gerando desespero, incompreensão e angústia, veio a decepção e tragédia do amor.

Quando mais acreditou, mais a decepção o faz sofrer. Quanto mais amou, mais ela está sendo forte, quanto mais ele traçou planos mais ela o tortura.

Lembranças que em outras circunstâncias seriam boas lembranças, mas hoje furta seu sono. As noites juntos, os almoços rindo e se divertindo, a praça e as ruas que contemplavam a sua passageira felicidade. A madruga que o acolhia nos braços de seu amor. A segurança de acordar e ver a sua linda mulher. Hoje ele acorda querendo a ver. Acorda assustado achando que foi um pesadelo mas não o é. Era melhor não dormir.

O poço que furta o sono, que subtrai a fome, que retira o sorriso ensina muitas coisas.

Nesse momento, aprende-se a valorizar tudo aquilo que nunca teve valor reconhecido.

Deitar e poder dormir, olhar para a refeição e conseguir digeri-la, ver os amigos e dizer:Está tudo bem!

Todas essas coisas que foram possíveis, por não mais ser, passaram a ter um valor prioritário, passaram a serem almejadas.

Entregar o coração nas mãos de alguém é como doar um cheque em branco, a confiabilidade e certeza dão coragem, mas posteriormente podem cobrar muito caro pelo compromisso desfeito.

O corpo sofre as influências da desilusão A fraqueza influencia, atrapalha e compromete todas as esferas de sua vida. O trabalho, os estudos e a convivência são seriamente prejudicados.
Amar alguém e ser amado; eis o desejo que muitos tem e raramente alguns conseguem. Quem o consegue tem um prêmio. Quem o adquiriu não o deve perder.

Todos dizem: Isso vai passar. Nada como um dia após o outro. Verdadeiramente. O que se lamenta não é dúvida de que a dor passará, isso se espera. Na verdade, é a profunda angústia que assola quem muito amou e entregou a sua vida para uma situação tão deplorável e traumatizante.

Falando-se em traumas; é isso que a vida ensina. Ter medo de sofrer novamente; ter medo de amar novamente; medo de confiar e acreditar de novo.

Mas não se deve temer. Deve-se acreditar que a vida não pode ser tão cruel. Que o ser humano não pode ser tão volúvel e instável. Pelo menos não todos.

A esperança deve fortalecer. A fé na felicidade deve o levantar. A expectativa de um dia ser feliz, deve sobressair ao sentimento de engano, de mentira e de sentir-se iludido.

Embora lamente, ele deve pensar como pensou o magnífico Oscar Wilde:

"Lamentar as experiências vividas é uma forma de impedir o próprio desenvolvimento."

Ciúmes

Um pensamento que ecoa pelo cotidiano é aquele em que se diz que tudo o que é bom dura pouco. Será mesmo verídica a necessidade de se passar à vida toda temendo o fim de um grande amor? Ou que para encontrar e viver um amor de verdade precisamos ser dotados de sorte ou de algum tipo de poder mágico de encantamento? E se perdermos a amada pessoa que nos é tão cara, de modo que ela passe a se interessar por alguma outra pessoa que nos substituirá no mesmo papel que anteriormente representávamos para a vida dela? Ou talvez, precisamos aceitar a idéia de que o amor não é para todos? Por que o ‘eu te amo’ de ontem não vale para hoje? Porque é necessário renovar o amor constantemente em busca de se checar se uma situação de contínuo enamoramento. Claro, porque se teme tal encontro, em potencial, com parceiros mais atraentes e gratificantes, alimenta-se amiúde a insegurança. Conseqüentemente, por se encarar os relacionamentos como empreitadas de alto risco e talvez com não tão significativos benefícios, vive-se em busca de se tirar o melhor de cada um, a cada momento, numa dinâmica contraproducente à qualidade de qualquer relacionamento. Promessas de amor eterno, acordos pré-nupciais entre noivos que prevêem futuras rupturas e abandonos, palavras cada vez de menor valia e afirmativas cada vez rigorosamente mais supervisionadas a fim de serem cumpridas. Estas e muitas outras ruminações mentais a respeito do amor e seus relacionamentos interpessoais afastam mais e mais as pessoas umas das outras, ao invés de as encaminharem para serem felizes juntas e unidas por um mesmo ideal.
Dessa forma, o ciúme não somente é um dos mais importantes temas que envolvem os relacionamentos humanos, bem como um desafio para muitos destes. Uma grande dificuldade ao se estudar o fenômeno do ciúme é o fato de que para muitos ainda, ciúme é uma manifestação de afeto, de zelo ou até de amor que uma pessoa sente por outra. Talvez isto seja mesmo verdade em algumas situações, e provavelmente não em muitas outras. E quem ama mata? Provavelmente não, mas quem sente ciúme sim. E esta morte, embora seja algumas vezes cruelmente real, no íntimo das pessoas ela ocorre de forma bem mais sutil e velada. São as inúmeras mortes imaginárias, que ocorrem por meio de mecanismos não perceptíveis à consciência e que sem as pessoas se darem conta, as afasta mais do que as aproximam. E que esferas cognitivas estão implícitas ao se analisar o ciúme romântico e a infidelidade?
Então, para se entender o que se subjaz ao ciúme em relação ao passado, e em compasso com o conhecimento produzido ao longo do tempo, percebemos que as concepções e entendimentos sobre o ciúme foram e ainda são diversos. Desta forma, resgatar os pressupostos sobre os quais se fundamentam algumas das nossas concepções atuais se faz necessário a fim de que relativizemos nossos referenciais etnocêntricos e também tenhamos uma melhor compreensão da dinâmica afetiva em outras situações anteriores a nossa.
Aristóteles, no século IV a.C., concebia o ciúme como o desejo de se ter o que uma outra pessoa possui. Era originariamente uma palavra boa e referia-se ao desejo de imitar uma coisa nobre da outra pessoa.Nesta acepção, o filósofo pensava o ciúme em termos de uma nobre ‘inveja’. Alguns séculos depois, Santo Agostinho, no século IV, ainda fundamentado no legado bíblico do rei Salomão que no século X a.C. advertia em seu salmo 109: “O amor é forte como a morte, o ciúme é cruel como o túmulo”, concebia o ciúme como algo desfavorável à boa vivência do amor. Treze séculos depois, portanto no séc XVII, o autor de epigramas, escritor clássico e moralista francês François de la Rochefoucauld reconhecia no ciúme uma tendência egocêntrica ao dizer: "No ciúme, há mais amor-próprio do que amor". O autor ainda identificava o amor como substrato para a gênese do ciúme: "O ciúme nasce sempre com o amor, mas nem sempre morre com ele". E enquanto no século XIX, na Alemanha, o ciúme, na pessoa de Freud, era concebido como um estado emocional Freud (1922/1976), em Paris, por Stendhal tinha uma conotação negativa e estava atrelado à vaidade: “O que torna a dor do ciúme tão aguda é que a vaidade não pode ajudar-nos a suportá-la”.
Ainda segundo Stendhal, o ciúme (leia-se: o romântico), é o maior de todos os males, seja ou não verdadeira esta afirmação, a experiência do ciúme é comum nos relacionamentos amorosos. Ele é reconhecido como um complexo de emoções provocado pela percepção de uma ameaça a um relacionamento diádico e exclusivo. Faz-se tal observação tendo em vista que há diferentes tipos de ciúme, e estes, que podem surgir nos mais diversos contextos interpessoais, embora seja comumente associado com os relacionamentos amorosos.
O ciúme, enquanto conceito tem uma dimensão pluralística, no sentido que admite a coexistência de vários princípios na tentativa de explicá-lo. Então, uma definição ainda que meramente descritiva na tentativa de se operacionalizar o conceito, torna-se praticamente inviabilizada.
Assim, dentre as mais variadas definições, uma das mais aceitas, para o contexto científico, é a de que ele é um:
Complexo de pensamentos, sentimentos e ações que se seguem de ameaças para a existência ou a qualidade de um relacionamento, enquanto estas ameaças são geradas pela percepção de uma real ou potencial atração entre um parceiro e um (talvez imaginário) rival (White, 1981, p. 130).
Subsidiados por tal definição pode-se discutir o ciúme romântico não só como comportamento, mas enfocar a relação de anterioridade dos sentimentos e pensamentos que o fundamentam. Além disso, vale ressaltar que o ciúme romântico está condicionado a ameaça, ainda que virtual, ou mesmo remota, da infidelidade do parceiro.
Dadas estas contribuições e outras que não foram citadas, atualmente, alguns teóricos o consideram como um sentimento. Outros ainda, como uma emoção negativa, ou até como uma emoção aversiva. Há os que o ideam como um complexo de pensamentos, emoções e ações. Há ainda aqueles que abordam o ciúme do ponto de vista evolucionário[ii] e dizem que ele é uma manifestação biológica inata, a fim de garantir um provedor para a prole, no caso do gênero feminino, e a propagação dos genes e conseqüentemente a perpetuação da espécie, sobretudo para o gênero masculino.
Além do que foi supracitado, para vários autores existem vários tipos de ciúme, vários graus de ciúme, manifestações de ciúme diferentes por gênero [ii], bem como com relação à mesma pessoa amada pode se sentir mais de um tipo de ciúme. E ainda se faz a ressalva que as pessoas podem ficar mais ciumentas durante períodos de fracasso ou perda. Desta forma, podem-se ter ciúmes de objetos, coisas, animais e pessoas, em diferentes intensidades e com relação ao mesmo objeto valorizado de múltiplas maneiras. Uma ilustração disto seria o caso de um homem casado com uma mulher bonita que sente uma grande intensidade ciumenta de natureza sexual por ela em relação a outros homens, e em grau diminuto ciúme de sua presença por achar que está se dedicando demais aos seus filhos. Provavelmente, se o exemplo fosse uma mulher casada com um homem bonito ter-se-ia uma configuração tal que a mulher não sentiria tanto ciúme sexual, porém um ciúme romântico tentando assegurar a relação afetiva e talvez um ínfimo grau de ciúme da atenção que o marido dispensa aos seus filhos.
Quanto à genealogia do ciúme o psicólogo David Buss explica que, apesar de suas manifestações potencialmente perigosas, o ciúme teve um imprescindível valor adaptativo. Numa época onde homens e mulheres dependiam exclusivamente uns dos outros para a sobrevivência o ciúme atendia esta função de manutenção do relacionamento estabelecido. Por meio dele, homens ciumentos preservariam com uma maior probabilidade seus valiosos elos afetivos tentando assegurar-se que os filhos daquela relação eram de fato seus, garantindo assim a sua linhagem genética. No que diz respeito às mulheres, o ciúme seria um importante fator diferencial que poderia assegurar-lhes um mantenedor para si e para sua prole. Com isso, a infidelidade representa o desvio parcial de valiosos recursos evolutivos. Logo, acredita-se que a vinculação humana careceu de proteção e cuidados delegados ao ciúme. Naturalmente, estes mecanismos eram e ainda são inconscientes para ambos os sexos. E diferentemente do que se pensam homens e mulheres são eqüitativamente ciumentos, apenas diferindo como foi dito anteriormente na forma como ele se manifesta para os dois gêneros[iii].
Tendo em vista o que foi dito a princípio, compete agora partir para caracterizar tal complexo comportamental e cognitivo-sentimental. O ciúme, então, é um conjunto de emoções desencadeadas por sentimentos de alguma ameaça à estabilidade ou qualidade de um relacionamento íntimo valorizado. Como visto, as definições, dadas pelos teóricos, de ciúme são diversas, porém uma mesma tríade conceitual as une:
1)ser uma reação frente a uma ameaça percebida;
2) haver um rival real ou imaginário e;
3) a reação visa eliminar os riscos da perda do objeto amado.
De qualquer modo, algo somente é rotulado como ciúme se a pessoa em questão possuir um relacionamento valorizado, e em seu entendimento, perceber que este vínculo está sendo ameaçado pela interferência de uma terceira pessoa. Esta é identificada como rival, independentemente do fato desta formulação ser real ou imaginária.
Deve-se olhar atentamente para as razões colocadas pela pessoa que sente ciúmes, com a finalidade de identificar a lógica de seu raciocínio. Desta forma, ao se tomar como referência à leitura que a mesma faz dos fatos, conclui-se, logicamente, que, em seu lugar, provavelmente qualquer pessoa sentiria o mesmo. Todavia, embora ela esteja em posse de toda a argumentação intelectualmente convincente para justificar seus atos e pensamentos, é bom lembrar que esta estruturação está distorcida de alguma maneira, talvez imperceptivelmente a si próprio, ou a qualquer leigo de sua situação.
No que tange a avaliação do ciúme pela literatura científica e pelo senso comum, percebe-se que na primeira, há a predominância da conceituação do ciúme enquanto uma relação afetiva negativa frente a uma ameaça ao valorizado relacionamento amoroso. De modo especial, Montreynaud é enfático ao dizer: “o ciúmes não é prova de amor, mas sinal de imaturidade” (Montreynaud, 1994, p. 40). Em contrapartida, para as pessoas do senso comum, como atestam os estudos de Mullen & Martin (1994) estas identificam estreitas relações entre o amor verdadeiro e o ciúme. Mesmo para outros teóricos tais como Ferreira-Santos (1996) há a possibilidade de haver algum aspecto neutro, ou ainda positivo no ciúme, no sentido dele acarretar a aproximação do casal, como uma profícua estratégia de se lidar ante uma situação ameaçadora. Entretanto, tal visão carece de uma maior fundamentação empírica. Já para o senso comum, e, sobretudo, para a cultura brasileira, percebe-se a manutenção de um ambiente favorável às atitudes ciumentas. Isto é, os parceiros se vêem na obrigação de demonstrar ciúme como prova de amor.
Ao se discorrer sobre a temática do ciúme se faz necessário lembrar que para alguns teóricos, observam que em nossa cultura a infidelidade sexual tem diferentes conotações para homens e mulheres. Como o amor é considerado um pré-requisito para o envolvimento amoroso, para uma mulher, em um relacionamento sexual, isto faz com que a infidelidade sexual feminina seja pensada e implique no fato de que a mesma esteja sexualmente e emocionalmente envolvida com outro parceiro.
Outra dúvida suscitada pela temática abordada é a de que se o ciúme seria um comportamento inato ou aprendido. Novamente há controvérsia neste ponto e alguns autores acham que ele é inato, embora as manifestações do mesmo sejam aprendidas. Desta forma, a biologia e a psicologia brinda com esse considerado importante fator adaptativo-evolutivo, mas não aprisiona o ser humano ao sabor das expressões ciumentas.
Uma visão que se quer apontar é, seja o ciúme inato ou aprendido, benéfico ou danoso aos relacionamentos amorosos, ele é fundamentalmente egoísta à medida que leva o(a) seu(sua) possuidor(a) a se comportar conforme a conveniência deste e visa com isto tolher os direitos da pessoa a ela vinculada. Isto é, quando o ciúme se manifesta, não se visa proteger o outro, como distorcidamente costuma se pensar, e sim se protege a si mesmo de futuras preocupações que lhe sejam custosas no investimento amoroso realizado. O que mascara esta constatação é o fato de pensar que o ciúme é exercido em nome do amor e de uma “altruística” preocupação com o bem estar do outro de forma que per si parece autorizar a interferir sobre o destino do(a) parceiro(a).
E dado o seu polimorfismo, percebe-se que o ciúme exibe as características de cada época, de cada cultura, o que torna difícil diagnosticá-lo como uma doença, por não ter um padrão fixo para se revelar. Todavia, o sofrimento é o que fundamenta e anuncia quando o ciúme deixa de estar no limite da normalidade e avança causando mal-estar, repetindo-se obsessivamente e compulsivamente, até que provavelmente, arruíne a vida das partes envolvidas.
Espero que esta leitura, haja vista, os problemas com que me deparo cotidianamente no setting psicoterapêutico, um pouco mais para o entendimento deste fenômeno chamado ciúme. Porque se não nos dermos o trabalho de refletir a respeito desta temática, talvez estejamos perdendo uma preciosa oportunidade para otimizar a qualidade dos nossos relacionamentos amorosos os quais tanto valorizamos e os quais queremos preservar por meio dos mecanismos do ciúme. E se assim, quer como vítimas ou como algozes se não o admitirmos em nosso cotidiano, podemos deixar de recuperar o que realmente nos é tão caro ou o outro, que pode ser vítima de nosso desassossego e, sobretudo, recuperar parte de nós mesmos que esteja se perdendo para um fenômeno que faz de nós marionetes de nossas próprias emoções.
Notas:
i A perspectiva evolucionária do ciúme é largamente discutida por um outro enfoque teórico denominado sociobiológico, no qual se propõe que o ciúme está inteiramente atrelado a cultura e especificamente à socialização no que diz respeito a ameaças nos relacionamentos íntimos e as diferenças de ciúme para os componentes dos dois gêneros resulta de uma socialização específica que afeta a percepção de tais ameaças (HUPKA; BANK, 1996)
ii Muito embora um crescente corpo teórico sugere que as pistas que desencadeiam o ciúme são diferentes para homens e mulheres.
iii Contudo, para as relações românticas de natureza homossexual os resultados apresentam-se de forma reversa comparados aos achados em relacionamentos heterossexuais ainda que experimentem níveis de ciúme similares a esses. As homossexuais femininas sentem como mais aflitiva a infidelidade sexual, ao passo que os homossexuais masculinos padecem emocionalmente mais quando imaginam que o parceiro pode estar comprometido afetivamente com outra pessoa, como advogam os teóricos Bailey et al. (1994) e Bringle (1995).