sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Psicopata: o parasita que mora ao lado

Psicopata que faz picadinho de quem pega carona. Psicopata que tortura uma família inteira num feriado. Psicopata líder de seita assassina. Psicopata canibal. Se todos os psicopatas usassem a máscara do Jason do Sexta-Feira 13, seria mais fácil mudar de calçada na mesma hora. Só que na vida real a maioria deles não tem a fachada nem os modos de um assassino sanguinário. E mais: poucos são os que matam ou aparecem nas manchetes.

"O psicopata com uma postura criminosa é o do tipo predatório, que satisfaz suas necessidades por meio de uma ação destruidora, agressiva e fria", diz Antônio de Pádua Serafim, coordenador do programa forense do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. "Mas há o psicopata parasitário, que só se aproveita das pessoas mais vulneráveis para conseguir o que ele quer. Esse não adotará, necessariamente, uma conduta criminosa, mas provocará estrago no ambiente social", afirma.

O parasita pode passar a vida inteira sem chamar a atenção, apenas fazendo a especialidade do psicopata: manipular os outros, aproveitar-se do próximo, desestabilizar famílias, passar a rasteira em alguém para se dar bem.

E onde está essa gente mal-intencionada? Talvez no seu escritório, decidindo que ninguém vai ter participação nos lucros do ano - só ele. Ou entre os seus amigos, pedindo que banquem a conta da noitada (esqueceu a carteira...). Ou pior: talvez esteja na sua cama.

Caiu a ficha? Os psicopatas estão entre nós, e não é nada fácil identificá-los. "A dissimulação é um dos principais sintomas que compõem a psicopatia", diz Geraldo José Ballone, professor de psiquiatria da PUC de Campinas. "A simpatia e o carisma encobrem o seu verdadeiro perfil. Em geral, quando percebemos a possibilidade de um conhecido ser psicopata, o dano já está feito", diz Ballone.

Então, em quem confiar? Se você não quer ter um parasita manipulador azucrinando a sua vida, preste atenção às características de colegas, amantes e amigos psicopatas.

NA AMIZADE

É fácil confundir aquele amigo grudento e folgado com um psicopata. Os dois estão sempre telefonando em horas impróprias, não saem da sua casa, bebem a sua cerveja, pedem os seus livros emprestados e não devolvem. Mas o chato de galocha tem fácil solução: você o ignora, dá um chega para lá, e isso resolve. Mas, se for um psicopata de verdade, pode rezar.

No começo, é o amigo de fé. De tanto estudar a sua personalidade, projeta em si uma imagem que bate com tudo o que você espera de um irmão camarada. Assim, conquista a sua confiança e participa cada vez mais da sua vida. "Ele suga tudo que o relacionamento pode oferecer, de dinheiro e bens materiais à submissão quase escravista", diz o psiquiatra Geraldo José Ballone. Grudado no companheiro saudável, consegue tudo do amigo para si: status, dinheiro na conta, casa na praia, geladeira cheia, carro novo... E os empréstimos sempre são acompanhados de uma história comovente.

A marcação cerrada do "melhor amigo" custa à vítima a vida própria: lá se vão o namoro e outras amizades. Quando se dá conta, já é tarde demais.

Na hora de dar um basta no camarada sacana, o amigo ainda fica com pena. "Isso ocorre porque, quase sempre, a vítima é a última a acreditar na índole sociopática do amigo", afirma Ballone. Mas a recíproca não é verdadeira: quando já arruinou suas relações, o psicopata vem com a história de que precisa comprar cigarros... e some. Ele pode não arrancar pedaços do seu fígado para comer no café-da-manhã, mas vai tirar um bocado do que você tem de autoestima, dignidade e confiança no próximo.

NO AMOR

Num relacionamento amoroso o psicopata também extrai tudo de aproveitável da outra pessoa, até só sobrar o bagaço. Se a namorada for famosa, é para ganhar status. Se a esposa for bonita-bacana-inteligente, é para exibir como troféu. Se tiver dinheiro, então...
Foi o caso da americana Donna Andersen, uma mulher que, perto dos 40 anos, conheceu pela internet a versão melhorada do Sean Connery. Pelo menos era como o viúvo James Montgomery se descrevia. Militar das Forças Especiais da Austrália, foi condecorado por atos de bravura no Vietnã. Já distante da troca de tiros com vietcongues, entrou para a indústria de entretenimento dos EUA. Após algum tempo de e-mails, casaram-se.

Apesar de se dizer tão bem de vida, Montgomery logo convenceu a mulher a patrocinar os seus negócios. Um deles: vender restos do Titanic num show itinerante. O "itinerante" significava que Montgomery tinha gastos estratosféricos com passagens aéreas, contas de celular e outras despesas. Tudo bancado pela dedicada esposa, que tinha um negócio próprio e foi se endividando até chegar ao fundo do poço.

Somente quando o prejuízo beirou os US$ 300 mil, a moça descobriu com quem se casara. Montgomery era maridão de mulheres em outras cidades - daí tantas viagens. E o harém todo pagava pelas aventuras extraconjugais.

Mas como um veterano do Vietnã seria capaz disso? Sua mente teria sido afetada pelos horrores do campo de batalha? Não. Apesar de dar palestras sobre a guerra em escolas, participar de desfiles de veteranos e passear com o cachorro de boina verde, Montgomery nunca tinha sido do Exército.

DO CÉU AO INFERNO

"Não há jeito de manter um relacionamento com um psicopata sem se ferir de algum modo", afirma Sandra L. Brown, autora do livro Women Who Love Psychopaths ("Mulheres Que Amam Psicopatas"). "Não existe uma cartilha do tipo ‘como ter uma relação feliz e sadia com um psicopata’. As pessoas normais são sempre afetadas pela patologia dos seus parceiros." E por que insistir num romance que inevitavelmente vai deixar cicatrizes?

Porque o coração é cego e burro, e isso dá espaço para o psicopata pôr em prática sua estratégia de abordagem.

Funciona assim: enquanto conhece a vítima, ele se empenha em descobrir seu calcanhar-de-aquiles. Se a garota tem complexo de inferioridade, trata de apontar beleza onde o resto do mundo vê a Betty, a Feia. Se a garota procura um cara bem de vida para apresentar aos pais, ele diz que herdará 5 fazendas no Mato Grosso. Tudo mentira, claro. Mesmo que nunca pague a conta nos restaurantes, ele disfarça com tanto charme que a cara-metade nem se importa.

Uma vez estabelecida a relação, o psicopata começa a mostrar as garras. Vive às custas do outro, mantém casos extraconjugais, só pensa na própria satisfação e impõe uma relação de posse. E, por mais que apronte, ele sempre transfere a sua culpa à vítima. Se abusar do dinheiro da namorada rica e mais velha, será porque sua infância foi difícil e miserável; se for pego pulando a cerca, será porque a mulher não lhe dá a atenção devida.

Se você descobriu que se casou com um psicopata, prepare-se, pois não vai ser fácil romper com ele. Quando não precisa mais do relacionamento, o psicopata novamente sai para comprar cigarros e nunca mais dá as caras. Mas, se a situação for inversa e sentir que perdeu um brinquedo que lhe pertencia, o cara vai dar trabalho. "O psicopata vai ignorar a vontade da vítima. Poderá segui-la, arquitetar uma vingança e chegar até a ameaçar a vida da pessoa", diz Sandra Brown. "Quem deseja terminar uma relação com um psicopata precisa de ajuda para traçar um plano seguro de saída."

NO TRABALHO

O ambiente das grandes empresas é um cenário convidativo para o psicopata montar seu teatro - principalmente a partir dos anos 90, numa competitiva era de aquisições, fusões e falências em que, para sobreviver, organizações se tornaram menos burocráticas e controladoras e muito mais agressivas.

Segundo Paul Babiak em seu livro Snakes in Suits ("Cobras de Terno"), a autoconfiança, a força e a frieza que caracterizam os psicopatas fez a cabeça de muitos caçadores de talentos que buscavam funcionários "proativos" e dispostos a assumir riscos. "Egocentrismo e insensibilidade tornaram-se repentinamente defeitos toleráveis na hora de buscar talentos necessários para sobreviver num mundo de negócios acelerado", diz Babiak.

Mas, ao procurar pessoas com senso de liderança - isto é, que assumem metas, tomam decisões sem medo e obtêm dos outros o necessário para tais metas -, tornou-se fácil confundi-las com um pacote de coerção, dominação e manipulação ocultado por uma bela embalagem.

E como um departamento de RH bem estruturado deixa passar um psicopata após tantas análises de currículos, entrevistas e dinâmicas?

Simples: o psicopata tem um talento enorme para enganar. Se ele colocar na cabeça que quer ser piloto de uma companhia aérea, vai dar um jeito de forjar um comprovante da Nasa dizendo que já foi até astronauta. Vai mentir no currículo, vai mentir nas entrevistas e vai fazer tudo isso com o sangue frio e o charme. Psicopatas são convincentes, encantadores e conseguem transformar um punhado de conhecimentos superficiais numa tese de doutorado.

E o que pode resultar da contratação de um psicopata? Dificilmente algo que preste. Para começo de conversa, ele não tem espírito de equipe. Muito pelo contrário: se for preciso puxar o tapete de um colega para promover-se, não vai pensar duas vezes. Outro lado da questão é que o psicopata não tem o menor interesse no futuro da empresa. Para ele importa o aqui-e-agora, a satisfação rápida e intransferível.

Além disso, psicopata não compartilha dos mesmos valores da companhia e de seus colegas. A diretoria quer gente que dê duro, todo dia, das 8 às 18 horas, e que vista a camisa da empresa? Pode esquecer. Ele até consegue encarar essa rotina por um certo tempo, sempre com a intenção de passar uma imagem falsa. Mas os únicos valores que lhe dizem respeito são só os que estão na própria cabeça.

Como regras sociais não lhe dizem nada, ele frequentemente comete atos ilegais, o que joga a reputação da empresa no buraco. Desvio de grana, assédio moral e sexual são corriqueiros. Por isso, não dura muito na empresa. No entanto, sua passagem é um vendaval (veja o quadro à esquerda).

Se a trajetória do psicopata não prejudicar a empresa como um todo, no mínimo alguém vai sofrer com seu convívio. Nas mãos de um mestre da mentira e da manipulação, seu colega precisa passar o expediente todo com os olhos nas costas - caso contrário, vai acabar fazendo o trabalho que o psicopata deixa de lado (sem levar os créditos por isso), além de ser envolvido numa teia de intrigas.

Esse é o seu caso? Então fique contente por ele não ser seu chefe. Em algum momento você já disse que seu chefe é um carrasco. Pode ser verdade, mas daí para ele ser um psicopata são outros quinhentos.

Ele vai sentir prazer físico em humilhá-lo na frente de colegas e de outros chefes; vai culpá-lo por qualquer porcaria que ele mesmo fez, e vai assumir o crédito por qualquer trabalho bacana que você produzir.

Sim, abusos de autoridade e falta de ética não são exclusividades de chefes psicopatas. A diferença é que, para o psicopata, esse é o padrão.

Como lidar com um amigo psicopata

Ligue o detector de mentiras

Psicopata mente mais que político em campanha. É um especialista no assunto, mas a constância das papagaiadas acaba entregando o sujeito. Se 90% do que seu amigo diz parece cascata da brava, mantenha os dois pés atrás.

Ouça a voz da razão

Sua namorada não vai com a cara do seu amigo, diz que é folgado, que só se aproveita de você e não merece um pingo da sua dedicação? Ok, namorada diz isso de todos os nossos amigos. Mas, se a turma toda concordar, fique com a pulga atrás da orelha.
Esconda a grana

Só empreste dinheiro para seu amigo se tiver certeza de que não é um psicopata. Se for e concluir que você é um cofre ambulante, prepare-se para ver sua conta no fundo do poço. Ele sempre vai convencê-lo de que pagará tudo, com juros, no fim do mês. Só não vai dizer de qual mês.

Não seja cúmplice

"Uma mão lava a outra", "te devo uma" e "só pediria uma coisa dessas a você" são clássicos do psicopata. Mas nunca negocie com o Diabo. Se fizerem bobagem juntos e forem descobertos, adivinhe para quem vai apontar o dedo...

Feche a porta de casa

O pior que você pode fazer, numa amizade com um psicopata, é dividir a sua casa. Enquanto você mantiver a geladeira cheia e pagar o aluguel sozinho, ele não vai ter motivo para procurar outro teto. A não ser que arrume alguém mais trouxa.

Imponha regras

Ignorou a dica aí de cima? Enquanto não arruma uma boa desculpa para despejá-lo, mostre quem manda na casa. Sujou, limpou. E o que é seu é seu. Para casos extremos, coloque etiquetas nos seus xampus, iogurtes, cds preferidos.

Caia fora

Você só tem a perder na amizade com um psicopata. Além de se aproveitar de você, ele vive num mundo fora das regras sociais, o que torna qualquer relacionamento perigoso. Se sua casa ainda está inteira e você não perdeu a namorada ou os outros amigos, considere-se um sortudo e corte o mal pela raiz. Agora! Já!

O que fazer quando seu amor é um psicopata

Desconfie quando a esmola for muita

Nos primeiros encontros, sua cara-metade é a gentileza em pessoa? Quer jogar golfe com o seu pai? Adorou o filme iraniano de que só você gosta? Diz que tem dinheiro à beça, mas não pode falar sobre o trabalho porque é agente secreto? Ou você acertou na Mega-Sena ou arrumou um psicopata.

Banque o Sherlock

Psicopata legítimo já vem de berço. E ninguém melhor que os parentes e os amigos (se ele tiver) para revelar seus podres. Chame a sogrona de canto e comece o questionário. Se não der certo, tente o irmão caçula. Esse deve ter uns quinhentos motivos para dedurar as torturas do mais velho.

Não tenha pena

Psicopata que é psicopata adora se fazer de coitado. Se enche a sua cara de porrada, é porque você o mata de ciúme. Se rouba a sua grana, diz que mandou para a avó doente que mora no interior. Às vezes, até chora enquanto dispara as lorotas. Tadinho...

Não tente mudá-lo

Coloque uma coisa na cabeça: psicopatas não têm cura. Não adianta rezar, fazer simpatia, levar à mãe-de-santo. Muito menos achar que a força do amor vai regenerá-lo. Uma hora, a pessoa vai aprontar, e vai sobrar para você.

Não vacile

Se desconfia que o amorzão é um baita de um psicopata, não dê sopa para o azar. Conta conjunta, só por cima do seu cadáver. E suma com machados, serras elétricas e outras ferramentas que viram armas. Resumindo: se ele ainda não pensou em fazer picadinho de você, não dê ideia.

Compre um cachorro

É batata. Dez entre dez psicopatas treinam suas maldades no vira-lata mais próximo. Fique atento ao modo como seu par trata o cãozinho. Se vibra de prazer ao amarrar rojão no rabo do cachorro, imagine o que ele pode fazer com você.
Caia fora

Descobriu o que todo mundo via, menos você? Então dê no pé enquanto é tempo. Só lembrando: psicopatas não reagem bem quando levam um fora. Troque o número do telefone e a fechadura da casa. Também é boa hora para aquela viagem que você tanto adiava para a Oceania.

Como sobreviver a um chefe psicopata

Seja um Top Gun

Qualquer desempenho abaixo da perfeição é o sonho do chefe psicopata. Ele é pago para ava­liar o seu trabalho e vai explorar suas deficiências ao máximo. Qualquer pequeno deslize pode virar um tsunami. Mas, se você for um ninja em tudo o que faz, ele vai escolher outro alvo.

Deixe por escrito

Tudo de que o psicopata precisa é um escritório em que ninguém consegue provar as suas sacanagens. Será a sua palavra contra a dele. E ele é o chefe, o lado mais forte da corda. Então guarde os e-mails trocados, faça atas de reunião, registre tudo o que puder. Assim, as mentiras dele terão perna curta.

Conte até 100

Brigar com o chefe nunca é uma boa ideia. Com o psicopata, então, é suicídio; ele é mestre em trazer o seu pior lado à tona. Evite atritos e, quando for inevitável, não perca a cabeça. Ah, e não desconte no cachorro ou no irmão caçula quando voltar do trampo.

Ponha a boca no mundo

Procure o RH e faça as suas queixas. Em algumas empresas, você pode até manter anonimato, mas lembre-se de que isso enfraquece a sua história; tem que haver outras reclamações parecidas para o bicho pegar para ele.

Peça uma transferência

O psicopata do seu chefe resolveu pegar bem no seu pé? Busque alternativas para ficar longe dele. Pode haver uma vaga em outro departamento. E pode ser do outro lado da cidade.

Caia fora

Emprego não é casamento. Se nada funcionar, atualize o currículo e avise sua rede de contatos que está à caça de "novos desafios". Melhor que passar o resto da vida deprimido no domingo à noite, antecipando os sofrimentos da semana.

Os passos do parasita engravatado
Segundo Babiak, o aminho do psicopata no mundo corporativo tem 5 fases

1. CONTRATAÇÃO
Sua capacidade de contar lorotas e seduzir está a todo vapor. A incapacidade de se emocionar também vai contar pontos na comparação com outros candidatos, prejudicados pelo nervosismo natural das entrevistas de emprego.
2. ACLIMATAÇÃO
Agora o psicopata tenta descobrir quais são as pessoas mais importantes da empresa. Seu objetivo é ficar íntimo delas para influenciá-las em decisões que o beneficiem.
3. MANIPULAÇÃO
Começa o seu jo­guinho. Faz fofocas sobre potenciais concorrentes a uma promoção, joga informações falsas na “rádio-peão”. Quanto maior o caos, mais ele se sente em casa.
4. CONFRONTAÇÃO
O psicopata começa a tirar a máscara, pois precisa livrar-se dos que usou para avançar na empresa. O colega que foi confidente e cúmplice passa a ser humilhado e ameaçado.
5. PROMOÇÃO
Depois de muito mexer as peças de um xadrez perverso, o psicopata avança na empresa, conquistando um posto de maior poder e deixando um rastro de destruição atrás de si. Pronto, o estrago está feito.

 

[SANTOS, Alexandre Carvalho dos. O parasita mora ao lado. Revista Super Interessante]

O cérebro do psicopata

Numa chacina, corpos estendidos no chão com veias jugulares perfuradas jorrando sangue, olhos cortados e tripas para fora. Uma velhinha está sendo espancada, uma criança chora de fome e um político está mentindo desbragadamente. Se a esta altura você está quase vomitando e com os cabelos em pé, esse é um bom sinal. Seu cérebro ativou áreas que envolvem emoções complexas, como julgamentos morais, e isso fez com que você se sentisse mal ou tremendamente inconformado. Já essas áreas do cérebro do psicopata não reagem da mesma forma.

A morfologia do cérebro de um psicopata parece ser diferente se comparada a um cérebro normal ou ainda a um cérebro com outros transtornos. É o que descobriram os neurologistas brasileiros Jorge Moll e Ricardo de Oliveira-Souza, da Unidade de Neurociência Cognitiva e Comportamental da Rede Labs-D’Or, do Rio de Janeiro.

Num estudo com ressonância magnética de altíssima precisão, usaram 15 pessoas normais sem nenhum histórico de distúrbios neurológicos e 15 pessoas diagnosticadas como "psicopatas comunitários". Não se tratava de assassinos ou pes­soas violentas, e sim as chamadas "ervas daninhas", que corroem a sociedade e as relações.

Enquanto essas pessoas estavam dentro do aparelho de ressonância, eram submetidas a diversas imagens e sons, alternando entre cenas horripilantes e outas neutras. Nesses momentos, os cérebros naturalmente faziam mais ou menos julgamentos morais.

Conclusão: as imagens mostraram que no cérebro psicopata há pouca atividade nas estruturas ligadas às emoções morais e às primárias (aquelas que compartilhamos com os animais, como o medo, por exemplo) e um aumento da atividade nos circuitos cognitivos. Ou seja: os psicopatas comunitários, assim como os violentos, parecem funcionar com muita razão e pouca emoção.

Anatomia do mal

Confira quais são e onde ocorrem as alterações morfológicas na cabeça dos psicopatas

1. Lobos Frontais 1
Quando uma pessoa faz um julgamento moral, ativam-se as áreas pré-frontais, responsáveis pelos aspectos frios e racionais desse julgamento. Aqui, o cérebro do psicopata tem uma ativação maior do que o normal.

2. Lobos frontais 2
O córtex frontopolar e parte do pré-frontal também são ativados. São fundamentais para o senso das responsabilidades sociais, para a capacidade de concentração e de abstração, e para o planejamento futuro em relação às emoções e questões sociais. Eles determinam a capacidade de ter e antecipar o sentimento de culpa. Aqui, os psicopatas têm uma ativação baixa.

3. Lobos temporais anteriores
São importantes para decodificar sutilezas emocionais e semânticas em interações sociais. Trabalham em conjunto com os lobos frontais e com as áreas límbicas quando temos que fazer interpretações ou tomar decisões sociais. Têm baixa atividade nos psicopatas.

4. Sistema límbico
É o centro de nossas emoções. Aciona-se, por exemplo, quando sentimos ansiedade ao ver uma pessoa acidentada, ou medo de fazer algo errado, ou ainda compaixão ao olhar um idoso ou criança desamparada. Tem baixíssima ativação em psicopatas.

 

[SIGARION, Mariana. Cérebro em transe. Revista Super Interessante]

As várias faces do Psicopata

No primeiro contato ele é o espelho que completa as nossas fraquezas. Boas credenciais, símbolos de status, carisma, histórias fascinantes e talento para identificar e preencher nossas carências.

Ele conquista nossa confiança como amigo, parceiro sexual, colega de trabalho, médico, consultor financeiro. Até que caia sua máscara de normalidade e ele mostre que, ao contrário de sua encenação, não sente remorso nem vergonha ao agir de forma imoral. É indiferente ao bem-estar alheio e, sem freios morais, é capaz de pôr em prática qualquer plano para atingir seus desejos.

Segundo a Associação Americana de Psiquiatria (APA, da sigla em inglês), 3% dos homens e 1% das mulheres são incapazes de internalizar regras sociais. São portadores do que a bíblia dos psiquiatras - o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais da APA - chama de transtorno da per­sonalidade antissocial (TPAS). Ou do que o psicólogo canadense Robert Hare, maior especialista do assunto, chama de psicopatia.
Embora os dois conceitos sejam comumente usados como sinônimos, há uma diferença em seu diagnóstico. O TPAS é identificado a partir do comportamento antissocial; já a psicopatia e a sociopatia - que são termos equivalentes - dizem respeito tanto ao comportamento quanto a um conjunto de traços de personalidade (veja quadro à esquerda). Nesta revista, escolhemos usar o termo psicopatia, que, segundo Hare, é diagnosticado em menos pessoas - 1% da população.

CONTRATO ANTISSOCIAL

Por temerem os riscos de uma sociedade regida por desejos individuais conflitantes, pessoas normais aceitam abrir mão de certas vontades e seguem regras, sejam formalizadas em leis, sejam baseadas numa ideia religiosa ou filosófica de certo ou errado. É o tal do contrato social. Já emocionalmente elas seguem essas regras por se comoverem com os sentimentos, direitos e bem-estar dos que estão à sua volta.

No processo de socialização, que acontece, por exemplo, por meio da família e da escola, é moldada a consciência - a voz interna que não as permite estuprar a primeira gostosona que encontrar num beco ermo nem assaltarem velhinhas na saída do INSS.
É essa voz que falta ao psicopata. Não que ele não conheça as regras sociais. Só não está nem aí para elas.

O psicopata também tem dificuldade em sentir emoções. Com isso, sua empatia - a capacidade de se colocar no lugar dos outros - é nula. Quando ele pensa, é só raciocínio, sempre a favor de si. Se quiser estuprar uma mulher, dirá para si mesmo: "Putz, ela pode engravidar e aí vai ser a maior dor de cabeça para mim". Em seguida, concluirá: "Melhor assistir ao Brasileirão". Já, se achar que a consequência vale o prazer, vai estuprá-la, sem remorso.

Mas esse crápula não sabe o que significa compaixão? Claro que sim. Ele não é burro: aprende perfeitamente o significado literal das palavras. Só não consegue apreciar o conteúdo emotivo. Ao ouvir "compaixão", sente o mesmo que ao ouvir "caderno". Seu cérebro funciona diferente do das pes­soas normais (leia matéria da página 36).
Sem emoções, também cresce sem sentir aflição ante a ameaça de castigo. Apenas pesa os prós e contras de ser pego. Assim ele foi quando criança (leia matéria da página 30), e assim ele provavelmente será até morrer.

MELHOR QUE SEXO

Se por um lado psicopatas não sentem emoções, por outro fogem da monotonia. Resultado: 50% usam drogas ilícitas e 70% são dependentes de álcool (21 vezes mais que a população em geral). Também buscam adrenalina em caças a mulheres, disputas de rachas, roletas-russas. Já uma minoria parte para mega-assaltos, estupros e homicídios em série - um poder destruidor que desafia a Justiça e o sistema carcerário .

Sejam predadores, sejam apenas parasitas, os psicopatas estão entre nós. E não é fácil reconhecê-los a tempo: "O leigo pode confundi-lo com uma pessoa sem nenhum transtorno psiquiátrico. Isso por motivos diversos: a ideia equivocada de que o transtorno deva sempre estar acompanhado de sintomas psicóticos, e o fato de ele ser um sujeito eloquente, sedutor, manipulador", diz o psiquiatra forense Elias Abdalla Filho, da Universidade de Brasília. "Por isso é tão comum vizinhos, ao tomarem conhecimento de crimes bárbaros praticados por psicopata, afirmarem que sempre pareceu uma pessoa normal."

Arrogante, mentiroso e irresistível

A ESCALA DE ROBERT HARE

Psiquiatras dão de 0 a 2 a cada um dos 12 tópicos abaixo, a partir da avaliação clínica e do histórico pessoal do paciente. A soma dos pontos é comparada numa escala, que determina o grau de psicopatia.

1. BOA LÁBIA
O psicopata é bem articulado e ótimo marketeiro pessoal. Como um ator em cena, conquista a vítima bajulando e contando histórias mirabolantes de si. Com meia dúzia de palavras difíceis, se passa por sociólogo, médico, filósofo, escritor, artista ou advogado.

2. EGO INFLADO
Ele se acha o cara mais importante do mundo. Seguro de si, cheio de opinião, dominador. Adora ter poder sobre as pessoas e acredita que nenhum palpite vale tanto quanto suas ideias.

3. LOROTA DESENFREADA
Mente tanto que às vezes não se dá conta de que está mentindo. Tem até orgulho de sua capacidade de enganar. Para ele, o mundo é feito de caças e predadores, e não faria sentido não se aproveitar da boa-fé dos mais fracos.

4. SEDE POR ADRENALINA
Não tolera monotonia, e dificilmente fica encostado num trabalho repetitivo ou num casamento. Precisa viver no fio da navalha, quebrando regras. Alguns se aventuram em rachas, outros nas drogas, e uma minoria, no crime.

5. REAÇÃO ESTOURADA
Reage desproporcionalmente a insulto, frustração e ameaça. Mas o estouro vai tão rápido quanto vem, e logo volta a agir como se nada tivesse acontecido - é tão sem emoções que nem sequer rancor ele consegue guardar.

6. IMPULSIVIDADE
Embora racional, não perde tempo pesando prós e contras antes de agir. Se estiver com vontade de algo, vai lá e consegue tirando os obstáculos do caminho. Se passar a vontade, larga tudo. Seu plano é o dia de hoje.

7. COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL
Regras sociais não fazem sentido para quem é movido somente pelo prazer, indiferente ao próximo. Os que viram criminosos em geral não têm preferências: gostam de experimentar todo tipo de crime.

8. FALTA DE CULPA
Por onde passa, deixa bolsos vazios e corações partidos. Mas por que se sentir mal se a dor é do outro, e não dele? Para o psicopata, a culpa é apenas um mecanismo para controlar as pessoas.

9. SENTIMENTOS SUPERFICIAIS
Emoção só existe em palavras. Se namorar, será pelo tesão e pelo poder sobre o outro, não por amor. Se perder um amigo, não ficará triste, mas frustrado por ter uma fonte de favores a menos.
10. FALTA DE EMPATIA
Não consegue se colocar no lugar do próximo. Para o psicopata, pessoas não são mais que objetos para usar para seu próprio prazer. Não ama: se chegar a casar-se e ter filhos, vai ter a família como posse, não como entes queridos.

11. IRRESPONSABILIDADE
Compromisso não lhe diz nada - tende a ser mau funcionário, amante infiel e pai relapso. Porém, como a família e os amigos são fonte de status e bens materiais, para cada mancada já tem uma promessa pronta: "Eu mudei. Isso nunca mais vai acontecer de novo".

12. MÁ CONDUTA NA INFÂNCIA
Seus problemas aparecem cedo. Já começa a roubar, usar drogas, matar aulas e ter experiências sexuais entre 10 e 12 anos. Para sua maldade, não poupa coleguinhas, irmãos nem animais.

[Fonte Without Conscience, de Robert Hare, The Guilford Press, 1993; esta é a versão reduzida da Escala de Hare; o dianóstico somente pode ser feito por profissionais treinados.]

As várias faces de um mesmo mal

O psicólogo Theodore Millon, de Harvard, separa os psicopatas em diferentes categorias, de acordo com a influência de outros transtornos de personalidade.

O invejoso
É uma variante do psicopata "puro". Sente que a vida deu aos outros o respeito, o dinheiro e a admiração que ele merecia - por isso adora puxar um tapete. Para se afirmar, ele se agarra a símbolos de status: carrões, mansões, joias, diplomas falsificados.

O defensor da reputação
Tem traços de personalidade narcisista. É a versão psico do macho alfa. Ser durão e assertivo é seu meio de provar força e garantir reputação. Se sua boa fama for ameaçada, pode reagir ferozmente até seus rivais serem aniquilados.
O aventureiro

Tem traços de personalidade histriônica (daqueles que fazem de tudo para conseguir atenção dos outros). Para ser admirado, faz coisas que deixariam qualquer um de pernas tremendo: brinca com a morte em rachas, arrisca fortunas em jogos e comete crimes espetaculares, em vez de se prender às responsabilidades e ao tédio do dia-a-dia.

O nômade
Tem traços de personalidade esquizoide. Em vez de buscar subverter normas sociais, ele busca simplesmente se livrar delas pulando de galho em galho, sem pertencer a lugar algum. Prostituição é um dos meios mais comuns de se manterem. Alguns podem tornar-se violentos quando bêbados ou sob o efeito de drogas.

O malévolo
Tem traços de personalidade paranoide. Rancoroso, brutal e vingativo. Acha que os outros vão sempre traí-lo ou puni-lo, e, para vingar-se, parte para a violência. Se os traços sádicos forem mais fortes, busca causar terror nos mais fracos para se divertir.

Seu amigo Psicopata

Tinha alguma coisa errada com o Guilherme. Desde quando era pequeno, 4 anos de idade, a mãe, Norma*, achava que ele não era uma criança normal. O guri não tinha apego a nada, era frio, não obedecia a ninguém. O problema ficou claro aos 9 anos. Guilherme, nome fictício de um rapaz do Guarujá, litoral de São Paulo, que hoje tem 28 anos, roubava os colegas da escola, os vizinhos e dinheiro em casa. Também passou a expressar uma enorme capacidade de fazer os outros acreditar no que inventava. Aos 18, o garoto conseguiu enganar uma construtora e comprar um apartamento fiado. “Quando um primo da mesma idade morreu de repente, ele só disse ‘que pena’ e continuou o que estava fazendo”, conta a mãe. Tinha alguma coisa errada com o Guilherme.

Em busca de uma solução, Norma passou 15 anos rodando com o filho entre psicólogos, psiquiatras, pediatras e até benzedeiros. Para todos, ele não passava de um garoto normal, com vontades e birras comuns. “Diziam que era mimo demais, que não soubemos impor limites.” Uma pista para o problema do filho só apareceu em 2004. A mãe leu uma entrevista sobre psicopatia e resolveu procurar psiquiatras especializados no assunto. Então descobriu que o filho sofre da mesma doença de alguns assassinos em série e também de certos políticos, líderes religiosos e executivos. “Apenas confirmei o que já sabia sobre ele”, diz Norma. “Dói saber que meu filho é um psicopata, mas pelo menos agora eu entendo que problema ele tem.”

Guilherme não é um assassino como o Maníaco do Parque ou o Chico Picadinho. Mas todos eles sofrem do mesmo problema: uma total ausência de compaixão, nenhuma culpa pelo que fazem ou medo de serem pegos, além de inteligência acima da média e habilidade para manipular quem está em volta. A gente costuma chamar pessoas assim de monstros, gênios malignos ou coisa que o valha. Mas para a Organização Mundial da Saúde (OMS), eles têm uma doença, ou melhor, deficiência. O nome mais conhecido é psicopatia, mas também se usam os termos sociopatia e transtorno de personalidadeanti-social.

Com um nome ou outro, não se trata de raridade. Entre os psiquiatras, há consenso quanto a estimativas surpreendentes sobre a psicopatia. “De 1% a 3% da população tem esse transtorno. Entre os presos, esse índice chega a 20%”, afirma a psiquiatra forense Hilda Morana, do Instituto de Medicina Social e de Criminologia do Estado de São Paulo (Imesc). Isso significa que uma pessoa em cada 30 poderia ser diagnosticada como psicopata. E que haveria até 5 milhões de pessoas assim só no Brasil. Dessas, poucas seriam violentas. A maioria não comete crimes, mas deixa as pessoas com quem convive desapontadas. “Eles andam pela sociedade como predadores sociais, rachando famílias, se aproveitando de pessoas vulneráveis e deixando carteiras vazias por onde passam”, disse à SUPER o psicólogo canadense Robert Hare, professor da Universidade da Colúmbia Britânica e um dos maiores especialistas no assunto.

Os psicopatas que não são assassinos estão em escritórios por aí, muitas vezes ganhando uma promoção atrás da outra enquanto puxam o tapete de colegas. Também dá para encontrá-los de baciada entre políticos que desviam dinheiro de merenda para suas contas bancárias, entre médicos que deixam pacientes morrer por descaso, entre “amigos” que pegam dinheiro emprestado e nunca devolvem... Lendo esta reportagem, não se surpreenda se você achar que conhece algum. Certamente você já conheceu.

Amigo da onça

O psicólogo Robert Hare tinha acabado de sair da faculdade, na década de 1960, quando arranjou um emprego no presídio de Vancouver. Função: atender os presos com problemas e montar diagnósticos de sanidade para pedidos de condicional. Lá conheceu o simpático Ray, um dos presos. Era um sujeito legal, contava histórias envolventes e tinha um sorriso que deixava qualquer um confortável. Como o sujeito parecia aplicado e dedicado a ter uma vida correta depois da prisão, o doutor resolveu ajudá-lo em pedidos de transferência para trabalhos melhores na cadeia, tipo a cozinha e a oficina mecânica. Os dois ficaram amigos. Mas Ray não era o que parecia. Hare descobriu que o homem usava a cozinha para produzir álcool e vender aos colegas. Os funcionários do presídio também alertaram o psicólogo dizendo que ele não tinha sido o primeiro a ser ludibriado pelo “gente boa” Ray. E que a falta de escrúpulos do preso não tinha limites. Pouco depois, Hare sentiu isso na pele: teve os freios de seu carro sabotados pelo “amigo” presidiário.

Ray não era único ali. Boa parte de seus colegas no presídio de Vancouver era formada por sujeitos alegres, comunicativos e cheios de amigos que também eram egocêntricos, sem remorso e não mudavam de atitude nem depois de semanas na solitária. Nas prateleiras sobre doenças mentais, havia várias descrições parecidas. O francês Philip Pinel, um dos pais da psiquiatria, escreveu no século 18 sobre pessoas que sofriam uma “loucura sem delírio”. Mas o primeiro estudo para valer sobrepsicopatia só viria em 1941, com o livro The Mask of Sanity (“A Máscara da Sanidade”, sem tradução para o português), do psiquiatra americano Hervey Cleckley. Ele dedica a obra a um problema “conhecido, mas ignorado” e cita casos de pacientes com charme acima da média, capacidade de convencer qualquer um e ausência de remorso. Com base nesses estudos, Robert Hare passou 30 anos reunindo características comuns de pessoas assim, até montar sua escala Hare, o método para reconhecer psicopatas mais usado hoje.

Trata-se de um questionário com perguntas sobre a vida do sujeito, feito para investigar se ele tem traços de psicopatia. Seja como for, não é fácil identificar um. Psicopatas não têm crises como doentes mentais: o transtorno é constante ao longo da vida. Outras funções cerebrais, como a capacidade de raciocínio, não são afetadas. Algumas características, no entanto, são evidentes.

Segredos e mentiras

Atributo número 1: mentir. Todo mundo mente, mas psicopatas fazem isso o tempo todo, com todo mundo. Inclusive com eles mesmos. São capazes de dizer “Já saltei de pára-quedas” e, logo depois, “Nunca andei de avião”, sem achar que existe uma grande contradição aí. Espertos, não se contentam só em dizer que são neurocirurgiões, por exemplo, sem nunca ter completado o colegial: usam e abusam de termos técnicos das profissões que fingem ter. Se o sujeito finge ser advogado, manda ver nos “data venias” da vida. Se diz que estudou filosofia, vai encher o vocabulário de expressões tipo “dialética kantiana” sem fazer idéia do que isso significa. Sim, eles são profissionais da lorota.

“Depois que descobri as mentiras que ele me contou, passei um tempo me perguntando como tinha sido tão burra para acreditar naquilo”, diz a professora carioca Ana*. Há 9 anos, ela conheceu um cara incrível. Ele dizia que, com apenas 27 anos, era diretor de uma grande companhia e que, por causa disso, viajava sempre para os EUA e para a Europa. Atencioso e encantador, Cláudio era o genro que toda sogra queria ter. “Em 5 meses, a gente estava quase(casando. Então a mãe dele revelou que era tudo mentira, que o filho era doente, enganava as pessoas desde criança e passava por um tratamento psiquiátrico.”

Ana largou Cláudio e foi tocar a vida. Mas nem sempre quem passa pelas mãos de um psicopata “pacífico” tem tempo para reorganizar as coisas. Que o digam as pessoas que cruzaram o caminho de Alessandro Marques Gonçalves. Formado em direito, ele resolveu fingir que era médico. E levou esse delírio às últimas conseqüências: forjou documentos e conseguiu trabalho em 3 grandes hospitais paulistas. Enganou pacientes, chefes e até a mulher, que espera um filho dele e não fazia idéia da fraude. Desmascarado em fevereiro de 2006, Alessandro aleijou pelo menos 23 pessoas e é suspeito da morte de 3.

“Ele usa termos técnicos e fala com toda a naturalidade. Realmente parece um médico”, diz o delegado André Ricardo Hauy, de Lins, que o interrogou. “Também acha que não está fazendo nada de errado e diz, friamente, que queria fazer o bem aos pacientes.” Quando foi preso, Alessandro não escondeu a cabeça como os presos geralmente fazem: deixou-se filmar à vontade.

“O diagnóstico de transtorno anti-social depende de um exame detalhado, mas dá para perceber características de um psicopata nesse falso médico. É que, além de mentir, ele mostra ausência de culpa”, afirma o psiquiatra Antônio de Pádua Serafim, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

E esse é um atributo-chave da mente de um psicopata: cabeça fresca. Nada deixa esses indivíduos com peso na consciência. Fazer coisas erradas, todo mundo faz. Mas o que diferencia o psicopata do “todo mundo” é que um erro não vai fazer com que ele sofra. Sempre vai ter uma desculpa: “Um cara que matou 41 garotos no Maranhão, Francisco das Chagas, disse que as vítimas queriam morrer”, conta Antônio Serafim.

Justamente por achar que não fazem nada de errado, eles repetem seus erros. “Psicopatas reincidem 3 vezes mais que criminosos comuns”, afirma Hilda Morana, que traduziu e adaptou a escala Hare para o Brasil. “Tem mais: eles acham que são imunes a punições.” E isso vale em qualquer situação. Até na hora de jogar baralho.

Foi o que mostrou o psicólogo americano Joe Newman num experimento em 1987. No laboratório, havia 4 montes de cartas. Sem que os jogadores soubessem, um deles estava cheio de cartas premiadas. Ou seja: quem escolhesse aquele monte ganhava mais dinheiro e continuava no jogo. Aos poucos, porém, a quantidade de cartas boas rareava, até que, em vez de dar vantagem, escolher aquele monte passava a dar prejuízo. Pessoas comuns que participaram da pesquisa logo perceberam a mudança e deixaram de apostar nele. Psicopatas, porém, seguiram tentando obter a recompensa anterior. “Pessoas comuns mudam de estratégia quando não obtêm recompensa”, afirma o neurocientista James Blair, autor do livro The Psychopath – Emotion and the Brain (“O Psicopata – Emoção e o Cérebro”, sem edição brasileira). “Mas crianças e adultos com tendências psicopáticas continuam a ação mesmo sendo repetidamente punidos com a perda de pontos.”

Psicopatas não aprendem com punições. Não adianta dar palmadas neles.

Além disso, psicopata que se preze se orgulha de suas mancadas. Esse sujeito pode ser o marido que trai a mulher e se gaba para os amigos. Ou coisa pior. Veja o caso do promotor de eventos Michael Alig. Querido por todos, ele difundiu a cultura clubber em Nova York, organizando festas itinerantes. E em 1996 ele matou um amigo em casa. Quando o corpo começou a feder, retalhou-o e jogou os pedaços no rio Hudson. Dias depois, em um programa de TV, Alig simplesmente descreveu o assassinato, todo pimpão. Os jornalistas acharam que era só uma brincadeira besta, claro. Dias depois, a polícia achou o corpo do amigo de Alig no rio. Ele foi condenado a 20 anos de prisão – sem perder a pose.

Isso é lugar-comum entre os psicopatas. O próprio psiquiatra Antônio Serafim está acostumado com relatos grandiosos de carnificinas: “Quando você pergunta sobre a destreza com que cometeram os crimes, eles contam detalhes dos assassinatos, cheios de orgulho.”

Zumbis

Se você estivesse indo comprar cerveja perto de casa e se desse conta que esqueceu a carteira, o que faria? Em vez de voltar para buscar dinheiro, um psicopata da Califórnia preferiu catar um pedaço de pau, bater num homem e levar o dinheiro dele. Também tem o caso de uma mulher que deixou a filha de 5 anos ser estuprada pelo namorado. Perguntada por que deixou aquilo acontecer, ela disse: “Eu não queria mais transar, então deixei que ele fosse com a minha filha.”

Eis mais um traço psicopático. “Eles tratam as pessoas como coisas”, afirma o psiquiatra Sérgio Paulo Rigonatti, do Instituto de Psiquiatria do HC. Isso acontece porque eles simplesmente não assimilam emoções. Para entender isso melhor, vamos dar um passeio pelo inferno.

Corpos decapitados, crianças esquálidas com moscas nos olhos, torturas com eletrochoque, gemidos desesperados. Só de imaginar cenas assim, a reação de pessoas comuns é ter alterações fisiológicas como acelerar as batidas do coração, intensificar a atividade cerebral e enrijecer os músculos. Em 2001, o psiquiatra Antônio Serafim colocou presos de São Paulo para assistir a cenas assim. Cada um ouvia, por um fone, sons desagradáveis, como gritos de desespero. “Os criminosos comuns tiveram reações físicas de medo”, diz ele. “Já os identificados como psicopatas não apresentaram sequer variação de batimento cardíaco.”

Mais: uma série de estudos do Instituto de Neurociência Cognitiva, nos EUA, mostrou que psicopatas têm dificuldade em nomear expressões de tristeza, medo e reprovação em imagens de rostos humanos. “Outros 3 estudos ligaram psicopatia com a falta de nojo e problemas em reconhecer qualquer tipo de emoção na voz das pessoas”, afirma Blair.

É simples: assim como daltônicos não conseguem ver cores, psicopatas são incapazes de enxergar emoções. Não as enxergam nem as sentem, pelo menos não do mesmo jeito que os outros fazem. Em vez disso, eles só teriam o que os psiquiatras chamam de proto-emoções – sensações de prazer, euforia e dor menos intensas que o normal. “Isso impede os psicopatas de se colocar no lugar dos outros”, diz Hilda Morana.

Um dos pacientes entrevistados por Hare confirma: “Quando assaltei um banco, notei que uma caixa começou a tremer e a outra vomitou em cima do dinheiro, mas não consigo entender por quê”, disse. “Na verdade, não entendo o que as pessoas querem dizer com a palavra ‘medo’ ”.

No livro No Ventre da Besta – Cartas da Prisão, o escritor americano Jack Abbott descreve com honestidade o que acontece na sua cabeça de psicopata: “Existem emoções que eu só conheço de nome. Posso imaginar que as tenho, mas na verdade nunca as senti”.

É como se eles entendessem a letra de uma canção, mas não a música. Esse jeito asséptico de ver o mundo faz com que um psicopata consiga mentir sem ficar nervoso, sacanear os outros sem sentir culpa e, em casos extremos, retalhar um corpo com o mesmo sangue-frio de quem separa as asinhas do peito de um frango assado.

Cérebros em curto

Ok, o problema central dos psicopatas é que eles não conseguem sentir emoções. Mas por que isso acontece? “A crença de que tudo é causado por famílias instáveis ou condições sociais pobres nos faz fingir que o problema não existe”, afirma Hare.

Para a neurologia, a coisa é mais objetiva: os “circuitos” do cérebro de um psicopata são fisicamente diferentes dos de uma pessoa normal. Uma descoberta importante foi feita pelo neuropsiquiatra Ricardo de Oliveira-Souza e pelo neurologista Jorge Moll Neto, pesquisador do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos dos EUA. Em 2000, os dois identificaram, com imagens de ressonância magnética, as partes do cérebro ativadas quando as pessoas fazem julgamentos morais. Os participantes da pesquisa tiveram o cérebro mapeado enquanto decidiam se eram certas ou erradas frases como “podemos ignorar a lei quando necessário” ou “todos têm o direito de viver”, além de outras sem julgamento moral, como “pedras são feitas de água”. A maioria dos voluntários ativou uma área bem na testa, chamada Brodmann 10, ao responder às perguntas.

E aí vem o pulo-do-gato: a dupla repetiu o estudo em 2005 com pessoas identificadas como psicopatas, e descobriu que elas ativam menos essa parte do cérebro. Daí a incompetência que os sujeitos com transtorno anti-social têm para sentir o que é certo e o que é errado. Agora, resta saber se essas deficiências vêm escritas no DNA ou se surgem depois do nascimento.

Hoje, se sabe que boa parte da estrutura cerebral se forma durante a vida, sobretudo na infância. Mas cientistas buscam uma causa genética porque a psicopatia parece surgir independentemente do contexto ou da educação. “Nascem tantos psicopatas na Suécia ou na Finlândia quanto no Brasil”, afirma Hilda Morana. “Os pais costumam se perguntar onde foi que erraram.” A impressão é que psicopatas nasceram com o problema. “Eles também surgem em famílias equilibradas, são irmãos de pessoas normais e deixam seus pais perplexos”, afirma Oliveira-Souza.

James Blair vai pela mesma linha: “Estudos com pessoas da mesma famíla, gêmeos e filhos adotados indicam que o comportamento dos psicopatas e as disfunções emocionais são coisas hereditárias”, afirma.

Cobras de terno

Mesmo quem defende uma origem 100% genética para a psicopatia não descarta a importância do ambiente. A criação, nessa história, seria fundamental para determinar que tipo de psicopata um camarada com tendência vai ser.

“Fatores sociais e práticas familiares influenciam no modo como o problema será expresso no comportamento”, afirma Rigonatti. Por exemplo: psicopatas que cresceram sofrendo ou presenciando agressões teriam uma chance bem maior de usar sua “habilidade” psicopática para matar pessoas.

Um bom exemplo desse tipo é o americano Charles Manson. Filho de uma prostituta alcoólatra e dono de uma mente pra lá de sociopata, transformou um punhado de hippies da Califórnia em um grupo paramilitar fanático nos anos 70. Manson foi responsável pela carnificina na casa do cineasta Roman Polanski. Entre os 5 mortos, estava a atriz Sharon Tate, mulher do diretor e grávida de 8 meses. Detalhe: ele nem sequer participou da ação. Só usou sua capacidade de liderança para convencer um punhado de seguidores a realizar o massacre.

Já os que vêm de famílias equilibradas e viveram uma infância sem grandes dramas teriam uma probabilidade maior de se transformar naqueles que mentem, trapaceiam, roubam, mas não matam. Mais de 70% dos psicopatas diagnosticados são desse grupo, mas não há motivo para alívio. Psicopatas infiltrados na política, em igrejas ou em grandes empresas podem fazer estragos ainda piores.

Exemplos não faltam. O político absurdamente corrupto que é adorado por eleitores, cativa jornalistas durante entrevistas, não entra em contradição nem parece sentir culpa por ter recheado suas contas bancárias com dinheiro público é um. O líder religioso que enriquece à custa de doações dos fiéis é outro. E por aí vai.

“Eles costumam se dar bem em ambientes pouco estruturados e com pessoas vulneráveis. Agem como cartomantes, pais de santo, líderes messiânicos”, afirma Oliveira-Souza. Psicopatas não tão fanáticos, mas com a mesma falta de escrúpulos, também estão em grandes empresas, sugando dinheiro e tornando a vida dos colegas um inferno.

A habilidade para mentir despudoradamente sem levantar suspeitas faz com que eles se dêem bem já nas entrevistas de emprego. O charme que eles simulam ajuda a conquistar a confiança dos chefes e a pressionar para que colegas que atrapalham sua ascensão profissional acabem demitidos. Não raro, costumam ocupar os cargos hierárquicos mais altos.

O psicólogo ocupacional Paul Babiak cita o exemplo de Dave, um executivo de uma empresa americana de tecnologia. Logo na primeira semana, o chefe notou que ele gastava mais tempo criando picuinhas entre os funcionários do que trabalhando e plagiava relatórios sem medo de ser pego. Quando o chefe recomendou sua demissão, Dave foi reclamar aos chefes do seu chefe. Com sua lábia, conseguiu ficar dois anos na empresa, sendo promovido duas vezes, até causar um rombo na firma e sua máscara cair. “Certamente há mais psicopatas no mundo dos negócios que na população em geral”, diz o psiquiatra Hare, que escreveu com Babiak o livro Snakes in Suits – When Psychopaths Go to Work (“Cobras de Terno – Quando Psicopatas vão Trabalhar”, inédito no Brasil). Para ele, sociopatas corporativos são responsáveis por escândalos como o da Enron, em 2002, quando a empresa americana mentiu sobre seus lucros para bombar preços de ações. “O poder e o controle sobre os outros tornam grandes empresas atraentes para os psicopatas”, diz.

O que fazer?

Seja nas empresas, nas ruas, ou numa casinha de sapê, nossos amigos com transtorno anti-social são tecnicamente incapazes de frear seus impulsos sacanas. Mas, para os psiquiatras, essa limitação não significa que eles não devam ser responsabilizados pelo que fazem. “Psicopatas têm plena consciência de que seus atos não são corretos”, afirma Hare. “Apenas não dão muita importância para isso.” Se cometem crimes, então, devem ir para a cadeia como os outros criminosos.

Só que até depois de presos psicopatas causam mais dores de cabeça que a média dos criminosos. Na cadeia, tendem a se transformar em líderes e agir no comando de rebeliões, por exemplo. “Mas nunca aparecem. Eles sabem como manter suas fichas limpas e acabam saindo da prisão mais cedo”, diz Antônio de Pádua Serafim.

Por conta disso, a psiquiatra forense Hilda Morana foi a Brasília em 2004 tentar convencer deputados a criar prisões especiais para psicopatas. Conseguiu fazer a idéia virar um projeto de lei, que não foi aprovado. Nas prisões brasileiras, não há procedimento de diagnóstico de pscicopatia para os presos que pedem redução da pena. “Países que aplicam o diagnóstico têm a reincidência dos criminosos diminuída em dois terços, já que mantêm mais psicopatas longe das ruas”, diz ela. Tampouco há procedimentos para evitar que psicopatas entrem na polícia – uma instituição teoricamente tão atraente para eles quanto as grandes empresas. Também não há testes de pscicopatiana hora de julgar se um preso pode partir para um regime semi-aberto. Nas escolas, professores não estão preparados para reconhecer jovens com o transtorno.

“Mesmo dentro da psiquiatria existe pouca gente interessada no assunto, já que os psicopatas não se reconhecem como tal e dificilmente vão mudar de comportamento durante a vida”, diz o psiquiatra João Augusto Figueiró, de São Paulo. Também não existem tratamentos comprovados nem remédios que façam efeito. Outro problema: quando levados a consultórios, os psicopatas acabam ficando piores. Eles adquirem o vocabulário dos especialistas e se munem de desculpas para justificar seu comportamento quando for necessário. Diante da falta de perspectiva de cura, quem convive com psicopatas no dia-a-dia opta por vigiá-los o máximo possível. É o que faz a dona-de-casa Norma, do Guarujá, com o filho Guilherme. “Enquanto eu e o pai dele estivermos vivos, podemos tomar conta”, diz. “Mas... e depois?”

Meu filho psicopata*

“Ele mentia muito. Armava um teatro para nos transformar em culpados. Não tinha apego nem responsabilidade. Não evitava falar coisas que deixassem os outros magoados. Nunca pensou que, se fizesse alguma coisa ruim, os pais ficariam bravos. Na escola, ele não obedecia a ordens. Se não queria fazer a lição, não tinha ninguém que o convencesse. A inteligência dele até era acima da média, mas um mês ele tirava 10 em tudo e no outro tirava 0.

Dos 3 aos 25 anos, ele rodou comigo por psicólogos. Foi uma busca insana. Começamos a tratar pensando que era hiperatividade, ele tomou antidepressivos e outros remédios. Nada deu certo. Pessoas como o meu filho conseguem manipular psicólogos com facilidade. E os pais se tornam os grandes culpados. Quando descobri o problema, com uma psiquiatra, foi uma luz para mim. Hoje sei que pessoas como ele inventam um mundo na cabeça. É um sofrimento para os pais que convivem com crianças ou com adultos assim. Hoje, temos que vigiá-lo e carregá-lo pela mão para tudo que é canto. Senão, ele rouba coisas ou arma histórias.

Fica 3 meses em cada emprego e pára, diz que não está bom. O problema nunca é com ele, sempre os outros é que estão errados. Eu ainda torço para que tenha um remédio, porque viver assim é muito ruim. Se está tudo bem agora, você não sabe qual vai ser a reação daqui a 5 minutos. É como uma bomba relógio, uma panela de pressão que vai explodir. Nunca dá pra saber exatamente o que ele pensa nem para acreditar em alguma coisa que ele promete.

Às vezes penso que deveriam criar uma sociedade paralela só para sociopatas, mas uns matariam os outros, com certeza. Para não correr o risco de botar no mundo outra pessoa dessas, convencemos nosso filho a fazer vasectomia. Dói muito dizer que seu filho é um psicopata, mas fazer o quê? Matar você não pode. Tem que ir convivendo na esperança de que um dia a medicina dê conta de casos assim.”

*Depoimento de Norma, 50 anos, dona-de-casa do Guarujá (SP), mãe de Guilherme, 28, diagnosticado como psicopata.

As características de um psicopata

Charme

Tem facilidade em lidar com as palavras e convencer pessoas vulneráveis. Por isso, torna-se líder com freqüência. Seja na cadeia, seja em multinacionais.

Inteligência

O QI costuma ser maior que o da média: alguns conseguem se passar por médico ou advogado sem nunca ter acabado o colegial.

Ausência de culpa

Não se arrepende nem têm dor na consciência. É mestre em botar a culpa nos outros por qualquer coisa. Tem certeza de que nunca erra.

Espírito sonhador

Vive com a cabeça nas nuvens. Mesmo se a situação do sujeito estiver miserável, ele só fala sobre as glórias que o futuro lhe reserva.

Habilidade para mentir

Não vê diferença entre sinceridade e falsidade. É capaz de contar qualquer lorota como se fosse a verdade mais cristalina.

Egoísmo

Faz suas próprias leis. Não entende o que significa “bem comum”. Se estiver tudo ok para ele, não interessa como está o resto do mundo.

Frieza

Não reage ao ver alguém chorando e termina relacionamentos sem dar explicação. Sabe o cara que “foi comprar cigarro e nunca mais voltou?” Então.

Parasitismo

Quando consegue a confiança de alguém, suga até a medula. O mais comum é pedir dinheiro emprestado e deixar para pagar no dia 31 de fevereiro.

Para saber mais

The Psychopath - James Blair e outros, Blackwell, EUA, 2006

Without Conscience - Robert Hare, Guilford, EUA,1993

The Sociopath Next Door - Martha Stout, Broadway, EUA, 2005

 

[Disponível em: Revista superinteressante - http://super.abril.com.br/ciencia/seu-amigo-psicopata-446474.shtml]

Psicopatas no divã

O psicólogo canadense Robert Hare, criador de uma escala usada para medir os graus de psicopatia, explica por que uma pessoa aparentemente normal pode fazer as piores coisas sem sentir remorso.

"O psicopata é como o gato, que não pensa no que o rato sente. Ele só pensa em comida. A vantagem do rato sobre as vítimas do psicopata é que ele sempre sabe quem é o gato"

O trabalho do psicólogo canadense Robert Hare, de 74 anos, confunde-se com quase tudo o que a ciência descobriu sobre os psicopatas nas últimas duas décadas. Foi ele quem, em 1991, identificou os critérios hoje universalmente aceitos para diagnosticar os portadores desse transtorno de personalidade.

Hare começou a aproximar-se do tema ainda recém-formado, quando, trabalhando com detentos de uma prisão de segurança máxima nas proximidades de Vancouver, ficou intrigado com uma questão: "Eu queria entender o motivo pelo qual, em alguns seres humanos, a punição não tem efeito algum". A curiosidade levou-o até os labirintos da psicopatia – doença para a qual, até hoje, não se vislumbra cura. "O que tentamos agora é reduzir os danos que ela causa, aos seus portadores e aos que os cercam."

Um psicopata nasce psicopata?

Ninguém nasce psicopata. Nasce com tendências para a psicopatia. A psicopatia não é uma categoria descritiva, como ser homem ou mulher, estar vivo ou morto. É uma medida, como altura ou peso, que varia para mais ou para menos.

O senhor é o criador da escala usada mundialmente para medir a psicopatia. Quais são as características que aproximam uma pessoa do número 40, o grau máximo que sua escala estabelece?

As principais são ausência de sentimentos morais – como remorso ou gratidão –, extrema facilidade para mentir e grande capacidade de manipulação. Mas a escala não serve apenas para medir graus de psicopatia. Serve para avaliar a personalidade da pessoa. Quanto mais alta a pontuação, mais problemática ela pode ser. Por isso, é usada em pesquisas clínicas e forenses para avaliar o risco que um determinado indivíduo representa para a sociedade.

"Não há como dizer se uma criança se tornará um adulto psicopata. Mas, se ela age de modo cruel com outras crianças e animais, mente olhando nos olhos e não tem remorso, isso sinaliza um comportamento problemático no futuro"

Todo psicopata comete maldades?

Não necessariamente com o intuito de cometer a maldade. Os psicopatas apresentam comportamentos que podem ser classificados de perversos, mas que, na maioria dos casos, têm por finalidade apenas tornar as coisas mais fáceis para eles – e não importa se isso vai causar prejuízo ou tristeza a alguém. Mas há os psicopatas do tipo sádico, que são os mais perigosos. Eles não somente buscam a própria satisfação como querem prejudicar outras pessoas, sentem felicidade com a dor alheia.

Até que ponto a associação entre a figura do psicopata e a do serial killer é legítima?

A estimativa é que cerca de 1% da população mundial preencheria os critérios para o diagnóstico de psicopatia. Nos Estados Unidos, haveria, então, cerca de 3 milhões de psicopatas. Se o número de serial killers em atividade naquele país for, como se acredita, de aproximadamente cinquenta, isso significa que a participação desses criminosos no universo de psicopatas é muito pequena. Por outro lado, segundo um estudo do psiquiatra americano Michael Stone, cerca de 90% dos serial killers seriam psicopatas.

Em que medida o ambiente influencia na constituição de uma personalidade psicopata?

Na década de 20, John B. Watson, um estudioso de psicologia comportamental, dizia que, ao nascer, nós somos como páginas em branco: o ambiente determina tudo. Na sequência, entrou em voga o termo sociopata, a sugerir que a patologia do indivíduo era fruto do ambiente – ou seja, das suas condições sociais, econômicas, psicológicas e físicas. Isso incluía o tratamento que ele recebeu dos pais, como foi educado, com que tipo de amigos cresceu, se foi bem alimentado ou se teve problemas de nutrição. Os adeptos dessa corrente defendiam a tese de que bastava injetar dinheiro em programas sociais, dar comida e trabalho às pessoas, para que os problemas psicológicos e criminais se resolvessem. Hoje sabemos que, ainda que vivêssemos uma utopia social, haveria psicopatas.

"Um psicopata ama alguém da mesma forma como eu, digamos, amo meu carro — e não da forma como eu amo minha mulher. Usa o termo amor, mas não o sente da maneira como nós entendemos. Em geral, é um sentimento de posse, de propriedade"

Como se chegou a essa conclusão?

Na década de 60, vários estudiosos, inclusive eu, começaram a pesquisar a reação de um grupo de psicopatas a situações que, em pessoas normais, produziriam efeitos sobre o sistema nervoso autônomo. Quando se está na expectativa da ocorrência de algo desagradável, a preocupação do indivíduo transparece por meio de tremores, transpiração e aceleração cardíaca. Os psicopatas estudados, mesmo quando confrontados com situações de tensão, não exibiam esses sintomas. Isso reforçou a conclusão de que existem diferenças cerebrais entre psicopatas e não psicopatas. Pouco a pouco, essas diferenças vêm sendo mapeadas.

É possível observar sinais que indiquem que uma criança pode se tornar um adulto psicopata?

Não há nada que indique que uma criança forçosamente se transformará num psicopata, mas é possível notar que algo pode não estar funcionando bem. Se a criança apresenta comportamentos cruéis em relação a outras crianças e animais, é hábil em mentir olhando nos olhos do interlocutor, mostra ausência de remorso e de gratidão e falta de empatia de maneira geral, isso sinaliza um comportamento problemático no futuro.

Os pais podem interferir nesse processo?

Sim, para o bem e para o mal, mas nunca de forma determinante. O ambiente tem um grande peso, mas não mais do que a genética. Na verdade, ambos atuam em conjunto. Os pais podem colaborar para o desenvolvimento da psicopatia tratando mal os filhos. Mas uma boa educação está longe de ser uma garantia de que o problema não aparecerá lá na frente, visto que os traços de personalidade podem ser atenuados, mas não apagados. O que um ambiente com influências positivas proporciona é um melhor gerenciamento dos riscos.

Os psicopatas têm consciência de que são diferentes?

A consciência, o processo de avaliar se algo deve ser feito ou não, envolve não somente o conhecimento intelectual, mas também o aspecto emocional. Do ponto de vista intelectual, o psicopata pode até saber que determinada conduta é condenável, mas, em seu âmago, ele não percebe quão errado é quebrar aquela regra. Ele também entende que os outros podem pensar que ele é diferente e que isso é um problema, mas não se importa. O psicopata faz o que deseja, sem que isso passe por um filtro emocional. É como o gato, que não pensa no que o rato sente – se o rato tem família, se vai sofrer. Ele só pensa em comida. Gatos e ratos nunca vão entender um ao outro. A vantagem do rato sobre as vítimas do psicopata é que ele sempre sabe quem é o gato.

É muito difícil identificar um psicopata no dia a dia?

Superficialmente, um psicopata pode parecer um sujeito normal. Mas, ao conhecê-lo melhor, as pessoas notarão que ele é um indivíduo problemático em diversos aspectos da vida. Ele pode ignorar os filhos, mentir sistematicamente ou apresentar grande capacidade de manipulação. Se é flagrado fazendo algo errado, por exemplo, tenta convencer todo mundo de que está sendo mal interpretado.

Um psicopata não sente amor?

Acredito que sim, mas da mesma forma como eu, digamos, amo meu carro – e não da forma como eu amo minha mulher. Usa o termo amor, mas não o sente da maneira como nós entendemos. Em geral, é traduzido por um sentimento de posse, de propriedade. Se você perguntar a um psicopata por que ele ama certa mulher, ele lhe dará respostas muito concretas, tais como "porque ela é bonita", "porque o sexo é ótimo" ou "porque ela está sempre lá quando preciso". As emoções estão para o psicopata assim como o vermelho está para o daltônico. Ele simplesmente não consegue vivenciá-las.

Que figuras históricas podem ser consideradas psicopatas?

É difícil dizer, porque seu comportamento é mediado por relatos de terceiros, e não por um diagnóstico psiquiátrico. Mas o ditador da ex-União Soviética Josef Stalin, por exemplo, era de tal forma impiedoso que talvez possa ser considerado psicopata. O ex-ditador iraquiano Saddam Hussein é outro exemplo. Eu ficaria muito surpreso se ele não preenchesse todos os critérios para a psicopatia. Aliás, Saddam tinha um filho claramente psicopata (Udai Hussein, morto em 2003), dirigente de um time de futebol. Quando o time perdia, ele torturava os jogadores – ou seja, era sádico também. Já o líder nazista Adolf Hitler é um caso mais complexo. Ele provavelmente não era só psicopata.

A psicopatia é incurável?

Por meio das terapias tradicionais, sim. Pegue-se o modelo-padrão de atendimento psicológico nas prisões. Ele simplesmente não tem nenhum efeito sobre os psicopatas. Nesse modelo, tenta-se mudar a forma como os pacientes pensam e agem estimulando-os a colocar-se no lugar de suas vítimas. Para os psicopatas, isso é perda de tempo. Ele não leva em conta a dor da vítima, mas o prazer que sentiu com o crime. Outro tratamento que não funciona para criminosos psicopatas é o cognitivo – aquele em que psicólogo e paciente falam sobre o que deixa o criminoso com raiva, por exemplo, a fim de descobrir o ciclo que leva ao surgimento desse sentimento e, assim, evitá-lo. Esse procedimento não se aplica aos psicopatas porque eles não conseguem ver nada de errado em seu próprio comportamento.

No Brasil, os psicopatas costumam ser considerados semi-imputáveis pela Justiça. Os magistrados entendem que eles até podem ter consciência do caráter ilícito do que cometeram, mas não conseguem evitar a conduta que os levou a praticar o crime. Assim, se condenados, vão para a cadeia, mas têm a pena diminuída. O senhor acha que, do ponto de vista jurídico, os psicopatas são totalmente responsáveis por seus atos?

Eu diria que a resposta é sim. Mas há divergências a respeito e existem muitas investigações em andamento para determinar até que ponto vai a responsabilidade deles em certas situações. Uma corrente de pensamento afirma que o psicopata não entende as consequências de seus atos. O argumento é que, quando tomamos uma decisão, fazemos ponderações intelectuais e emocionais para decidir. O psicopata decide apenas intelectualmente, porque não experimenta as emoções morais. A outra corrente diz que, da perspectiva jurídica, ele entende e sabe que a sociedade considera errada aquela conduta, mas decide fazer mesmo assim. Então, como ele faz uma escolha, deve ser responsabilizado pelos crimes que porventura venha a cometer. Não há dados empíricos que deem apoio a um lado ou a outro. Ainda é uma questão de opinião. Acredito que esse ponto será motivo de discussão pelos próximos cinco ou dez anos, tanto por parte dos especialistas em distúrbios mentais quanto pelos profissionais de Justiça.

O senhor está para publicar um estudo sobre um novo modelo de tratamento para psicopatas. Do que se trata?

Trata-se de um modelo mais afeito à escola cognitiva, em que os pacientes são levados a compreender que até podem fazer algo que desejem, sem que isso seja ruim para os outros. Não vai mudá-los, mas talvez possa atenuar as consequências de suas ações. É um tratamento com ambições relativamente modestas – tem por objetivo a redução de danos.

 

[Laura Diniz: Globo.com]

Teclando com o inimigo: psicopatas na internet

“A funcionária pública carioca A., 42 anos, não quer revelar seu nome porque está envergonhada. Não consegue olhar no espelho sem pensar: “Como me deixei enganar assim?” No início do ano, ela conheceu um homem em um chat na internet. Em pouco mais de um mês, ele destruiu a vida e a reputação de A. Por causa do falsário, ela pediu dinheiro a amigos e contraiu dois empréstimos bancários que, agora, não tem como pagar. No total, A. perdeu 22 mil reais.”

“Ela suspira: “Vi nele o que eu buscava. Era gentil, falava de sentimentos e planejava fazer uma viagem para me conhecer melhor”.”

“(…) o moço da internet contou que estava arruinado por ter caído na malha fina da Receita Federal. “A história era convincente”, lembra. “Ofereci dinheiro, ele prometeu pagar no dia seguinte.” Foi o primeiro de muitos empréstimos.”

“O delegado do caso, Antenor Martins Júnior, tem certeza de que há vários marginais seduzindo vítimas na internet, porque eles são bons de lábia e “as mulheres têm vergonha de pedir ajuda às autoridades”.”

O perfil dos criminosos é específico: são fisicamente pouco atraentes, valem-se do anonimato na internet e são experts em detectar pessoas carentes. Com base nos inquéritos, a polícia concluiu que eles mantêm a pose, em média, por dois meses, período suficiente para ganhar a confiança da vítima e aplicar o golpe. A psicóloga e sexóloga paulista Maria Luiza Cruvinel os descreve como pessoas que têm TRAÇOS DE PSICOPATIA, agem com frieza e calculam cada passo do bote. Mais:“Como excelentes atores, fazem o papel de príncipes apaixonados e seduzem com muita facilidade”.”

ROTEIRO PARA NÃO CAIR NA LÁBIA DESSES CRIMINOSOS:

1. Faça as mesmas perguntas de maneiras diferentes e repare se o internauta cai em contradição.
2. Observe se a forma como escreve é compatível com o estilo de vida e com a profissão que ele afirma ter.
3. Investigue. Digite o nome dele em canais de busca da internet e veja ao que está associado. Podem aparecer: universidade em que foi aprovado, títulos, negócios e até envolvimento em crime noticiado nos jornais. Pesquise no
Orkut, na lista telefônica e ainda ligue para a empresa onde ele diz trabalhar.
4. Deixe dinheiro fora da relação. Evite empréstimos e não disponibilize cartão de crédito ou senhas bancárias.
5. Colha a opinião dos amigos sobre o seu romance – e dê-lhes crédito, pois, quando se está apaixonada, é comum desculpar coisas que todo mundo vê que não são desculpáveis.
6. Guarde o histórico dos e-mails, recados no
Orkut, conversas no MSN e noSkype. Mantenha o documento eletrônico original para mostrar à polícia, pois cópias em outros formatos não servem como prova.
7. Só marque o primeiro encontro, sempre em lugar público, quando você estiver segura
.

 

[Disponivel em: http://meunamoradopsicopata.wordpress.com]

Mentes Perigosas – O psicopata mora ao lado

[Resumo do Livro Mentes Perigosas]

 

Quando pensamos em psicopatia, logo nos vem à mente um sujeito com cara de mau, truculento, de aparência descuidada, pinta de assassino e desvios comportamentais tão óbvios que poderíamos reconhecê-lo sem pestanejar. Isso é um grande equívoco! Para os desavisados, reconhecê-los não é uma tarefa tão fácil quanto se imagina. Os psicopatas enganam e representam muitíssimo bem.

Mentes Perigosas discorre sobre pessoas frias, manipuladoras, transgressoras de regras sociais, sem consciência e desprovidas de sentimento de compaixão ou culpa. Esses "predadores sociais" com aparência humana estão por aí, misturados conosco, incógnitos, infiltrados em todos os setores sociais. São homens, mulheres, de qualquer raça, credo ou nível social. Trabalham, estudam, fazem carreiras, se casam, têm filhos, mas definitivamente não são como a maioria da população: aquelas a quem chamaríamos de "pessoas do bem".

Eles podem arruinar empresas e famílias, provocar intrigas, destruir sonhos, mas não matam. E, exatamente por isso, permanecem por muito tempo ou até uma vida inteira sem serem descobertos ou diagnosticados. Por serem charmosos, eloqüentes, "inteligentes" e sedutores costumam não levantar a menor suspeita de quem realmente são. Visam apenas o benefício próprio, almejam o poder e o status, engordam ilicitamente suas contas bancárias, são mentirosos contumazes, parasitas, chefes tiranos, pedófilos, líderes natos da maldade.

Em casos extremos, os psicopatas matam a sangue-frio, com requintes de crueldade, sem medo e sem arrependimento. Porém, o que a sociedade desconhece é que os psicopatas, em sua grande maioria, não são assassinos e vivem como se fossem pessoas comuns.

Perfil do Psicopata: Comportamentos do psicopata – Cuidados nos relacionamentos pela internet

Conhecer o Perfil do psicopata e os comportamentos que podem indicar sinais de um relacionamento perigoso que muitas vezes somente são percebidos após um longo e desgastante conflito e sofrimento.

Comportamentos do psicopata/primeiros sinais: “Esses começam a ser mostrados com o passar do tempo, principalmente se a mulher não faz o que ele pede, se ela se impõem ou se mostra contra as vontades dele. Aí podem surgir ataques de ira, violência com tapas e pontapés e um sadismo exacerbado e muito latente”

No filme Dormindo com o inimigo (1981), Martin Burney (Patrick Bergin) parecia ser o homem dos sonhos de Laura (Julia Roberts): bonito, bem-sucedido e sedutor. Mas depois de casada, ela descobre o verdadeiro Martin, o pior pesadelo de uma mulher: compulsivo, dominador e perigosamente violento.

Os filmes de Hollywood não nos assustam e surpreendem mais, a cada dia 10 mulheres brasileiras são mortas de forma brutal por seu companheiro, seja marido, namorado ou ex-amante.

A mídia exibe casos terríveis de crimes passionais todos os dias e uns ganham mais holofotes como o caso Elisa Samudio, Mércia Nakashima e outros.

É importante ressaltar o perfil do inimigo, pois muitas mulheres são mortas por não conseguirem detectar nenhum perigo à sua volta. Quando percebem que algo está errado, fazem BO, mas nada acontece, isso porque temos uma lei que não é aplicada de forma correta e devida (*Maria da Penha).

Esses inimigos que as mulheres acolhem, mimam e desejam em suas vidas, muitas vezes são psicopatas; termo usado pela psiquiatria para descrever o indivíduo frio, sem sentimento amoroso pelo próximo, com ausência total de culpa, remorso ou solidariedade.

É de extrema importância ressaltar que o **psicopata não é doente, ele é um indivíduo frio e sádico, extremamente lúcido e sabe exatamente como agir com suas vítimas.

A maioria deles não irá matar, mas aplicará golpes financeiros em suas parceiras e buscarão uma próxima vítima.

Escolhem suas vítimas pela vulnerabilidade, principalmente mulheres carentes, frágeis de atenção e com autoestima baixa. Detectando a vítima, ele vai ao ataque.

Ele procura conquistá-la, fingindo ser amoroso, romântico ao extremo e extremamente apaixonado. Hoje em dia com a facilidade tecnológica da internet é muito fácil para esses predadores escolheres suas vítimas. Basta entrar em uma sala de bate-papo e escolher a mulher mais carente que achar para iniciar seu jogo cheio de charme e sedução.

Os sinais começam a ser mostrados com o passar do tempo, principalmente se a mulher não faz o que ele pede, se ela se impõem ou se mostra contra as vontades dele. Aí podem surgir ataques de ira, violência com tapas e pontapés e um sadismo exacerbado e muito latente.

Após o ataque não há culpa, mas provavelmente ele fingirá a culpa para poder reatar, dizendo que não teve a intenção; fingirá um arrependimento enorme e chorará pedindo perdão. A maioria das mulheres continua com esses homens após serem espancadas e agredidas fisicamente e verbalmente, tentando justificá-los a qualquer preço ou entrando no processo neurótico de que são as únicas capazes de modificá-los.

É importante saber quebrar os laços no primeiro sinal de perigo, lembrando-se sempre: Ninguém modifica um psicopata, nenhuma mulher, nenhum psiquiatra, nenhuma prisão; são seres imutáveis, ervas daninhas que devem estar fora do convívio da sociedade.

Perfil do psicopata

Descrita pela primeira vez em 1941 pelo psiquiatra americano Hervey M. Cleckley, do Medical College da Geórgia, a psicopatia consiste num conjunto de comportamentos e traços de personalidade específicos. Encantadores à primeira vista, essas pessoas geralmente causam boa impressão e são tidas como “normais” pelos que as conhecem superficialmente.

No entanto, costumam ser egocêntricas, desonestas e indignas de confiança. Com frequência adotam comportamentos irresponsáveis sem razão aparente, exceto pelo fato de se divertirem com o sofrimento alheio.

Os psicopatas não sentem culpa. Nos relacionamentos amorosos são insensíveis e detestam compromisso. Sempre têm desculpas para seus descuidos, em geral culpando outras pessoas. Raramente aprendem com seus erros ou conseguem frear impulsos.

*Lei nº 11.340
Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher.

[Autor: Taty Ades (autora do livro homens que amam demais)]