segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A ARTE DE NÃO JULGAR

Julgar é fácil. Fazemos isso todos os dias, toda hora sem nos darmos conta.
O evangelho nos ensina: “Não julgueis para não serdes julgados”.
Mas o fato é que julgamos; e que somos julgados o tempo todo.
Somos julgados pela nossa aparência, nosso jeito de falar, de sentar, de se portar. Sempre existirá alguém por perto que há de tirar conclusões a nosso respeito, e nem sempre conclusões boas.
Quem nunca foi vítima de um engano desse tipo que atire a primeira pedra.
Já vi casos de pessoas que foram tachadas de antipáticas, justamente porque não estavam no seu melhor dia; os tímidos são os que mais sofrem: ora são chamados de orgulhosos, ora de arrogantes.
Existem vários casos de julgamentos precipitados; quando o assunto é “gente nova no pedaço”, muitas línguas não se cansam em fazer comentários geralmente indelicados.
Especialmente nesses casos, quando lidamos com pessoas novas, é que temos que tomar todas as precauções para não cairmos na tentação de julgá-las precipitadamente. Afinal, as pessoas necessitam de compreensão, e boas vindas, não de hipóteses.
Pior ainda é quando o recém-chegado prova por A+B que não é aquilo que todos supunham, mas ainda assim, as pessoas insistem em não entender. Muitos dirão “ele deve estar disfarçando, se fazendo de santo pra dar um bote depois”.

A arte de não julgar consiste unicamente em não ficar com o “pé atrás” quando somos apresentados a pessoas novas. Já reparou que os julgamentos negativos feitos de forma precipitada, raramente estão corretos?
Por essa razão, devemos sempre ficar atentos, porém sem esperar o pior. Não é porque a moça bonita falou “bom dia” pro seu namorado, que vai levá-lo pra cama.
Temos que cultivar a segurança dentro de nós. Só assim deixaremos de temer o que é novo, sejam pessoas ou situações.
Faz-se necessário dar um voto de confiança positivo, um sorriso amigo, para cada pessoa nova que cruzar nosso caminho, da mesma forma que precisamos ser tratados com simpatia quando somos apresentados a alguém, ou algum ambiente novo.
É importante ressaltar que, pessoas que tem grande dificuldade de aceitar mudanças ou de conviver com pessoas (ou situações) novas, precisam de apoio terapêutico, por que as situações novas geram mudanças que a pessoa talvez não tenha estrutura parra suportar, uma vez que tende a ampliar os problemas.
Em outros casos, é puro ciúme.
Algumas garotas não permitem que suas amigas tenham novas amigas. Temem a troca. Insegurança.
Note-se que, na maioria dos casos, os julgamentos precipitados são feitos por pessoas inseguras que temem mudanças. Pessoas que sentem-se ameaçadas de alguma forma.
Portanto, a arte de NÃO JULGAR consiste em trabalhar a nossa auto-estima, de modo que nada, nem ninguém possa nos ameaçar.
Fortalecer nosso pensamento; trabalhar a favor da nossa segurança; não permitir que pensamentos negativos nos domine diante de circunstâncias (ou pessoas) novas.
Uma fórmula que me ensinaram, e que eu gosto de repassar: quando você conhecer alguém, ou penetrar num novo ambiente, onde você passará a conviver por muito tempo, antes de julgar quem quer que seja, pense: QUE A PAZ ESTEJA COM VOCÊ, ou, QUE A PAZ ESTEJA NESSE AMBIENTE.
Simples e indolor.
Fazendo isso, você muda a sintonia de seu pensamento. Você desliga o medo, e liga o interruptor da simpatia, empatia e bem-estar.
Vamos tentar?

[Anna Fonseca]

No Momento de Julgar

[Emannuel / Médium Francisco Cândido Xavier]


No momento de julgar alguém, como poderás julgar esse alguém, de todo, se não conheces tudo?
Terá sucedido um crime, estarrecendo a multidão.
Suponhamos que um homem desequilibrado haja posto uma bomba em certa casa, no intuito de destruir-lhes os moradores. Entretanto, por trás dele estão aqueles que fabricaram o engenho mortífero; os que o conservaram para utilização em momento oportuno; os outros que lhe identificaram o perigo, aprovando-lhe a existência; e aqueles outros ainda que, indiferentes, lhe acompanharam o fogo no estopim, sem a mínima disposição de apagá-lo.
De que maneira medirias o remorso do espírito de um homem assassinado, na hipótese desse mesmo assassinado haver provocado o seu contendor até que o antagonista lhe furtasse o corpo, num instante de insanidade? E como observarias o pesar do semelhante, às vezes, ilhado no fundo de uma penitenciária, na posição de um vivo-morto, quando o imaginado morto permanece vivo? E com que metro verificarias o sofrimento de um e outro?
Com que pancadas ou palavras agressivas conseguirias punir, durante algumas horas, a criatura menos feliz que já carrega em si o tormento da culpa à feição de suplício que lhe atenaza o coração, noite e dia?
Ante a queda moral de alguém, é mais razoável entrarmos para logo no assunto, na condição de partícipes dela, antes que nos alcemos à indébita função de censores.
Não precisaríamos tanto de justiça, se não praticássemos a injustiça e nem tanto de medicina se não tivéssemos doença.
Necessitaríamos, porventura, na Terra, de tantas e tão multiplicadas lições, em torno do bem, se o mal não nos armasse riscos, quase que em todas as direções do Planeta?
E onde estão aqueles que estejam usufruindo a glória da instalação segura no bem, sem o prejuízo de algum mal, ou aqueles outros que atravessam os espinheiros do mal, sem a vantagem de algum bem?
No momento de julgar, peçamos a Inspiração da Providência Divina para os magistrados que as circunstâncias vestiram com a toga, a fim de que acertem, nas suas decisões, em louvor do equilíbrio geral, porquanto é tão delicado o encargo do juiz chamado a interferir no corpo da ordem social, quão difícil é a tarefa do cirurgião convocado a interferir no corpo físico.
E quanto a nós outros, os que não somos trazidos a sentenças de lei, já que não nos achamos compromissados para isso, usemos a sobriedade e a compaixão em todos os nossos processos de vivência pessoal no cotidiano, conscientes, quanto devemos estar, de que os justos são as âncoras dos injustos e de que os bons constituem a esperança para todos aqueles que a maldade ensandece.
No momento de julgar, ainda que te coloquem no último banco, entre os últimos réus, e mesmo que se te negue o direito de defender a própria consciência edificada e tranqüila, a ninguém condenes, nem mesmo àqueles que, porventura, te condenem.
Usa sempre a misericórdia e acertarás.

>>> Mensagem publicada no livro "Chico Xavier pede licença – Um aparte no além nos diálogos da Terra", Francisco C. Xavier, J. Herculano Pires, Espíritos Diversos. São Paulo, 1973. 3ª Edição, GEEM – Grupo Espírita Emmanuel, Sociedade Civil Editora. Páginas 19 e 20

Mágoa e Raiva

...A mágoa nasce quando algo que esperávamos não acontece ou algo que queríamos muito não se concretiza. Se a pessoa não consegue lidar com o fato de não conseguir o que deseja e reserva um espaço muito grande em sua mente para isso, esse sentimento cresce. Às vezes, ganha uma importância muito maior do que o fato em si.

...Podemos pensar o seguinte: quanto tempo vamos gastar pensando a respeito dos sofrimentos e desapontamentos? E, quando pensamos neles, qual a intensidade que devemos investir nisso? As respostas determinarão a quantidade de problemas que uma ofensa ou mágoa vão causar a você. Só porque coisas ruins acontecem não é preciso ficar pensando ou falando o tempo todo nessas coisas.

...Responda se for capaz: Por que as pessoas não pensam e não falam a respeito da sua boa sorte e do seu sucesso com a mesma energia que pensam e falam da sua má sorte e de sua frustração? Essa questão sempre pega as pessoas de surpresa.

...Você acha seus problemas mais interessantes que seus sucessos? Você dá mais espaço para o que está errado do que para o que está certo? Entenda, não é para ignorar os problemas de sua vida ou não reconhecer que algumas pessoas o magoaram. Quero dizer que ao concentrarmos uma grande atenção no sofrimento, ele se tornará mais intenso e isso cria um hábito dificil de ser quebrado.

...Você não precisa pensar o tempo todo nos acontecimentos dolorosos da sua vida. Quando se dá muita ênfase às feridas, elas passam a exercer um poder muito grande sobre você.

...Você tem uma mágoa?

...Vamos ver se há uma situação em sua vida que virou mágoa. Façamos um exercício simples. Escolha uma situação dolorosa, escreva um resumo do que aconteceu. Perceba agora sua reação ao relembrar esse acontecimento. Como você se sente? Lembre-se: a base de qualquer mágoa é algo doloroso que lhe aconteceu e, naquele momento, você não teve a habilidade adequada para lidar com sua dor emocional.

...Depois de reviver esta história responda às seguintes questões:

...1. Você pensa sobre essa situação dolorosa mais do que pensa nas coisas boas da sua vida?

...2. Ao pensar sobre essa história dolorosa, você se sente mal fisicamente ou emocionalmente perturbado?

...3. Quando pensa sobre essa situação, você tem os mesmos e repetidos pensamentos e sensações?

...4. Você se pega contando a história sobre o que aconteceu repetidas vezes na sua mente?

...Se você respondeu sim a qualquer uma das quatro questões, provavelmente criou uma mágoa. O surgimento de uma mágoa segue um processo simples de três etapas:

...1. Assumir uma afronta em termos muito pessoais

...2. Culpar o autor da afronta pela forma como você se sente

...3. Criar uma história sobre a mágoa.

...Não podemos esquecer que as pessoas só fazem com a gente aquilo que permitimos que elas façam.

...A raiva tem o seu lugar

...A raiva é uma forte e temporária reação emocional à sensação de ser ameaçado de alguma maneira. Quando a raiva surge, pode ser expressa aberta e diretamente ou pode ir para o subterrâneo da nossa mente e do nosso coração, passando assim a se expressar de uma maneira silenciosa e persistente, tornando-se um ressentimento crônico.
O ressentimento é a sensação da mágoa ou raiva crônica que persiste muito depois de terminada a situação que causou raiva. O ressentimento já foi comparado a uma brasa ardente que seguramos com a intenção de jogá-la em outra pessoa, enquanto queima a nossa mão.
...A palavra ressentimento é a forma substantiva de ressentir ? sentir intensamente e sentir de novo. Quando estamos ressentidos, sentimos intensamente a dor do passado de novo e de novo e de novo.....A experiência de raiva mantida durante um período de tempo muito longo - o que gera a mágoa - é quase sempre inútil.

...É preciso esclarecer que o fato de criarmos uma mágoa não significa que seja um sinal de doença mental. Magoar-se é um aspecto normal e dificil de todos em relação à vida e, quase todos desenvolvemos, em algum momento da vida, algum tipo de mágoa. Mas, vale salientar que apesar da mágoa ser algo "comum" ou mesmo "normal" não significa que seja saudável.

...O aprendizado de lidar com sofrimentos, ofensas e desapontamentos com mais habilidade não impedirá que as coisas possam correr mal na sua vida. As pessoas continuarão sendo pouco amáveis e imprevistos e acidentes poderão fazê-lo sofrer.

...O mundo está repleto de sofrimento, frustração e dificuldade e não é só porque você aprendeu a se adaptar melhor, a lidar adequadamente com os problemas, com a raiva ou mesmo a frustração, isso não significa que os problemas acabarão. O que muda é a importância que você vai dar para esses problemas em sua mente e em seu coração. A quantidade de raiva, desesperança e aflição que você irá investir e sentir. A vida não é perfeita mas você pode aprender a sofrer menos.

...Peça ajuda! Estudos mostram que pessoas que compartilham suas frustrações e dores tendem a lidar melhor com a mágoa e o estresse. Na maioria das vezes, pessoas que contam com os amigos, com a familía, com um apoio psicológico e com um trabalho psicoterápico são mais felizes e desfrutam de uma saúde melhor.

[Katia Cristina Horpaczky]

Mágoa

Síndrome alarmante, de desequilibro, a presença da mágoa faculta a fixação de graves enfermidades físicas e psíquicas no organismo de quem a agasalha.
A mágoa pode ser comparada à ferrugem perniciosa que destrói o metal em que se origina.
Normalmente se instala nos redutos do amor-próprio ferido e paulatinamente se desdobra em seguro processo enfermiço, que termina por vitimar o hospedeiro.
De fácil combate, no início, pode ser expulsa mediante a oração singela e nobre, possuindo, todavia, o recurso de, em habitando os tecidos delicados do sentimento, desdobrar-se em modalidades várias, para sorrateiramente apossar-se de todos os departamentos da emotividade, engedrando cânceres morais irreversíveis. Ao seu lado, instala-se, quase sempre, a aversão, que estimulam o ódio, etapa grave do processo destrutivo.
A mágoa, não obstante desgovernar aquele que a vitaliza, emite verdadeiros dardos morbíficos que atingem outras vítimas incautas, aquelas que se fizeram as causadoras conscientes ou não do seu nascimento.
Borra sórdia, entorpece os canais por onde transita a esperança, impedindo-lhe o ministério consolador.
Hábil, disfarça-se, utilizando-se de argumentos bem urdidos para negar-se ao perdão ou fugir ao dever do esquecimento. Muitas distonias orgânicas são o resultado do veneno da mágoa, que, gerando altas cargas tóxicas sobre a maquinaria mental, produz desequilíbrio no mecanismo psíquico com lamentáveis consequências nos aparelhos circulatório, digestivo, nervoso...
O homem é, sem dúvida, o que vitaliza pelo pensamento. Sua idéias, suas aspirações constituem o campo vibratório no qual transita e em cujas fontes se nutre.
Estiolando os ideais e espalhando infundadas suspeitas, a mágoa consegue isolar o ressentido, impossibilitando a cooperação dos socorros externos, procedentes de outras pessoas.
Caça implacavelmente esses agentes inferiores, que conspiram contra a tua paz. O teu ofensor merece tua compaixão, nunca o teu revide.
Aquele que te persegue sofre desequilibros que ignoras e não é justo que te afundes, com ele, no fosso da sua animosidade.
Seja qual for a dificuldade que te impulsione à mágoa, reage, mediante a renovação de propósitos, não valorizando ofensas nem considerando ofensores.
Através do cultivo de pensamentos salutares, pairarás acima das viciações mentais que agasalham esses miasmas mortíferos que, infelizmente, se alastram pela Terra de hoje, pestilenciais, danosos, aniquiladores.
Incontáveis problemas que culminam em tragédias quotidianas são decorrência da mágoa, que virulenta se firmou, gerando o nefando comércio do sofrimento desnecessário.
Se já registras a modulação da fé raciocinada nos programas da renovação interior, apura aspirações e não te aflijas. Instado às paisagens inferiores, ascende na direção do bem. Malsinado pela incompreensão, desculpa. Ferido nos melhores brios, perdoa.
Se meditares na transitoriedade do mal e na perenidade do bem, não terás outra opção, além daquela: amar e amar sempre, impedindo que a mágoa estabeleça nas fronteiras da tua vida as balizas da sua província infeliz.

"Quando estiveres orando, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe, para que vosso Pai que está nos Céus, vos perdoe as vossas ofensas". - Marcos: 11-25.

"Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. Isto, meus caros filhos, prova melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: "A felicidade não é deste mundo". - ESE Cap.V - Item 20.

[JOANNA DE ÂNGELIS ]

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Morte, doce morte....

Morte doce Morte
Só mesmo tu, para curar a minha dor
A dor do Amor
Todos a temem, porém a aceitam
Muitas vezes és um alívio
Alívio para o sofrimento da dor.
Morte doce Morte, Tu comandas
Os erros e os acertos;
O amor faz mal... e as vezes faz bem..
Não se sabes ainda
Quem não o teve
E que não sofreu também.
Morte doce Morte, leve embora essa dor
A dor do eterno amor;
Mesmo sem tempo
Leve contigo todo esse meu sofrimento;
Mesmo que ainda haja algum contratempo;
Morte doce Morte; não sei se amo
Ou se odeio, sofro em meus anseios
Em meio a pensamentos e desejos
Cujos quais não sei posso ter.
Morte, responda-me se for capaz.
És inteligente, suficientemente
Para me explicar o motivo de tanta Dor.
Se tu não sabes, leva-me embora,
Pois sofro, sem ao menos ter um porquê.
Morte doce Morte.

PERDA DAS PESSOAS QUE AMAMOS

Quando a morte se faz presente nas vossas famílias, levando sem critério os jovens antes dos velhos, dizemos muitas vezes: “Deus não é justo, já que sacrifica aquele que é forte, e com um futuro pela frente, para conservar aqueles que já viveram longos anos cheios de decepções; leva aqueles que são úteis e deixa aqueles que não servem mais para nada; parte o coração de uma mãe, privando-a da inocente criatura que fazia toda a sua alegria”. Criaturas humanas, é nisto que tendes necessidade de vos elevar acima do plano terreno da vida, para compreender que o bem está muitas vezes onde se acredita ver o mal, a sábia previdência, onde se acredita ver a cega fatalidade do destino!
Por que medir ajustiça divina pelo valor da vossa? Podeis pensar que o Senhor dos mundos queira, por um simples capricho, vos impor penas cruéis? Nada se faz sem um objetivo inteligente e tudo o que acontece tem sua razão de ser. Se meditásseis melhor o porquê das dores que vos atingem, encontraríeis sempre a razão divina, razão regeneradora, e vossos míseros interesses seriam uma consideração secundária que desprezaríeis ao último plano. Acreditai em mim, a morte é preferível, mesmo numa encarnação de vinte anos, a essas desordens vergonhosas que desolam famílias honradas, cortam o coração de uma mãe e fazem branquear os cabelos dos pais, antes do tempo.

A morte prematura é muitas vezes um grande benefício que Deus dá àquele que se vai, e que se encontra assim poupado das misérias da vida, ou das seduções que poderiam arrastá-lo à sua perdição. Aquele que morre na flor da idade não é vítima da fatalidade; é que Deus julga que não lhe é útil passar maior tempo na Terra. É uma terrível desgraça, dizeis, que uma vida tão cheia de esperançasseja cortada tão cedo! De quais esperanças quereis falar? Das da Terra, onde aquele que se foi teria brilhado, trilhado seu caminho efeito fortuna? Sempre essa visão estreita, que não consegue se elevar acima da matéria! Acaso sabeis qual teria sido o destino dessa vida tão cheia de esperanças, segundo pensais? Quem vos garante queela não poderia ter sido cheia de amarguras? Acaso considerais nulas as esperanças da vida futura, preferindo as da vida passageira que arrastais na Terra? Pensais, então, que vale mais ter uma posição entre os homens do que entre os Espíritos bem-aventurados?

Alegrai-vos ao invés de vos lamentar quando Deus quiser retirar um de seus filhos desse vale de misérias. Não há egoísmo em desejar que ele permanecesse aí, para sofrer convosco? Essa dor compreende-se entre aqueles que não têm fé e que vêem na morte uma separação eterna; porém vós, espíritas, sabeis que a alma vive melhor livre de seu envoltório corporal.

Mães, sabeis que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, estão bem perto; seus corpos fluídicos vos rodeiam, seus pensamentos vos protegem, e a lembrança que tendes deles os enche de felicidade; assim como também vossas dores insensatas os perturbam, pois elas denotam uma falta de fé e são uma revolta contra a vontade de Deus. Vós que entendeis a vida espiritual, fazei vibrar as pulsações de vosso coração em favor desses entes bem-amados, e, se pedirdes a Deus que os abençoe, sentireis em vós aquelas consolações poderosas que secam as lágrimas, aquela fé consoladora que vos mostrará o futuro prometido pelo soberano Senhor.

( "EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO" - Capítulo 5 - BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS )

Mais uma vez venho falar sobre a morte. Mas desta vez, da morte das pessoas que amamos e que nos é tão difícil de aceitar. Depois de ler este trecho no Evangelho Segundo o Espiritismo, fiquei pensando o quanto somos egoístas. Não em sã consciência, pois nunca faríamos isso. Mas em como vemos errado a chamada "Morte". Há quem a veja como um fim, como uma separação e, na verdade, se a vida for vista como uma passagem apenas, a morte nada mais é qdo que uma libertação. Li em algum lugar, uma co mparação da vida com um cumprimento de pena.
É como um criminoso que tenha cumprido sua pena durante vinte ou trinta anos e, quando a cumpre, recebe a liberdade. Ele terá o mundo a seus pés, poderá viver de verdade. Poderá trabalhar pra si e pelos outros... Aí, vem um lá e briga e se descabela porque não quer que esta pessoa receba a liberdade, porque quer que ela cumpra uma pena maior e ainda por cima diz que é por amar muito que pensa assim.... Pensando assim, dá pra ver o quanto somos egoístas. Para ele é a liberdade, um novo começo, um alívio, pois estaria deixando a prisão, o cárcere pra ser livre e feliz, e tentar mudar o que fez de errado e procurar não errar mais, pois sabe o quanto lhe custaria mais alguns anos encarcerado.

Por quê não ver a morte assim? Vou parando por aqui e espero que aqueles que lerem esta postagem possam refletir e pensar melhor diante da "perda" de alguém amado.

[Solange Grignolli]

A MORTE COM TRANSCENDÊNCIA EM AMOR DE PERDIÇAÕ DE CAMILO CASTELO BRANCO

Amor de Perdição é uma novela romântica, levando em conta a forma com que agem seus personagens- os seguem cegamente os impulsos do coração- o final trágico e a pressão dramática que está presente em toda a obra. Levando-se também em conta o fato de a obra estar inserida no contexto do Romantismo, ao qual apresenta-se como excelente exemplo. Na época do Romantismo, uma forma de amar inconseqüente concretizou-se no plano literário e artístico: sentimentos conflituosos e paixões ilimitadas. Se há impedimentos ao amor, igualmente há uma saída para que ela triunfe mesmo no caos, essa saída é a morte, transcendência do amor não possibilitado em vida. O que seria do amor na vida perante a eternidade do amor na morte?

Nesta novela, as intrigas constroem- se em torno de três elementos fundamentais: a família, o casamento e o amor. O casal luta pela concretização de seus sentimentos, passando por todo tipo de provações, mas com a permanente idéia de que sua união através do amor poderá ser conseguida na morte, se esgotados todos os recursos em vida. Esse é o amor ideal, verdadeiro, ilimitado, objeto de trabalho dos românticos.

Chama a atenção a permanente ligação do amor á idéia da morte, chegando-se mesmo a concluir por sua necessidade em determinado momento, quando os caminhos se estreitam de tal forma que outra escolha não se faz possível.

Inicialmente temos o triângulo amoroso formado por Teresa, Simão e Baltasar. Depois, a formação de outro triângulo amoroso: Teresa, Simão e com a presença de Mariana como elemento de ligação entre o amor de Simão e Teresa. Mesmo amando Simão, Mariana não rivaliza com Teresa, muitas vezes até auxiliando o casal apaixonado, intermediando a correspondência entre eles. Adianta- se que todos eles terão o meso final trágico: a morte. No entanto, há problemas para a concretização do amor de Simão e Teresa: a rivalidade entre as famílias e o comprometimento de Teresa em casar-se com seu primo Baltasar: No capítulo II, pág 35 há a primeira menção à morte como solução, num bilhete escrito por Teresa a Simão:

"Não me esqueças tu e achar-me-ás no convento ou no céu, sempre tua de coração e sempre leal"

Até mesmo o pai de Teresa, no capítulo IV pág 44, prefere a, morte como solução ao impasse de sua recusa ao casamento com o primo Baltasar:

"_ Hás de casar! Quero que cases! Quero... quando não, serás amaldiçoada para sempre, Teresa! Morrerás num convento!"

No capítulo VIII, pág 73, Mariana delineia a morte como solução para outro tipo de conflito, num diálogo com Simão ela assim diz, referindo á possibilidade de seu pai ser condenado por um crime:

" Teria treze anos; mas estava resolvida a atirar-me ao poço, se ele fosse condenado à morte. Se o degredassem, então ia com ele; ia morrer onde ele fosse morrer"

Simão ama Teresa, que cada vez lhe parece mais distante. Provavelmente essa distância que existe para a concretização de seu amor só faz aumentar ainda mais seu sentimento. Percebe-se a insistência sobre a inseparabilidade do prazer e da dor, como se para amar tivesse também que sofrer, pois o amor seria elevado por esse sofrimento. Segundo Walter Benjamin "a vida trágica é mais imanente de todas as vidas, por isso seus limites sempre se fundem com os da morte... para a tragédia, a morte – o limite em si – é uma realidade sempre indissoluvelmente ligada a cada um dos acontecimentos trágicos"

Seres apaixonados em luta contra uma sociedade injusta, preconceituosa e materialista, que não desistem de sua luta maior, pelo seu amor. Sabem que não deveriam ter se apaixonado pelo outro, mas não conseguem abdicar da paixão que fatalmente os uniu. Enfrentam todas as variações que lhes impõem o destino, buscando loucamente uma felicidade que se apresenta cada vez mais distante.

Assim, quando se torna impossível a resistência, quando os interesses familiares e sociais mostram-se mais fortes, a união dos apaixonados só será possível por uma via: a morte.O amor romântico encontra na morte a sua mais pura forma de realização, o papel da morte é apresentar-se como solução ao amor terrenamente impossível. Nesta visão trágica do mundo encontram-se fundidas vida e morte, ascensão e decadência da pretensa realização de desejos. Aceitar um sentimento com tantas forças contrárias é, também, aceitar a infelicidade e a aceitação trágica da morte decorre da impossibilidade de concretização do amor, ou seja, a transcendência deste sentimento.

A personagem Mariana amo sem sercorrespondida, e parece encontrar forças mesmo neste amor unilateral, ela consegue encontrarprazer em seu sofrimento, pois acompanha Simão por todo o seu calvário, sequer vacilando uma única vez. Nas palavras de Nietzche:

"A nossa natureza mais íntima, o fundo comum do nosso ser, encontra um prazer indispensável e uma alegria profunda na imensa paixão de sonhar"

No capítulo XIX na pág 139, já caminhando para o final da narrativa, a morte vai se tornando idéia fixa tanto para Simão quanto para Teresa, ambos cada vez mais se convencem de sua iminente necessidade. Simão assim escreve em sua carta:

"não temos nada neste mundo. Caminhemos ao encontro da morte... há um segredo que só no sepulcro se sabe. Ver-nos-emos? (...) E, se não, morre, Teresa, que a felicidade é a morte, é o desfazerem-se em pó as fibras laceradas pela dor, é o esquecimento que salva das injúrias a memória dos padecentes"

Teresa lhe responde: "Morrerei Simão, morrerei (...) e morro, porque não posso, nem poderei jamaisresgatar-te."

O pensamento romântico em Amor de perdição trabalha a união de dois seres pela morte, a verdadeira união, indestrutível, infinita, elevação à unidade suprema que só será concretizada através de muitos sofrimentos e privações encontrando no amor romântico, a morte como a mais pura forma de realização.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A MATURIDADE AFETIVA

A afetividade não está por assim dizer encerrada no coração, nos sentimentos, mas permeia toda a personalidade.

Estamos continuamente sentindo aquilo que pensamos e fazemos. Por isso, qualquer distúrbio da vida afetiva acaba por impedir ou pelo menos entravar o amadurecimento da personalidade como um todo.

Observamos isto claramente no fenômeno de "fixação na adolescência" ou na "adolescência retardada". Como já anotamos, o adolescente caracteriza-se por uma afetividade egocêntrica e instável; essa característica, quando não superada na natural evolução da personalidade, pode sofrer uma "fixação", permanecendo no adulto: este é um dos sintomas da imaturidade afetiva.

É significativo verificar como essa imaturidade parece ser uma característica da atual geração. No nosso mundo altamente técnico e cheio de avanços científicos, pouco se tem progredido no conhecimento das profundezas do coração, e daí resulta aquilo que Alexis Carrel, prêmio Nobel de Medicina, apontava no seu célebre trabalho O homem, esse desconhecido: vivemos hoje o drama de um desnível gritante entre o fabuloso progresso técnico e científico e a imaturidade quase infantil no que diz respeito aos sentimentos humanos.

Mesmo em pessoas de alto nível intelectual, ocorre um autêntico analfabetismo afetivo: são indivíduos truncados, incompletos, mal-formados, imaturos; estão preparados para trabalhar de forma eficiente, mas são absolutamente incapazes de amar. Esta desproporção tem conseqüências devastadoras: basta reparar na facilidade com que as pessoas se casam e se "descasam", se "juntam" e se separam. Dão a impressão de reparar apenas na camada epidérmica do amor e de não aprofundar nos valores do coração humano e nas leis do verdadeiro amor.

Quais são, então, os valores do verdadeiro amor? Que significado tem essa palavra?

O amor, na realidade, tem um significado polivalente, tão dificil de definir que já houve quem dissesse que o amor é aquilo que se sente quando se ama, e, se perguntássemos o que se sente quando se ama, só seria possível responder simplesmente: "Amor". Este círculo vicioso deve-se ao que o insigne médico e pensador Gregório Marañon descrevia com precisão: "O amor é algo muito complexo e variado; chama-se amor a muitas coisas que são muito diferentes, mesmo que a sua raiz seja a mesma".

A imaturidade no amor

Hoje, considera-se a satisfação sexual autocentrada como a expressão mais importante do amor. Não o entendia assim o pensamento clássico, que considerava o amor da mãe pelos filhos como o paradigma de todos os tipos de amor: o amor que prefere o bem da pessoa amada ao próprio. Este conceito, perpassando os séculos, permitiu que até um pensador como Hegel, que tem pouco de cristão, afirmasse que "a verdadeira essência do amor consiste em esquecer-se no outro".

Bem diferente é o conceito de amor que se cultua na nossa época. Parece que se retrocedeu a uma espécie de adolescência da humanidade, onde o que mais conta é o prazer. Este fenômeno tem inúmeras manifestações. Referir-nos-emos apenas a algumas delas:

- Edifica-se a vida sentimental sobre uma base pouco sólida: confunde-se amor com namoricos, atração sexual com enamoramento profundo. Todos conhecemos algum "don Juan": um mestre na arte de conquistar e um fracassado à hora da abnegação que todo o amor exige. Incapazes de um amor maduro, essas pessoas nunca chegam a assimilar aquilo que afirmava Montesquieu: "É mais fácil conquistar do que manter a conquista".

- Diviniza-se o amor: "A pessoa imatura - escreve Enrique Rojas - idealiza a vida afetiva e exalta o amor conjugal como algo extraordinário e maravilhoso. Isto constitui um erro, porque não aprofunda na análise. O amor é uma tarefa esforçada de melhora pessoal durante a qual se burilam os defeitos próprios e os que afetam o outro cônjuge [...]. A pessoa imatura converte o outro num absoluto. Isto costuma pagar-se caro. É natural que ao longo do namoro exista um deslumbramento que impede de reparar na realidade, fenômeno que Ortega y Gasset designou por "doença da atenção", mas também é verdade que o difícil convívio diário coloca cada qual no seu lugar; a verdade aflora sem máscaras, e, à medida que se desenvolve a vida ordinária, vai aparecendo a imagem real".(E. Rojas)

- No imaturo, o amor fica "cristalizado", como diz Stendhal, nessa fase de deslumbramento, e não aprofunda na "versão real" que o convívio conjugal vai desvendando. Quando o amor é profundo, as divergências que se descobrem acabam por superar-se; quando é superficial, por ser imaturo, provocam conflitos e freqüentemente rupturas.

- A pessoa afetivamente imatura desconhece que os sentimentos não são estáticos, mas dinâmicos. São suscetíveis de melhora e devem ser cultivados no viver quotidiano. São como plantas delicadas que precisam ser regadas diariamente. "O amor inteligente exige o cuidado dos detalhes pequenos e uma alta porcentagem de artesanato psicológico ".(E.Rojas)

A pessoa consciente, madura, sabe que o amor se constrói dia após dia, lutando por corrigir defeitos, contornar dificuldades, evitar atritos e manifestar sempre afeição e carinho.

- Os imaturos querem antes receber do que dar. Quem é imaturo quer que todos sejam como uma peça integrante da máquina da sua felicidade. Ama somente para que os outros o realizem. Amar para ele é uma forma de satisfazer uma necessidade afetiva, sexual, ou uma forma de auto-afirmação. O amor acaba por tornar-se uma espécie de "grude" que prende os outros ao próprio "eu" para completá-lo ou engrandecê-lo.

Mas esse amor, que não deixa de ser uma forma transferida de egoísmo, desemboca na frustração. Procura cada vez mais atrair os outros para si e os outros vão progressivamente afastando-se dele. Acaba abandonado por todos, porque ninguém quer submeter-se ao seu pegajoso egocentrismo; ninguém quer ser apenas um instrumento da felicidade alheia.

Os sentimentos são caminho de ida e volta; deve haver reciprocidade. A pessoa imatura acaba sempre queixando-se da solidão que ela mesma provocou por falta de espírito de renúncia. A nossa sociedade esqueceu quase tudo sobre o que é o amor. Como diz Enrique Rojas: "Não há felicidade se não há amor e não há amor sem renúncia. Um segmento essencial da afetividade está tecido de sacrifício. Algo que não está na moda, que não é popular, mas que acaba por ser fundamental".

Há pouco, um amigo, professor de uma Faculdade de Jornalismo, referiu-me um episódio relacionado com um seu primo - extremamente egoísta - que se tinha casado e separado três vezes. No cartão de Natal, após desejar-lhe boas festas, esse professor perguntava-lhe em que situação afetiva se encontrava. Recebeu uma resposta chocante: "Assino eu e a minha gata. Como ela não sabe assinar, o faz estampando a sua pata no cartão: são as suas marcas digitais. Este animalzinho é o único que quer permanecer ao meu lado. É o único que me ama".

O imaturo pretende introduzir o outro no seu projeto pessoal de vida, em vez de tentar contribuir com o outro num projeto construído em comum. A felicidade do cônjuge, da família e dos filhos: esse é o projeto comum do verdadeiro amor. As pessoas imaturas não compreendem que a dedicação aos filhos constitui um fator importante para a estabilidade afetiva dos pais. Também não assimilaram a idéia de que, para se realizarem a si mesmos, têm de se empenhar na realização do cônjuge. Quem não é solidário termina solitário. Ou juntando-se a uma "gatinha", seja de que espécie for.

[Rafael Llano Cifuentes]

O Círculo Vicioso do Amor Imaturo

Facilitando a análise do que continuamos repetindo em nossas vidas desde a infância e que nos impedem de seguir de forma confiante e com resultados positivos, podemos identificar crenças ou valores que devem ser modificados, trazendo uma nova forma de pensar e sentir e assim um novo comportamento que trará uma resposta positiva em sua vida.

O Círculo Vicioso começa na infância, onde todas as imagens são formadas. A criança é indefesa e precisa de cuidados, ela não pode manter-se sobre as próprias pernas, não pode tomar decisões, não pode alimentar-se sozinho. Portanto, por necessidade, a criança tem uma afetividade egocêntrica. Consequentemente a criança é incapaz de sentir um amor altruísta.

O adulto maduro desenvolve-se em direção a esse amor altruísta desde que a personalidade amadureça harmoniosamente e contanto que nenhuma das reações infantis permaneça oculta no inconsciente. Se isso acontecer, apenas uma parte da personalidade vai crescer, enquanto a outra parte, continuará imatura.

Existem de fato, poucos adultos tão maduros emocional quanto intelectualmente. Estou colocando esse texto exatamente por ser muito comum entre nós, esse círculo vicioso e com a proposta de tornar consciente uma maior parte desses passos percorridos na infância. Entrando em contato com cada sentimento de cada situação, será possível ser revelado e dissolvido por inteiro o seu processo inconsciente, colaborando para uma vida afetiva madura na vida adulta.

Para chegar a esse ponto, sugiro que vá acompanhando cada parte descrita a seguir do processo infantil entrando em contato com suas lembranças, com a finalidade de procurar algo que ainda não era consciente. Use palavras chaves do próprio texto, para cada passo que achar significativo, formando um esquema para sua orientação de consciência.

A criança quer amor exclusivo

A criança anseia por um amor exclusivo que não é humanamente possível. O amor que ela quer é egoísta, ela não quer dividir amor com os outros, com os irmãos ou irmãs ou mesmo com um dos pais. A criança com frequência tem ciúmes de ambos os pais. Contudo, se ela sentem que os pais não se amam, a criança sofre ainda mais.

Assim, o primeiro conflito surge de dois desejos opostos. Por um lado, a criança deseja o amor de ambos os pais exclusivamente, por outro lado, ela sofre se os pais não se amam. Uma vez que a capacidade de amor de qualquer pai ou mãe é imperfeita, a criança não compreende que apesar da imperfeição a maioria dos pais é ainda assim plenamente capaz de amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Todavia, a criança se sente rejeitada e excluída se o pai ou a mãe também amam outras pessoas.

Essa frustração faz com que a criança sinta-se rejeitada, o que, por sua vez, causa ódio, ressentimento, hostilidade e agressão. Essa é a segunda parte do círculo vicioso. A necessidade de amor incondicional que não pode ser satisfeita, gera ódio e hostilidade em relação às mesmas pessoas a quem mais se ama. De modo geral esse é o segundo conflito do ser humano em crescimento. Se a criança odiasse alguém a quem ela não amasse, ou se ela amasse à sua própria maneira e não desejasse amor em retorno, tal conflito não poderia surgir.

O fato de existir ódio pela própria pessoa que se ama muito, cria um importante conflito na psique humana. É óbvio que a criança sente-se envergonhada dessas emoções negativas e portanto coloca esse conflito no inconsciente, onde ele se torna um "nó" para o futuro. O ódio causa culpa, porque a criança é ensinada desde cedo que é feio, que é errado e é pecado odiar. O que dirá então odiar os pais, a quem se deve amar e honrar acima de tudo.

É essa culpa, vivendo sempre no inconsciente, que na personalidade adulta causa toda sorte de conflitos internos e externos.

Medo do castigo e medo da felicidade

Ao se sentir culpado, o inconsciente da criança diz: "Eu mereço ser castigado". A criança por sua vez sente medo de ser castigado e assim inicia-se uma outra reação na qual, sempre que você está feliz e sente prazer, apesar de esse ser um anseio natural do ser humano, você sente que não merece. A culpa por odiar aqueles que mais ama convence a criança de que não é merecedora de nada que seja bom, alegre e prazeroso.

Portanto, a criança evita inconscientemente a felicidade, criando situações e padrões que parecem destruir o que é mais desejado na vida. É esse medo da felicidade que leva uma pessoa a todos os tipos de reações, sintomas, esforços não saudáveis, manipulações de emoções e até mesmo a ações que indiretamente criam padrões mentais que parecem acontecer involuntariamente, sem que a personalidade seja responsável por eles, atraindo para sua vida as mais diversas situações de escancarado auto-boicote, (Lei da Atração).

Embora o desejo de felicidade jamais possa ser erradicado, ainda assim, devido a esse sentimento de culpa profundamente oculto, quanto mais se deseja a felicidade, mais culpado se sente. O medo de ser punido e o medo de não merecer a felicidade, cria então o desejo compulsivo de auto-punição como uma forma de evitar a humilhação de ser punido por outras pessoas, ou pelo destino, ou por Deus, ou pela vida.

Assim, a personalidade inflinge um castigo a si mesma. Isso pode ocorrer de várias maneiras, como através de doenças físicas produzidas pela própria psique ou por vários infortúnios, dificuldades, fracassos ou conflitos em qualquer área da vida. Portanto, caso exista uma imagem relacionada com a profissão ou a carreira, por exemplo, ela será fortalecida pelo desejo inerente de auto-punição e assim dificuldades nesse aspecto surgirão constantemente na vida da pessoa. Ou se existir uma imagem ligada ao amor, à vida conjugal, o mesmo se aplicará nesse caso, frustrando sempre seus relacionamentos.

Portanto, se e quando você não for bem-sucedido em um desejo consciente e legítimo e olhando para a sua vida você descobrir que a satisfação desse desejo consciente foi constantemente frustrada, formando um padrão, como se você nada tivesse a ver com isso (como se um destino cruel, tivesse se abatido sobre sua cabeça), pode estar certo de que não apenas uma imagem e uma conclusão errônea existem em seu interior, mas que, além disso, a necessidade de auto-punição também está presente.

A divisão original entre amor e ódio que iniciou o círculo vicioso, causa mais divisões.

Como exemplo, vimos que a necessidade de auto-punição coexite com o desejo de não ser punido. Com isso uma parte oculta da psique argumenta: "Se eu for perfeito, se eu não tiver falhas nem fraquezas, se eu for o melhor em tudo que fizer, então as pessoas vão me amar incondicionalmente e não vou sentir ódio e portanto não precisarei ser punido".

Duas consciências

Você pensa que, sendo tão perfeito, pode fugir do castigo. Dessa forma, uma segunda consciência está sendo criada. Na realidade, existe apenas uma consciência: que é o Eu Superior, eterno e indestrutível. Não confunda esta consciência com a segunda consciência (Ego) artificialmente criada pela compulsão de compensar um suposto pecado. Na realidade, ninguém precisa ser punido.

O que acontece quando você não consegue atingir as metas impossíves exigidas pela segunda consciência de ser o certinho?

Inevitavelmente, o resultado será um sentimento de inadequação e inferioridade. Você se sente completamente isolado e envergonhado, com o seu segredo carregado de culpa de não apenas odiar, mas também de ser incapaz de ser o certinho. Esta consciência é muito orgulhosa para perceber que você simplesmente não pode ser tão perfeito. Portanto, você necessariamente vai se sentir inferior. Enquanto este fato não for sentido e experimentado, você não pode abandonar os sentimentos de inferioridade. As racionalizações que você usa para explicar os seus sentimentos de inferioridade, nunca são a verdadeira causa.

Sem os seus padrões artificialmente elevados, você não sentiria a necessidade de ser melhor que, ou pelo menos tão bom quanto os outros em todos os campos da sua vida. Você poderia aceitar com tranquilidade que outras pessoas são melhores ou tem melhor desempenho em algumas áreas, enquanto você tem vantagens que outros podem não ter. Você não teria que ser tão inteligente, tão bem-sucedido, tão bonito quanto as outras pessoas. Esse jamais é o verdadeiro motivo para os seus sentimentos de inadequação e inferioridade.

Perpetuação da inadequação e da inferioridade

Essa inadequação e inferioridade servem para fechar ainda mais esse círculo vicioso. Novamente, a sua vozinha interior argumenta: "Eu fracassei. Sei que sou inferior, mas, talvez se eu pudesse pelo menos receber uma grande quantidade de amor, de respeito e de admiração dos outros, isso traria a mesma satisfação pela qual eu originalmente ansiava e que me foi negada no passado, colocando-me assim "forçosamente" na posição de odiar e de criar todo esse círculo vicioso. A admiração e o respeito dos outros seriam também a prova de que eu não sou um fracasso, assim é possível agora receber o que meus pais me "negaram". Isso vai mostrar que eu não sou tão inútil quanto suspeito quando falho em corresponder aos padrões da minha consciência compulsiva".

Portanto, o círculo vicioso, fecha onde começou, e a necessidade de ser amado torna-se muito mais compulsiva do que era inicialmente.

Vale ressaltar que algumas pessoas podem desenvolver doenças que são uma forma de ataque de raiva infantil, ou podem simplesmente tornar a vida difícil para aqueles que as cercam. Por meio de sua infelicidade, essas pessoas infligem constantemente dificuldades aos outros, com o objetivo de impor sua vontade e sua necessidade compulsiva de receber a utopia pueril de amor e cuidado perfeitos. Isso pode acontecer em vários graus. As vezes é bastante óbvio, outras vezes é muito mais sutil e camuflado. O que as pessoas dizem quando entram em tal comportamento é: "Eu estou infeliz, você tem que tomar conta de mim. Você tem que me amar".

Porém, só quando você deseja amor de maneira saudável e madura e, apenas quando você está disposto a amar na mesma medida em que deseja ser amado, é que o amor virá. A vida é sempre justa e equilibrada, você nunca recebe mais do que investe. O que você dá, virá de volta, contanto que você não dê falsamente, sem sentir realmente, sem ser de verdade, só com o intuito de provar alguma coisa ou mostrar o que não é.

O amor que você deseja na idéia equivocada de que vai deixá-lo quite não é a resposta, é novamente começar o círculo com uma dose ainda maior de frustração.

A dissolução do círculo

O seu trabalho é descobrir esse círculo dentro de você, terá que ver quando em criança você tinha justificativa para o fato de ter certos sentimentos, atitudes e incapacidades que agora não te servem mais. Terá também que aprender a ser tolerante com as suas emoções negativas. Você tem que compreendê-las. Tem que descobrir onde você se desvia do seu conhecimento consciente nas suas tendências, exigências e desejos emocionais.

As situações tem que se tornar completamente conscientes antes que você possa ter esperanças em romper o círculo. Vão ocorrer situações que parecem castigos, quando na verdade são o remédio para colocá-lo na trilha certa. Através das suas dificuldades, você então finalmente poderá chegar ao ponto em que muda a sua direção interna.

Essa é a única liberação possível, libertação dos seus altos padrões compulsivos que o fazem sentir culpado e não merecedor.