sábado, 19 de junho de 2010

Ciúme Doentio

A pessoa que desenvolve um ciúme possessivo e obsessivo pelo parceiro pode estar sofrendo de um distúrbio obsessivo ou pode apresentar sintomas de uma personalidade obsessiva compulsiva.

A pessoa que sofre com ciúmes pode ter uma personalidade obsessiva compulsiva que possui um padrão característico de sintomas que precisam ser observados:

Há um padrão persistente de preocupação com asseio, perfeccionismo, controle mental e interpessoal.

Há pouca flexibilidade, transparência, relaxamento das preocupações de dos pensamentos, os pensamentos apresentam pouca eficiência, os pensamentos acontecem recorrentemente, ou seja, não saem da cabeça.

Este distúrbio começa no início da vida adulta e apresentam uma variedade de contextos, como indicado por quatro (ou mais) dos seguintes sintomas :

1. Estar preocupado com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários e com o que ainda vai fazer

2. Mostra perfeccionismo que interfere com a tarefa concluída (por exemplo, é impossível concluir um projeto devido ao aumento de suas próprias exigências das normas e regras)

3. É demasiadamente dedicado ao trabalho e produtividade e deixa de lado as atividades de lazer e amizades.

4. É muito convencido de seus próprios pensamentos, não aceita a opinião alheia, ou não acredita nas evidências que a outra pessoa aponta, é escrupuloso, é inflexível em matéria de moralidade, ética ou valores.

5. É incapaz de se desfazer de objetos sem valor, mesmo quando estes não têm valor nem sentimental

6. Mostra-se relutante em delegar tarefas ou a trabalhar com outras pessoas, salvo se apresentarem exatamente a sua mesma maneira de fazer as coisas e a mesma forma de pensamento que o seu.

7. Adota um estilo pão-duro, o dinheiro é visto como algo a ser acumulado para as futuras catástrofes

8. Mostra rigidez e teimosia

9. Acredita piamente em seus pensamentos e acha que os outros estão mentindo. NO caso do ciúmes, nunca ceita a explicação do utro, ou acha que está sendo sempre enganada.

10. Pensa o tempo todo em como controlar a outra pessoa a ponto de querer acompanhar tudo o que ela faz, onde está, o que está pensando, numa necessidade de posse do outro.

Tratamento:

Os indivíduos que sofrem desta desordem de personalidade muitas vezes se caracterizam pela sua falta de abertura e flexibilidade, não só em suas rotinas diárias, mas também com as relações interpessoais e expectativas.

A imensa preocupação com asseio, perfeccionismo e controle de suas vidas e de suas relações ocupam grande parte de sua vida.

As opções de tratamento opções que não se encaixam no esquema cognitivo do cliente provavelmente será rejeitada rapidamente ao invés de ser uma tentativa aprovada por ele.

Os indivíduos que sofrem deste distúrbio têm dificuldade em incorporar novas informações e mudanças em suas vidas.

Para incorporar novas aprendizagens é necessário uma empatia muito grande com o terapeuta para que o mesmo consiga colocar novos planos de vida e confrontação com a realidade para que ocorra novas reestruturações cognitivas.

A técnica de relaxamento é uma indicação para concorrência com os pensamentos disfuncionais e com a ansiedade vivida pela necessidade de controle.

A capacidade para trabalhar com os outros é igualmente afetada, uma vez que eles vêem o mundo em preto e branco, acham que somente a sua maneira de fazer as coisas é a correta. Naturalmente, essa lógica defeituosa também será traduzida para a sua relação terapêutica com o psicólogo e seu tratamento.

Dessa forma, cabe ao Psicólogo saber que será improvável ter sucesso na utilização de técnicas ou tratamentos que não tenham sido previamente aprovados pelo paciente para o uso.

Às vezes isso pode ser feito simplesmente por afirmar a eficácia de um determinado tratamento para um problema específico, citando as pesquisas.

Quando essa desordem de personalidade é combinado com a apresentação de uma doença, deve ser utilizado abordagem multidisciplinar para o uso de terapia medicamentosa e terapia cognitiva para maior eficácia.

A técnica de confrontação com a realidade e a busca de evidências na terapia cognitiva comportamental é uma forma que ajuda muito a pessoa com ciúmes obsessivo a entender o modo de funcionamento de seus pensamentos e fantasias, conseguindo diferenciar entre estes aspectos.

A terapia de casal pode ser indicada quando o ciúmes está focado no parceiro que não aceita sua doença e terapia e, consequentemente fica mais fácil aceitar o atendimento terapêutico para ambos.

O ciúmes possessivo atrapalha a relação do casal e se não for trabalhadas estas questões acontece o desgaste muito rápido na relação, interferindo em direitos e deveres de cada um e principalmente no respeito entre o casal.

A busca de ajuda terapêutica permite uma melhor avaliação do contexto e pode haver encaminhamento para uma avaliação médica e psiquiatra, pois em alguns casos há a necessidade de intervenção medicamentosa para maior controle da ansiedade e dos pensamentos obsessivos.

Transtorno de Personalidade Paranóide III

O Transtorno de Personalidade Paranóide é caracterizado por uma desconfiança difundida, a pessoa desconfia de todos e de tudo, encontrando motivos que são interpretados como um ataque ou possível ataque contra si.

Este transtorno tem início normalmente na idade adulta e apresenta uma variedade de contextos, sendo muito comum a desconfiança entre parceiros, muitas vezes denominado como pessoa muito ciumenta, ciúmes patológico, ciúmes excessivo, desconfiança excessiva, paranóico, etc.

As características da pessoa que desenvolve o transtorno paranóide incluem:

- Consideram outras pessoas como suspeitas de estarem agindo contra sua pessoa, ou que serão exploradas, irão lhe prejudicar, irão lhe enganar.

- Fica muito preocupado com situações que lhe provocam dúvidas injustificadas, como por exemplo, duvidam da fidelidade de amigos, parentes, etc.

- Não confia em ninguém, mesmo que nunca tenham lhe dado motivo para isso.

- Acha que sempre os outros irão usar de forma maliciosa o conhecimento sobre sua pessoa, percebendo-se ameaçado constantemente.

- Apresenta medo de conversar, pois acha que em todas as conversas tem significados (interesses) ocultos que irão lhe prejudicar ou usar para lhe humilhar.

- Percebe ataques ao seu caráter ou reputação que não são visíveis aos outros e é rápido em reagir e contra-atacar

- Tem suspeita recorrente, sem justificativas, quanto à fidelidade do cônjuge ou do parceiro sexual, desenvolvendo um ciúme patológico.

Tratamento do Transtorno de Personalidade Paranóide:

Como na maioria dos transtornos de personalidade, a psicoterapia é o tratamento de escolha.

Indivíduos com personalidade paranóica apresentam desordem de pensamentos, sentimentos e comportamentos que prejudicam seu cotidiano e sua vida em geral.

Apesar de perceberem seus incômodos e acharem que sua vida está totalmente tomada por estes pensamentos e sentimentos, raramente se apresentam para tratamento.

Não se deve estranhar, então, que tem havido pouca investigação e resultados que sugiram tipos de tratamentos que são mais eficazes com esse transtorno.

A terapia cognitiva pode ajudar na reestruturação de crenças e pensamentos fazendo confrontação com a realidade, trabalhando técnicas de soluções de problemas, questionamento da realidade, evidências e trabalhando no indivíduo maior autoconfiança, valorização da auto-estima e assertividade.

Já a terapia centrada no cliente pode ser uma abordagem igualmente eficaz, pois enfatiza um simples apoio e acolhimento do cliente, fazendo-o se perceber participativo de sua vida e reconhecendo em si suas dificuldades de auto-estima, valorização e reconstrução pessoal.

No entanto, em qualquer processo psicoterápico, o Rapport de construção com uma pessoa que tem esse transtorno, será muito mais difícil do que o habitual devido à paranóia associada ao transtorno. A rescisão antecipada, portanto, é comum.

Transtorno da Personalidade Paranóide II

*Características e Transtornos Associados

     Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Paranóide são, em geral, pessoas de difícil convivência, e com frequencia enfrentam problemas com relacionamentos íntimos. As suas desconfianças e excessiva hostilidade podem ser expressadas em discussões agressivas, queixas recorrentes ou afastamento silencioso e visivelmente hostil. Como são hipervigilantes para possíveis ameaças, eles podem comportar-se de maneira reservada, velada ou desviante e parecer "frios" e sem sentimentos de ternura. Embora possam parecer objetivas, racionais e não-emocionais, estas pessoas exibem, mais frequentemente, uma labilidade afetiva, com predomínio de expressões hostis, obstinadas e sarcásticas. A sua natureza combativa e desconfiada pode provocar uma resposta hostil dos outros, o que então serve para confirmar suas expectativas originais.
     Uma vez que os indivíduos com Transtorno da Personalidade Paranóide não confiam nos outros, têm uma necessidade excessiva de auto-suficiência e um forte sentido de autonomia. Precisam também de ter um alto grau de controle sobre as pessoas à sua volta.
     Estes indivíduos frequentemente são rígidos, críticos em relação aos outros e incapazes de colaborar, embora tenham grande dificuldade de aceitar críticas a eles mesmos. Podem culpar os outros pelas suas dificuldades. Em vista de sua rapidez para contra-atacar em resposta às ameaças que percebem à sua volta, podem ser litigantes e frequentemente envolver-se em disputas legais. Os indivíduos com este transtorno tentam confirmar as suas noções negativas pré-concebidas envolvendo pessoas ou situações que encontram, atribuindo motivações malévolas aos outros, que na verdade não passam de projeções de seus próprios temores. Eles podem apresentar fantasias grandiosas e irrealistas fracamente encobertas, em geral estão atentos a temas de poder e hierarquia e tendem a desenvolver estereótipos negativos de outros, particularmente de grupos populacionais distintos.
    Atraídos por formulações simplistas do mundo, frequentemente evitam situações ambíguas. Estes indivíduos podem ser percebidos como "fanáticos" e formar "cultos" ou grupos estreitamente fechados com outros que compartilham o seu sistema de crenças paranóides.
    Particularmente em resposta ao estresse, os indivíduos com este transtorno podem vivenciar episódios psicóticos muito breves (durando de minutos a horas). Em alguns casos, o Transtorno da Personalidade Paranóide pode aparecer como antecedente pré-mórbido do Transtorno Delirante ou da Esquizofrenia. Os indivíduos com este transtorno podem desenvolver um Transtorno Depressivo Maior e estar em risco aumentado para Agorafobia e Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Frequentemente ocorrem Abuso ou Dependência de Álcool ou de outra substância.
    Os Transtornos da Personalidade concomitantes mais frequentes parecem ser os Transtornos da Personalidade Esquizotípica, Esquizóide, Narcisista, Esquiva e Borderline.

 

* Características Específicas à Cultura, à Idade e ao Género

    Alguns comportamentos influenciados pelo contexto sócio-cultural ou circunstâncias de vida específicas podem ser erroneamente rotulados como paranóides e até mesmo ser reforçados pelo processo de avaliação clínica. Os membros de grupos minoritários, imigrantes, refugiados políticos e económicos ou indivíduos de diferentes bagagens étnicas podem apresentar comportamentos reservados ou defensivos, devido à falta de familiaridade (por ex., barreiras linguísticas ou falta de conhecimento de regras e regulamentos) ou em resposta a uma negligência ou indiferença percebida da parte da sociedade maioritária. Esses comportamentos, por sua vez, podem gerar raiva e frustração nas pessoas que lidam com esses indivíduos, desta forma estabelecendo-se um círculo vicioso de desconfiança mútua, que não deve ser confundido com Transtorno da Personalidade Paranóide.
    Alguns grupos étnicos também exibem comportamentos relacionados à cultura, que podem ser erroneamente interpretados como paranóides.
    O Transtorno da Personalidade Paranóide pode manifestar-se pela primeira vez na infância e adolescência, por uma tendência a ficar solitário, fracos relacionamentos com os seus pares, ansiedade social, baixo rendimento escolar, suscetibilidade excessiva, pensamentos e linguagem peculiares e fantasias idiossincráticas. Estas crianças podem parecer "esquisitas" ou "excêntricas".
    Em amostras clínicas, este transtorno parece ser diagnosticado com maior frequencia em homens.

 

* Prevalência

    A prevalência relatada do Transtorno da Personalidade Paranóide é de 0,5-2,5% na população geral, 10-30% em contextos de internação psiquiátrica e 2-10% em ambulatórios de saúde mental.

 

* Padrão Familiar

    Existem algumas evidências de maior prevalência do Transtorno da Personalidade Paranóide em parentes de probandos com Esquizofrenia crónica e de um relacionamento familial mais específico com o Transtorno Delirante, Tipo Persecutório.
http://portfolio.med.up.pt

IMPORTANTE

  • Procure o seu médico para diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios. 
  • As informações disponíveis no site da Dra. Shirley de Campos possuem apenas caráter educativo.

[Dra. Shirley de Campos ]

Transtorno da Personalidade Paranóide

* Características Diagnósticas

    A característica essencial do Transtorno da Personalidade Paranóide é um padrão invasivo de desconfiança e suspeita quanto aos outros, de modo que seus motivos são interpretados como malévolos. Este padrão tem início no começo da idade adulta e está presente numa variedade de contextos.

    (Critério A1) Os indivíduos com o transtorno supõem que as outras pessoas os exploram, prejudicam ou enganam, ainda que não exista qualquer evidência que apoie esta ideia . Eles suspeitam, com base em poucas ou nenhuma evidência, que os outros conspiram contra eles e que poderão atacá-los subitamente, a qualquer momento e sem qualquer razão. Estes indivíduos costumam acreditar que foram profunda e irreversivelmente prejudicados por outra(s) pessoa(s), mesmo que para tal não existam evidências objetivas.

   (Critério A2) Eles preocupam-se com dúvidas  infundadas quanto à lealdade e confiabilidade de seus amigos ou colegas, cujas ações são minuciosamente examinadas em busca de evidências de intenções hostis . Qualquer desvio percebido na confiabilidade ou lealdade serve para apoiar suas suposições básicas. Eles sentem-se tão perplexos quando um amigo ou colega lhes demonstra lealdade que não conseguem confiar ou acreditar. Quando enfrentam dificuldades, esperam ser atacados ou ignorados por amigos e colegas.

   (Critério A3) Os indivíduos com este transtorno relutam em ter confiança ou intimidade com outras pessoas, pelo medo de que as informações que compartilham sejam usadas contra eles . Eles podem recusar-se a responder a perguntas pessoais, afirmando que as informações "não são da conta de ninguém".

   (Critério A4) Eles lêem significados ocultos, humilhantes e ameaçadores em comentários ou observações benignas . Por exemplo, um indivíduo com este transtorno pode interpretar um engano genuíno cometido por um balconista como uma tentativa deliberada de enganá-lo no troco, ou pode interpretar uma observação bem-humorada e casual feita por um colega de trabalho como um sério ataque a seu caráter. Elogios freqüentemente são mal interpretados (por ex., um cumprimento por uma nova aquisição é interpretado como uma crítica a seu egoísmo; um elogio por uma conquista é interpretado como uma tentativa de forçá-lo a um desempenho maior e melhor). Eles podem interpretar uma oferta de auxílio como uma crítica por não estarem a fazer o suficiente por conta própria.

   (Critério A5) Os indivíduos com este transtorno guardam rancores persistentes e relutam em perdoar os insultos, ofensas ou deslizes dos quais pensam ter sido vítimas . Pequenos deslizes causam grande hostilidade, e os sentimentos hostis persistem por muito tempo.

   (Critério A6) Uma vez que estão constantemente vigilantes quanto às intenções nocivas dos outros, eles acham, muito freqüentemente, que seu carácter ou reputação foram atacados ou que de alguma forma foram menosprezados. Seu contra-ataque é rápido e reagem com raiva aos insultos percebidos .

   (Critério A7) Os indivíduos com este transtorno podem ser patologicamente ciumentos, freqüentemente suspeitando da fidelidade de seu cônjuge ou parceiro sexual, sem qualquer justificativa adequada . Eles podem coletar "evidências" triviais e circunstanciais para apoiarem suas crenças ciumentas. Desejam manter um completo controle de relacionamentos íntimos para evitar traições, podendo constantemente questionar o paradeiro, as ações, intenções e fidelidade do cônjuge ou parceiro.

[Dra. Shirley de Campos ]

Transtorno Ansioso da Personalidade


A marca característica deste Transtorno de Personalidade é a persistência e continuidade de tensão e apreensão. Como conseqüência disso o portador deste tipo psicológico experimenta a crença freqüente de ser socialmente inepto, desinteressante e desagradável, portanto, inferior aos demais. Na realidade, a ansiedade aparece com maior exuberância sempre que tais pessoas vislumbrem a possibilidade de serem objeto de apreciação por parte dos demais.

Normalmente, devido aos sentimentos supra-referidos, há isolamento social e, como o próprio nome do transtorno diz, uma constante evitação social. O que, de fato, eles evitam é a possibilidade de experimentarem sentimentos desagradáveis de desapreço ao se submeterem ao jugo público. Com freqüência se utilizam de mentiras com a intenção de dissimularem sua real situação existencial, pois, de qualquer forma, acham que se os interlocutores souberem como eles são realmente, perderão todo interesse em suas pessoas.

Assim sendo, a pessoa com este transtorno está sempre dissimulando sua verdadeira performance social, interpessoal ou psicológica, procurando aparentar aquilo que, decididamente, não é. Isso tudo por que, como dissemos, tem uma preocupação excessiva em estar sendo criticada ou rejeitada em quase todas situações sociais. Há também, aqui, uma severa relutância no envolvimento com outras pessoas, sempre motivada pelo medo da crítica, como dissemos. Poderão envolver-se caso tenham certeza absoluta de sua apreciação.

Os critérios do DSM.IV para o diagnóstico são:
a) sentimentos persistentes e invasivos de tensão e apreensão;
b) crença constante de ser socialmente inepto, pessoalmente desinteressante ou inferior aos demais;
c) preocupação excessiva em ser criticado ou rejeitado em situações sociais;
d) relutância em se envolver com pessoas, a não ser quando absolutamente certo de ser apreciado;
e) restrições ao estilo de vida devida à necessidade de segurança física;
f) evitação de atividades sociais e ocupacionais que envolvam contacto interpessoal significativo por medo de opiniões a seu respeito.

Transtorno Obsessivo-Compulsivo da Personalidade (Anancástico)


Há, neste Transtorno de Personalidade, um padrão generalizado de perfeccionismo e inflexibilidade. As pessoas assim preocupam-se com a observância das normas, das regras, com a organização e com os detalhes. Normalmente são escravizados pelo simétrico, pelo limpo e pela ordem das coisas, desde a arrumação de seus pertences pessoais (guarda-roupas, gavetas, mesas), até a organização extremamente cuidadosa de coisas relacionadas à ocupação e profissão.

A preocupação com a origem geral das coisas é tanta que, não raras vezes, é impossível conciliar o sono se vier-lhes à mente a impressão de que os chinelos estão desarrumados, ou que há uma gaveta semi-aberta, ou que talvez a porta não esteja trancada e assim por diante. Evidentemente, observamos também um zelo exagerado para com a arrumação do banheiro, havendo desconforto se este se encontrar respingado, com uma torneira gotejante ou com algo fora de lugar.

Estas pessoas são incapazes de suportar tudo aquilo que consideram como infração às suas próprias determinações de organização, por isso são inflexíveis consigo próprios e com os que lhes são mais próximo na observância de suas leis. O exagerado perfeccionismo, a precisão meticulosa na arrumação das coisas e a constante repetitividade para que tudo saia da forma obsessivamente idealizada tornam estes indivíduos muito enfadonhos.

Estas características de obsessão rigidamente voltadas para a perfeição, somadas ao medo de que algo pode não estar perfeito fazem com que estas pessoas tenham muita dificuldade para terminarem aquilo que começaram. Não importa quão boa esteja a realização em pauta mas sim a obsessiva impressão de que algo esteja faltando, algo não esteja correto ou imperfeito.

Os obsessivos têm dificuldade em expressar sentimentos de ternura, compaixão e compreensão aos sentimentos e comportamentos dos outros. Quando eles se dão ao luxo do lazer e recreação, fazem isso com tanto planejamento e meticulosidade a ponto de sacrificarem o próprio prazer em benefício das regras e normas para que tenham prazer.

Os critérios para diagnóstico deste Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsivo podem ser agrupados da seguinte forma:
a) sentimentos de dúvida e cautela exagerados;
b) preocupação com detalhes, regras listas, ordem, organização e esquemas;
c) perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas;
d) escrupulosidade excessiva com a produtividade, concomitante à quase exclusão do prazer;
e) aderência excessiva à algumas convenções sociais;
f) inflexibilidade, rigidez e teimosia;
g) insistência para que os outros se submetam aos seus conceitos de valor em relação à maneira de fazer as coisas;
h) evitam tomar decisões acreditando haver sempre outras prioridades;
i) falta de generosidade e de sentimentos de compaixão e tolerância para com os outros;
j) dificuldade em descartar-se de objetos usados.

[Ballone GJ - Transtornos da Personalidade, PsiqWeb, internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005]

Transtorno Histriônico da Personalidade


A Personalidade Histérica, referida na CID-10 como Transtorno Histriônico de Personalidade ou Histérica, conforme denominação mais antiga, é caracterizada por um comportamento colorido, dramático e extrovertido que se apresenta sempre exuberantemente. É um dos únicos distúrbios de personalidade mais freqüentes no sexo feminino, onde os pacientes apresentam uma tendência de comportamento em busca de atenção.

Os histriônicos tendem a exagerar seus pensamentos e sentimentos, apresentam acessos de mau humor, lágrimas e acusações sempre que percebem não serem o centro das atenções ou quando não recebem elogios e aprovações. Freqüentemente animados e dramáticos, tendem a chamar a atenção sobre si mesmos e podem, de início, encantar as pessoas com quem travam conhecimento por seu entusiasmo, aparente franqueza ou capacidade de sedução. Tais qualidades, contudo, perdem sua força à medida que esses indivíduos continuamente exigem o papel de "dono da festa".

Manifestam pronunciados traços de vaidade, egocentrismo, exibicionismo e dramaticidade. No afã de representar um papel que lhes é negado pela vida ou por suas próprias limitações pessoais, os histriônicos fazem teatro para si e para todos os demais, a sua grande platéia. Pode haver fases onde eles já não sabem onde termina a realidade e começa a fantasia, passando a acreditar em seus próprios mitos e em suas próprias encenações.

Às vezes, devido sua excepcional teatralidade, esta tendência em polarizar as atenções é perfeitamente dissimulada sob o papel de coitadinho(a), ou de um retraimento social tão lamentável que é capaz de chamar mais a atenção que uma participação mais normal. As mães com esta personalidade podem idealizar manobras que objetivam fazer seus filhos se compadecerem de seu estado "lastimável" e provocar arrependimentos vários. São pessoas que estão sempre a se queixar de incompreensão mas jamais tentam compreender os outros ou entender que os outros não têm obrigação de compreendê-los.

Essas pessoas glorificam a doença, as queixas somáticas e atribuem todos eventuais fracassos ou limitações à eventuais transtornos orgânicos que os independem de sua sempre presente boa vontade. A somatização, dissociação e repressão são os mecanismos de defesa mais intensamente utilizados por eles. Tão intensos são estes mecanismos de defesa que reconhecerem seus próprios sentimentos e suas tendências de personalidade torna-se praticamente impossível.

Sexualmente, a personalidade histriônica determina nas mulheres um comportamento sedutor, provocante, coquete e com tendência a erotizar as relações não sexuais do dia-a-dia. As fantasias sexuais com as pessoas pelas quais estão envolvidos são comuns e, embora volúveis, o arremate final do jogo sexual costuma não ser satisfatório.

O DSM-IV e o CID-10 recomendam como critérios para o diagnóstico do Transtorno Histriônico da Personalidade, um padrão generalizado de excessiva emotividade e busca de atenção, indicado pelas seguintes características:
a) busca constante ou exigência de afirmação, aprovação ou elogios;
b) autodramatização, teatralidade e expressão exagerada das emoções;
c) alta sugestionabilidade, facilmente influenciada pelos outros ou por certas circunstâncias;
d) sedução inapropriada em aparência ou comportamento;
e) preocupação excessiva com a atratividade física;
f) expressão de emoções exageradamente;
g) expressão de emoções rapidamente mutável;
h) egocentrismo nas satisfações;
i) intolerância severa às frustrações e à não-satisfação;
j) discurso impressionista e superficial.

O Transtorno da Personalidade Histriônica proporciona um alto grau de sugestionabilidade. Suas opiniões e sentimentos são facilmente influenciados pelos outros e por tendências do momento. Há uma certa perda da inibição social nessas pessoas. Isso faz com que, muitas vezes, considerem os relacionamentos mais íntimos do que são de fato, dirigindo-se à, praticamente, qualquer pessoa recém conhecida como "meu querido, meu amigo" ou chamando um médico por seu prenome mesmo na primeira consulta.

Uma das marcas mais características das pessoas com Transtorno da Personalidade Histriônica é tentar controlar as pessoas através da manipulação emocional ou sedução. Por causa disso eles tendem afastar os amigos com suas exigências de constante atenção.
Estes indivíduos em geral manifestam intolerância ou frustração por situações que envolvem um adiamento da gratificação, sendo que suas ações freqüentemente são voltadas à obtenção de satisfação imediata, ou seja, têm extrema dificuldade em esperar ou contemporizar situações.

[Ballone GJ - Transtornos da Personalidade, PsiqWeb, internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005]

Transtorno Esquizóide de Personalidade


Este tipo de distúrbio é verificado em pessoas que exibem um padrão de afastamento social persistente, um constante desconforto nas interações humanas, uma excentricidade de comportamento e pensamento, isolamento e introversão. O esquizóide nos dá a impressão de desinteresse, reserva e falta de envolvimento com os acontecimentos cotidianos e com as preocupações alheias, normalmente ele tem pouca necessidade de vínculos emocionais.

Este tipo de personalidade reflete interesses na solidão, em trabalhos solitários e em atividades não competitivas. Por outro lado, estas pessoas são capazes de investir grande energia afetiva em interesses que não envolvam seres humanos e podem ligar-se muito aos animais. Normalmente são os últimos a aceitarem as variações da moda popular, mas normalmente mantém-se algo excêntricos.

Freqüentemente absorvem-se em certas obsessões acerca de dietas esdrúxulas, programas de saúde alternativos, movimentos religiosos e filosóficos incomuns, esquemas de aperfeiçoamento sócio-culturais, associações mais ou menos secretas de assuntos esotéricos. Embora pareçam absortos em devaneios fantasiosos e fantásticos, não perdem a capacidade de reconhecer a realidade. Não obstante os Esquizóides podem oferecer ao mundo idéias realmente criativas e originais.

Juntando os critérios estabelecidos pelo DSM-IV e pelo CID-10 para o diagnóstico deste tipo de transtorno podemos recomendar o seguinte:

a) um padrão de indiferença às relações sociais e uma variação pobre da expressão emocional;
b) indiferença aos sentimentos alheios;
c) questionamento, indisposição e desrespeito às normas e obrigações sociais;
d) pouco interesse em relações sexuais;
e) preferência quase invariável por atividades solitárias;
f) preocupação excessiva com fantasias e introspecção;
g) falta de amigos íntimos, relacionamentos confidentes e a falta de desejo de tais relacionamentos;
h) raramente vivenciam emoções fortes, como raiva e alegria;
i) indiferença à elogios e críticas.
As pessoas Esquizóides sentem-se freqüentemente incompreendidas, o que reforça a tendência ao isolamento e ao afastamento dos mortais comuns. Este ausente sentimento de companheirismo normalmente é compensado pelo zelo apaixonado pela leitura, pelos animais ou alguma outra expressão artística de difícil compreensão.

Transtorno Explosivo da Personalidade

Na CID-10 o Transtorno Explosivo da Personalidade aparece como Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável. Aqui, a característica mais marcante é uma tendência a agir impulsivamente, desprezando as eventuais conseqüências do ato impulsivo, juntamente com instabilidade afetiva. Os freqüentes acessos de raiva podem levar à violência ou à explosões comportamentais. Tais crises de agressividade e explosividade podem ser desencadeadas mais facilmente quando as atitudes impulsivas são criticadas ou impedidas pelos outros.
Estes distúrbios são caracterizados pela instabilidade do estado de ânimo com possibilidades de explosões de raiva, ódio, violência ou afeição. A agressão pode ser expressada fisicamente ou verbalmente e as explosões fogem ao controle das pessoas afetadas. Entretanto, tais indivíduos não tem conduta antisocial e, pelo contrário, são simpáticas, bem falantes, sociáveis e educadas quando fora das crises.
A extrema sensibilidade aos aborrecimentos causados pelos pequenos estímulos ambientais produz, nos explosivos, respostas de súbita violência e incontida agressividade. Normalmente chamamos estas pessoa de pavio-curto ou de cinco-minutos. No DSM-III-R a caracterização mais compatível com esta personalidade era o denominado de Distúrbio Explosivo Intermitente.
De acordo com o DSM-III-R, estes indivíduos apresentam episódios de perda de controle sobre os impulsos agressivos resultando em agressões ou destruição de propriedade e, normalmente, a agressividade expressada é totalmente desproporcional aos estressores ambientais que possam tê-la desencadeado. Estes episódios geralmente são seguidos de arrependimentos ou auto-reprovação, os quais são capazes de produzir variados graus de depressão como uma espécie de ressaca moral pelos procedimentos cometidos.

As instabilidade na escolha de objetivos, valores e aspirações profissionais em constante mudança é responsável pela acentuada inconstância no rítmo e estilo e tipo de vida dessas pessoas. O indivíduo pode exibir súbitas mudanças de opiniões e planos acerca da carreira, dos valores e dos tipos de amigos desejáveis.

O Transtorno da Personalidade Borderline (tipo Explosivo) favorece a instabilidade afetiva em conseqüência à uma acentuada reatividade do humor. Este humor disfórico básico dos indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline é caracterizado por períodos de raiva, pânico ou desespero. Esses episódios podem refletir a extrema reatividade do indivíduo a estresses interpessoais. Subjetivamente essas pessoas com Transtorno da Personalidade Borderline podem ser incomodadas por sentimentos crônicos de vazio. Facilmente entediados, podem estar sempre procurando algo para fazer.

Os indivíduos com este transtorno freqüentemente expressam raiva intensa e inadequada ou têm dificuldade para controlar essa raiva. São constantes também o extremo sarcasmo, a persistente amargura ou explosões verbais. A raiva freqüentemente vem à tona quando uma pessoa desua simpatia é tida por eles como negligente, omisso, indiferente ou prestes a abandoná-lo. Durante períodos de extremo estresse, podem ocorrer ideação paranóide ou sintomas dissociativos transitórios (por ex., despersonalização) mas estes, em geral, têm gravidade ou duração insuficiente para indicarem um outro diagnóstico psiquiátrico.

[Ballone GJ - Transtornos da Personalidade, PsiqWeb, internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005]

Aspectos Psicobiológicos e Transtornos de Personalidade

As diferenças biológicas individuais têm sido há muito tempo relacionadas à diversos tipo de temperamento e de personalidade e cada avanço da ciência torna mais clara a interação dos fatores genéticos e ambientais na determinação da constituição da pessoa.

Modernamente considera-se que o estudo dos Transtornos da Personalidade se estrutura sobre quatro domínios psicobiológicos. São eles:

1 - A regulação dos impulsos;
2 - A modulação afetiva;
3 - A organização cognitiva e;
4 - O controle da ansiedade.
E estudo dessas, digamos, funções psíquicas, extremamente relacionadas às alterações da personalidade, tem recebido substancial contribuição pelos modernos métodos de avaliação bioquímica, pelos exames neuropsicológicos e pelas imagens computadorizadas das tomografias e dos aparelhos de emissão de pósitrons.

Transtorno Paranóide de Personalidade

A característica essencial deste distúrbio é uma tendência global e injustificável para interpretar as ações das pessoas como deliberadamente humilhantes ou ameaçadoras. Tem normalmente início no final da adolescência ou no começo da idade adulta. Quase invariavelmente há uma crença de estar sendo explorado ou prejudicado pelos outros de alguma forma e, por causa disso, a lealdade e fidelidade das pessoas estão sendo sempre questionadas. Muitas vezes o portador deste Transtorno é patologicamente ciumento e questionador da fidelidade do cônjuge, ao ponto de causar situações francamente constrangedoras.

O portador deste distúrbio de personalidade pode interpretar acontecimentos triviais e rotineiros como humilhantes e ameaçadores, desde um erro casual no saldo bancário, até um cumprimento não efusivo podem significar atitudes premeditadamente maldosas. Há uma sensibilidade exagerada às contrariedades ou a tudo que possa ser interpretado como rejeição, uma tendência para distorcer as experiências, interpretando-as como se fossem hostis ou depreciativas, ainda que neutras e amistosas (pensamento paranóide). Estas pessoas podem sentir-se irremediavelmente humilhadas e enganadas, conseqüentemente agressivas e insistentemente reivindicadoras de seus direitos.

Supervalorizam sua própria importância, as suas idéias são as únicas corretas e seus pontos de vistas não devem ser contestadas, daí a facilidade em conquistar inimigos e a tendência em pensamentos auto-referentes. São desconfiadas, teimosas, dissimuladoras e obstinadas, vivem numa solidão freqüentemente confundida com timidez, como se não houvesse no mundo pessoas com quem pudessem partilhar sua prodigalidade, dignidade e seus sentimentos superiores.

As pessoas com Transtorno Paranóide da Personalidade são extremamente sarcásticas em suas críticas, irônicas ao extremo nos comentários e contornam as eventuais situações constrangedoras recorrendo a artimanhas teatrais e chantagens emocionais. Não toleram críticas dirigidas à sua pessoa e qualquer comentário neste sentido é entendido como declaração de inimizade.

Pelo entusiasmo com que valorizam suas idéias, sempre as únicas corretas, podem ser vistos como fanáticos nas várias áreas do pensamento; seja religioso, político, ético ou profissional. Gostam de fantasiar mas tem dificuldades em distinguir a fantasia da realidade. Pessoas com estes distúrbios são hiper-vigilantes e tomam precaução contra qualquer ameaça percebida.

A afetividade, nestes casos, é muitas vezes restrita e pode parecer fria, dado ao gosto destas pessoas em serem sempre objetivas, racionais e pouco emocionais.

Recomenda-se, como critérios para este Transtorno, que sejam caracterizados por:


a) sensibilidade exagerada à contratempos e rejeições;
b) tendência a guardar rancores persistentemente, isto é, recusam à perdoar aquilo que julgam como insultos ou desfeitas:
c) desconfiança e tendência à interpretar erroneamente as experiências amistosas ou neutras;
d) obstinado senso de direitos pessoais em desacordo com a situação real;
e) suspeitas injustificáveis em relação à fidelidade (conjugal ou de amigos);
f) autovalorização excessiva;
g) pressuposições quanto à conspirações

 

[Ballone GJ - Transtornos da Personalidade, PsiqWeb, internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005]

Transtornos de Personalidade

 

Os Transtornos da Personalidade caracterizam pessoas que não têm uma maneira absolutamente normal de viver (do ponto de vista estatístico e comparando com a média das outras pessoas) mas não chegam a preencher os critérios para um transtorno mental franco.

Estas alterações quando permanentes, diferente das alterações patológicas que podem surgir de um momento para outro, constitui o que poderíamos chamar de Ego Patológico ou Transtorno de Personalidade (Ey).

De acordo com Henri Ey, entendendo o Ego como equivalente à Personalidade, a liberdade e a individualidade características da personalidade normal estariam comprometidas em determinadas alterações permanentes da maneira de existir no mundo, como se ap pessoa fosse refém de seus próprios traços, inflexíveis e permanentes.

O Transtorno de Personalidade seria uma maneira de atuar permanente, continuada e duradoura de um Ego não-normal, ao contrário das alterações francamente patológicas que podem ocorrer durante a vida, à partir de um momento definido (tal qual as crises, os surtos, os processos patológicos).

Em psicopatologia, as anormalidades da personalidade se reportam, principalmente, à possibilidade que se tem de classificar determinada personalidade como sendo desta ou daquela maneira de existir, enquanto o normal seria a pessoa ser "um pouco de tudo", ou seja, ter um pouco de cada característica humana sem prevalecer patologicamente nenhuma delas.

Desta forma, diante da possibilidade de se destacar um traço marcante, específico e característico numa determinada pessoa, ou seja, diante do fato desta personalidade ser caracterizada por um determinado traço, torna-se possível sua classificação.

Caso ainda esta característica responsável por sua classificação, prejudique a liberdade desta personalidade ser livre e desimpedida de qualquer estigma limitador de sua maneira de ser, caso ainda essa característica faça sofrer seu portador ou outras pessoas, aí então, ao invés de estarmos diante de apenas um certo tipo de personalidade, ou de um certo traço, estaremos diante de um Transtorno de Personalidade.

Karl Jaspers afirma serem anormais as personalidades que fazem sofrer tanto o indivíduo quanto aqueles que o rodeiam. Para ele as personalidades anormais representam variações não-normais da natureza humana e que, na eventualidade de superpor-se à elas algum processo, tornar-se-iam personalidades propriamente mórbidas (doentias). Jaspers aborda o tema sob a ótica das variações do existir humano de origem constitucional (que fazem parte da pessoa).

Assim sendo, podemos considerar a maneira própria das Personalidades Anormais de ser no mundo como uma apresentação do indivíduo diante da vida situada nas extremidades da faixa de tolerância de sanidade pelo sistema cultural. Estas personalidades anormais seriam alterações perenes do caráter caracterizando não apenas a maneira de ESTAR no mundo mas, sobretudo, a maneira do indivíduo SER no mundo.

A Organização Mundial de Saúde trata o assunto sob o titulo de Transtornos da Personalidade e de Comportamentos, especificando-os nos títulos de F60 até F69 na Classificação Internacional das Doenças (CID-10). Descreve tais transtornos da seguinte maneira:

“Estes tipos de condição (Transtornos de Personalidade) abrangem padrões de comportamento profundamente arraigados e permanentes, manifestando-se como respostas inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e sociais. Eles representam desvios extremos ou significativos do modo como o indivíduo médio, em uma dada cultura, percebe, pensa, sente e, particularmente, se relaciona com os outros. Tais padrões de comportamento tendem a ser estáveis e a abranger múltiplos domínios de comportamento e funcionamento psicológico. Eles estão freqüentemente, mas não sempre, associados a graus variados de angústia subjetiva e a problemas no funcionamento e desempenho sociais”.

Os Transtornos de Personalidade, segundo ainda o CID-10, são condições do desenvolvimento da personalidade, aparecem na infância ou adolescência e continuam pela vida adulta. Esta condição diferencia o Transtorno da Alteração da Personalidade. Esta última (Alteração), sucede durante a vida como conseqüência de algum outro transtorno emocional ou mesmo seguindo-se à estresse grave.

O Transtorno de Personalidade, conforme esta classificação diz, ao tratar dos Transtornos Específicos (uma subdivisão dos Transtornos em geral), são perturbações graves da constituição do caráter e das tendências comportamentais, portanto, não são adquiridas do meio.Desta forma, os Transtornos de Personalidade seriam modalidades incomuns do indivíduo interagir com sua vida, de se manifestar socialmente, de experimentar sentimentos (ou não experimentá-los). A CID-10 apresenta entre os títulos F60 e F69 uma grande variedade de subtipos de Transtornos de Personalidade. Procuraremos aqui compatibilizá-los todos com outras classificações de forma a abordar os tipos sinônimos com a mesma descrição.

O DSM-III-R falava sobre o que deve ser entendido dos Distúrbios da Personalidade de maneira muito próxima ao que a O.M.S. considera válido para seus Transtornos da Personalidade;

"Características de personalidade são padrões duradouros de percepção, relação e pensamento acerca do ambiente e de si mesmo, e são exibidos numa ampla faixa de contextos sociais e pessoais importantes. É somente quando as características de personalidade são inflexíveis e inadaptadas, e causam um comprometimento funcional significativo é que elas constituem os Transtornos da Personalidade. As manifestações dos Transtornos da Personalidade são, freqüentemente, reconhecíveis na adolescência ou mais cedo, e continuam por quase toda a vida adulta, embora elas muitas vezes se tornem menos óbvias nas faixas médias ou extremas de idade".

O DSM-IV fala dos Transtornos da Personalidade da seguinte forma:

"Um Transtorno da Personalidade é um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é invasivo e inflexível, tem seu início na adolescência ou começo da idade adulta, é estável ao longo do tempo e provoca sofrimento ou prejuízo."

[Ballone GJ - Transtornos da Personalidade, PsiqWeb, internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005]