quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Dormir bem é o segredo para longevidade, aponta o estudo

Um estudo realizado pela American Academy of Sleep Medicine mostrou que dormir bem é um dos segredos para a longevidade. A pesquisa, publicada na revista científica Sleep, foi a primeiro a analisar problemas de sono em uma grande amostra de adultos de idade avançada, de 60 a mais que 100 anos.

A partir da análise de 2.800 pessoas, os resultados mostraram que cerca de 65% das pessoas relataram que sua qualidade de sono foi boa ou muito boa e o tempo médio diário de sono foi de 7,5 horas, incluindo cochilos.

Os mais velhos, de 100 anos, e os adultos acima de 70 foram os mais prováveis de relatar boa qualidade de sono do que os participantes mais jovens, de 65 a 79, após controle de variáveis como as características demográficas, socioeconômicas e de saúde. Além disso, os homens eram 23% mais propícios a ter uma boa noite de sono, em comparação com as mulheres.

Os problemas de saúde foram associados com pior qualidade de sono. Entre os avaliados, 46% dos participantes que tiveram a auto-avaliação de saúde insatisfatória também relataram não dormir bem. As chances de um bom sono foram também menores em pessoas que muitas vezes se sentiam ansiosas, que tinham pelo menos uma doença crônica e dificuldades com as tarefas diárias.

O estudo envolveu a análise dos dados da Pesquisa de Longevidade Saudável feita na China. Realizada em 2005, essa amostra foi composta por 15.638 adultos com 65 anos de idade ou mais. Segundo os autores, a população da China de mais de 1,3 bilhão de pessoas inclui a maior população de idosos no mundo, tornando o país um recurso valioso para estudar a longevidade saudável. O Banco Mundial estima que a China tem cerca de 40.500 mil pessoas de 75 anos de idade e mais velhos.

A pesquisa chinesa constatou que o acesso aos cuidados de saúde e o status econômico foram fortemente relacionados com a boa qualidade de sono. O total de 84% dos participantes que relataram dormir bem tinham assistência médica adequada e 56% relataram boa qualidade de sono quando a família estava em boa condição econômica.

Insônia crônica pode aumentar em até três vezes o risco de morte

Pessoas com insônia crônica apresentam um risco elevado de morte, de acordo com uma pesquisa apresentada em San Antonio, no Texas, na 24ª reunião anual da Associated Professional Sleep Societies. Os resultados indicam que a taxa de risco ajustado para todas as causas de mortalidade foi três vezes maior em pessoas com insônia crônica, em comparação a pessoas que não sofrem com o problema.

Existem quatro subtipos de insônia: insônia precoce com despertar crônico, insônia de manutenção do sono (dificuldade para voltar a dormir), insônia de início do sono e insônia que faz a pessoa despertar diversas vezes durante a noite. Os pesquisadores descobriram que o risco de morte era de dois a três vezes mais elevado, independentemente do subtipo de insônia relatado pelos pacientes.

"O resultado mais surpreendente foi o aumento do risco elevado de mortalidade em indivíduos com insônia crônica, mesmo após o ajuste para todas as variáveis de confusão", disse o autor Laurel Finn, bioestatístico da Universidade de Wisconsin-Madison. "O outro achado importante foi a não diferenciação entre os subtipos de insônia em relação ao risco de mortalidade".

O estudo, feito pela National Heart Lung and Blood Institute, nos EUA, envolveu 2.242 participantes que completaram questionários enviados para os anos 1989, 1994 e 2000. Os participantes que foram considerados como tendo insônia crônica relataram sintomas de insônia em pelo menos dois dos inquéritos.

As taxas de risco estimado de mortalidade foram ajustadas para o índice de massa corporal, idade e sexo, bem como as condições médicas, como bronquite crônica, infarto, derrame, hipertensão, diabetes e depressão, relatadas a cada paciente. Durante a pesquisa, 128 participantes que tinham o problema morreram.

Finn adicionou que os resultados enfatizam a necessidade de médicos para fornecer tratamentos eficazes para a insônia, mesmo na ausência de problemas de saúde. "A insônia é um sintoma pesado e tem um impacto negativo na qualidade do sono, o que pode levar as pessoas a procurarem tratamento", disse. "A identificação de insônia como fator de risco de mortalidade pode ter implicações clínicas e elevar o nível de prioridade para o seu tratamento."

Uma boa noite de sono
Um estudo anterior realizado pela American Academy of Sleep Medicine provou que dormir bem é um dos segredos para a longevidade. A partir da análise de 2.800 pessoas, os resultados mostraram que cerca de 65% das pessoas relataram que sua qualidade de sono foi boa ou muito boa e o tempo médio diário de sono foi 7,5 horas, incluindo cochilos.

Os mais velhos, de 100 anos, e os adultos acima de 70, foram os mais prováveis de relatar boa qualidade de sono do que os participantes mais jovens, de 65 a 79, após controle de variáveis como as características demográficas, socioeconômicas e de saúde.

O neurologista Shigueo Yonekura, do Instituto de Medicina e Sono dá dicas simples de como espantar a insônia:

- Leia um livro: a leitura ajuda a melhorar a insônia, porém recomenda-se que sejam livros menos complexos e não tão interessantes, porque senão o efeito pode ser o inverso;

- Escolha a trilha sonora: Escutar uma música antes de dormir pode ajudar a embalar o seu sono. "É melhor ouvir algo mais calmo, que te faça relaxar. Um ritmo mais acelerado vai te deixar agitado", diz o neurologista;

- Prepare um chá morninho: Os chás, que não são à base de cafeína, em geral, ajudam a relaxar e por isso são bons indutores do sono;

- Faça uma massagem: "A massagem ajuda a dormir, pois relaxa os músculos e a mente. Uma das maiores causas da insônia, hoje em dia, é o estresse e as tensões acumuladas. A massagem é benéfica porque alivia estes sintomas", explica Shigueo.

Dê importância ao sono Dormir bem ajuda a memória, melhora o humor e ajuda você a sentir menos fome

Uma boa noite de sono é capaz de transformar não só o seu dia, mas a sua saúde. As pessoas que mantêm horários regulares para dormir, geralmente, apresentam imunidade mais alta, além de se saírem bem no combate a problemas como a obesidade. Um estudo da Universidade Case Western Reserve, nos Estados Unidos, mostrou que mulheres que dormem cinco horas ou menos por dia têm 32% mais chances de engordar quando comparadas a outro grupo, habituado a dormir cerca de sete horas diárias.

"Quando não dormimos o suficiente, o metabolismo fica mais lento. O corpo entende que precisa economizar energia para continuar trabalhando. E o contrário também é válido: se dormirmos em média oito horas, todos os dias, o metabolismo segue em ritmo mais acelerado constantemente", explica a nutricionista Márcia Curzio.


O organismo bem descansado tem mais fôlego para a queima de calorias, segundo a especialista. Problemas como hipertensão e crises depressivas também assustam menos quem fecha os olhos sem dificuldade. A endocrinologista e presidente da Abeso, Rosana Radominski, conta que, durante o sono, nosso corpo passa uma espécie de fase de manutenção. "Há equilíbrio de hormônios, evitando o acúmulo de gordura e até interferindo no controle de apetite. A leptina, substância relacionada à sensação de saciedade, também é secretada durante o sono", afirma.

Também é comum encontrar pacientes que sofrem de insônia com tendência a diabetes. Isso acontece porque a falta de sono inibe a produção de insulina, hormônio que age na regulação da quantidade de açúcar no organismo. Fora isso, ainda há o aumento na produção de cortisol, hormônio liberado em situações de estresse e associado a uma descarga de glicose na corrente sanguínea.

A curto prazo, o efeito mais notório da falta de sono é o mau humor
A curto prazo, o efeito mais notório da falta de sono é o humor intragável. "As dificuldades do sono trazem cansaço irritação, ansiedade e falhas de memórias, além de lentidão no raciocínio", afirma a psicóloga Catia Alves de Oliveira. O sono é um processo cíclico de quatro etapas até o estágio do sono REM, fase profunda em que acontecem os sonhos. É nesse momento em que o corpo está totalmente relaxado, recuperando-se do desgaste físico de todo um dia. "Curiosamente, enquanto descansamos, o cérebro trabalha a todo vapor", diz Catia.

Durante o seu descanso, ocorre a síntese de proteínas responsáveis pelo desenvolvimento das conexões neurais, aprimorando habilidades como memória e aprendizado. Durante a noite, o cérebro faz uma varredura entre as informações acumuladas, guardando aquilo que considera primordial, descartando o supérfluo e fixando lições que aprendemos ao longo do dia. Por esse motivo, quem dorme mal, geralmente, sofre para se lembrar de eventos simples, como episódios ocorridos no dia anterior ou nomes de pessoas muito próximas.

Está difícil?
Tomar um copo de leite antes de dormir pode ajudar você a parar de se revirar na cama. A nutricionista Solange Saavedra, do Conselho Regional de Nutricionistas explica que a bebida contém triptofano, aminoácido indutor natural do sono. "Este aminoácido aumenta a quantidade de serotonina, que age como uma espécie de sedativo e ajuda a relaxar".

Nutrientes como o zinco, o potássio e a vitamina C também são fundamentais para várias reações químicas que acontecem durante o estado de relaxamento. As sementes oleaginosas (nozes e castanhas) fornecem nutrientes que contribuem para uma noite de sono tranquila.

Sono auxilia cérebro a priorizar os fatos que serão memorizados

Uma pesquisa feita por estudiosos da Universidade de Harvard e do Boston College, nos Estados Unidos, mostrou que o sono influencia no armazenamento de fatos, guardando ou excluindo memórias, conforme a significância emocional que elas apresentam.

Na prática, foi notado que um período de sono ajuda o cérebro na hora de guardar lembranças mais emocionais e eliminar aquelas mais neutras. Os resultados foram alcançados depois de testes feitos com 88 estudantes universitários.

Todos os participantes presenciaram cenas que apresentavam objetos neutros, como um carro estacionado em frente a algumas lojas, e cenas que traziam objetos com aparência negativa, como um carro estraçalhado estacionado em uma rua parecida.

Para verificar o impacto do sono na seleção da memória, os pesquisadores dividiram os participantes em três grupos. O primeiro passou por um teste de memória, durante o dia, mas depois de 12 horas acordados. O segundo grupo passou pelo mesmo teste depois de 12 horas noturnas, que incluíram o período normal de sono. Já os estudantes do terceiro grupo foram submetidos ao teste de memória depois de 30 minutos que presenciaram as cenas.

Os resultados apontam que a maioria dos estudantes do primeiro grupo, que fizeram o teste depois de 12 horas acordados, não se lembrou do aspecto negativo das imagens, assim como se esqueceu dos objetos neutros. Entre os estudantes que fizeram o teste de memória depois de um período de sono, a maioria recordou dos objetos negativos. A precisão dos detalhes desta cena foi a mesma relatada pelos estudantes que passaram pelo teste meia hora depois de terem visto as imagens.

Os estudiosos chegaram à conclusão de que a cena lembrada tinha maior impacto emocional e, por isso, foi priorizada pelo cérebro, durante o sono. Além de armazenar melhor as lembranças mais importantes, os estudantes que dormiram antes dos testes não haviam retido muitos detalhes sobre as cenas neutras. Isso demonstraria que o sono ajuda na seleção das memórias.

A pesquisa indica ainda, que o cérebro consegue desatar os componentes emocionais da memória durante o sono. Esse desligamento permite que o cérebro faça uma operação seletiva e armazene somente as informações que considera mais importantes.

Estresse e ausência de nutrientes prejudicam memória
Quando a memória começa a falhar insistentemente pode ser sinal de que seu cérebro precisa de mais atenção. Segundo a nutricionista funcional Patricia Davidson, da clínica que leva seu nome, no Rio de Janeiro, o estresse é um dos maiores agentes que interferem na memória. Ela explica que isso acontece por causa do cortisol, hormônio liberado em situações estressantes, que interfere na produção de novas células neuronais, afetando a memória.



A nutricionista afirma que a alimentação pode entrar em cena como combatente da perda de memória. O contrário também acontece. Quando uma pessoa apresenta dificuldade de concentração ou de se lembrar dos fatos, é provável que estejam faltando determinados nutrientes importantes para a saúde do cérebro e manutenção da boa memória , ressalta.

Para melhorar a memória e o desempenho cerebral, a nutricionista funcional cita uma série de nutrientes. Entre eles, uma vitamina chamada colina. Patricia explica que o nutriente faz parte do complexo B e auxilia no funcionamento cerebral. Ela pode ser encontrada na lecitina de soja e ser usada em grânulos, adicionados a sucos, sopas, salada ou frutas, com duas colheres de sopa ao dia , ensina. A especialista informa ainda, que a gema de ovo é a maior fonte de colina e deve ser consumida diariamente por quem deseja notar melhorias na memória.

Mais alimentos ricos em complexo B são os grãos minerais. Eles trabalham a favor da função cognitiva e são encontrados em cereais integrais como arroz, centeio, gérmen de trigo, feijão e peixe. O guaraná e o cacau também são bons aliados nesta tarefa. Mas precisam ser usados com moderação, cerca de uma colher de chá por dia , destaca.

Outra gordura essencial para o bom funcionamento do cérebro é o ômega-3. Ele tem papel importante no desenvolvimento do cérebro em crianças e mantém a função cerebral normal em adultos , esclarece. Para encontrar a gordura, Patricia recomenda peixes de água fria, como sardinha e salmão, e linhaça.

Ficar exposto à luz antes de dormir prejudica o sono e a saúde - A iluminação baixa pode influenciar a pressão arterial e metabolização da glicose

Um novo estudo da Harvard Medical School, em Boston, mostrou que ficar exposto às lâmpadas acesas antes de dormir pode afetar a qualidade do sono, pressão arterial e diabetes.

De acordo com a pesquisa, publicada no Jornal Endocrine Society's of Clinical Endocrinology & Metabolism (JCEM), a exposição à luz elétrica, entre o anoitecer e o deitar, suprime fortemente os níveis de melatonina e pode afetar os processos fisiológicos regulados por melatonina, tais como sonolência, termoregulação, pressão arterial e metabolizar a glicose.

A melatonina é um hormônio produzido durante a noite pela glândula pineal, localizada no cérebro. Além de seu papel na regulação do ciclo vigília-sono, a melatonina tem se mostrado boa para reduzir a pressão arterial e temperatura corporal e também tem sido explorada como uma opção de tratamento para a hipertensão, insônia e câncer.

Os pesquisadores avaliaram 116 voluntários saudáveis com idades entre 18 e 30 anos que foram expostos à luz ambiente ou luz fraca nas oito horas anteriores a hora de dormir, durante cinco dias consecutivos. Um cateter venoso foi inserido no antebraço dos participantes do estudo para a coleta contínua de plasma de sangue a cada 30 minutos para medições de melatonina.

Os resultados mostraram que a exposição à luz ambiente antes de deitar fazia a melatonina ter uma duração encurtada em cerca de 90 minutos. Além disso, a exposição à luz ambiente durante as horas normais de sono fazem a melatonina ficar mais de 50 % suprimida.

Mais pesquisas são ainda necessárias tanto para fundamentar a supressão de melatonina como um importante fator de risco para câncer de mama como para determinar os mecanismos pelos quais a melatonina regula o metabolismo da glicose.

Quatro dicas para dormir bem

1. Livro chato

Boa para o corpo e para a mente, a leitura ajuda a melhorar a insônia, porém, devem-se tomar alguns cuidados na hora de escolher o livro de cabeceira: "Na maioria dos casos, a leitura ajuda a pegar no sono, mas recomendamos livros menos complexos e interessantes. Prefira ler coisas que não chamem sua atenção ao ponto de despertar sua curiosidade, senão, o efeito será contrário", explica o neurologista Shigueo Yonekura, do Instituto de Medicina e Sono.

2. Chá tem que ser morninho

Os chás, que não são à base de cafeína, em geral, ajudam a relaxar e por isso são bons indutores do sono, mas o alerta fica para a temperatura da bebida: "Um chá de camomila ou erva-doce, por exemplo, faz bem porque relaxa, só que as altas temperaturas elevam a temperatura corporal e isso também pode causar insônia. Por isso, prefira chás gelados ou em temperatura ambiente e evite bebidas muito quentes antes de dormir", diz o neurologista.

3. Hora do leitinho

Shigueo Yonekura explica que o leite é rico em triptofano, um aminoácido que essencial para a síntese de serotonina, o hormônio do bem-estar. Por isso, consumir o alimento relaxa e garante uma noite tranquila.

4. Hora da malhação

Praticar exercícios físicos sem dúvida ajuda a amenizar a insônia, porém, Shigueo explica que existem restrições ao estilo e ao horário do treino: "É muito saudável e eficaz praticar exercícios físicos, só que os treinos devem ocorrer pelo menos duas horas antes do horário de ir dormir e não podem ser competitivos, senão, despertarão seu corpo e sua mente", explica o neurologista. "O ideal é praticar esportes mais leves, caso seja difícil praticá-los duas horas antes de dormir", continua.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Felicidade: estado de espírito ou deve ser prevista em lei?

Felicidade é um estado de espírito ou esse substantivo feminino tem que ser garantido pelo Estado? O artigo sexto da Constituição Federal declara que são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados.

Uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), de autoria do senador Cristovam Buarque, que ficou conhecida como PEC da Felicidade e tramita no Congresso, quer incluir uma expressão na nossa Carta Magna. Se aprovada, a Constituição vai determinar que "São direitos sociais, ESSENCIAIS À BUSCA DA FELICIDADE, a educação, a saúde..." (o restante do texto não muda).

Apoiado pelo Movimento Mais Feliz, que é capitaneado pelo publicitário Mauro Motoryn, o objetivo da PEC é pensar na felicidade de uma forma mais coletiva. Isso, de fato, é possível? Você, leitor, pode estar pensando: incluir a palavra felicidade na Constituição vai garantir que nós, brasileiros, sejamos mais felizes?

Felicidade em lei

Mauro Motoryn diz que a mudança na Constituição é importante por dois motivos: vai trazer uma visão mais humanista dos direitos, tendo a pessoa como pano de fundo; e vai propiciar a criação de políticas públicas com esse fim.

— Se mudar a Constituição, o orçamento da União teria como criar condições com este foco — vislumbra Mauro Motoryn.

Há, no entanto, uma vertente mais cética a esta iniciativa. Ceticismo que vem de uma população escaldada, que sabe que o que está escrito e previsto em lei nem sempre se reverte em realidade. O economista Eduardo Giannetti, por exemplo, pensa que adicionar palavras à Constituição não muda muita coisa:

— A Constituição já está repleta de itens e, mesmo assim, temos déficit na educação infantil, temos problemas sérios na estrutura familiar.

Autor de um livro chamado Felicidade — no qual trata do tema a partir do Iluminismo e suas promessas de felicidade, que trariam o progresso nas ciências e nas artes —, Giannetti é a favor de questionarmos se o trajeto que estamos trilhando caminha a favor ou contra a felicidade.

História

Lá no século 19, felicidade era um tema muito bem quisto pelos economistas. No século 20, devido ao crescimento da preocupação com a aquisição, o item felicidade foi sendo deixado de lado. Até que, no fim do século, o assunto voltou à pauta.

— Hoje, há uma mudança gradativa. As pessoas começam a perceber que estão sem tempo para os relacionamentos, para a família, para o lazer. Mas é uma mudança que está mais no campo da percepção do que da ação — pondera o economista.

Sabe por que Giannetti diz isso? Porque temos dificuldade em nos livrar — ou ao menos dosar — das atuais necessidades que criamos. São os tais bens materiais que, segundo palavras de Giannetti, nos ajudam a ser socialmente respeitados e estimados, porém, demandam tempo e labuta.

E você, tem feito algo em prol da sua felicidade?

Felicidade hoje é diferente do que era ontem, que difere também do que era anteontem. Para os gregos, a satisfação se dava muito mais nos campos das discussões filosóficas, de arte, política e esporte, e menos na relação econômica. Na Idade Média, a felicidade estava voltada aos aspectos religiosos e espirituais (estado a ser alcançado na outra vida). Foi no Iluminismo, no século 18, que as pessoas começaram a associar a felicidade ao desenvolvimento econômico, com a ideia de progresso associado ao tecnicismo, à ciência, ao racionalismo. A partir dessa época, começou-se a pensar que o progresso econômico traria bem-estar.

— Até certo ponto o progresso se justifica. Você leva em conta necessidades prementes — argumenta o economista e professor de História do Pensamento Econômico, Eduardo Giannetti.

Ser X Ter

Mas, de lá para cá, o aspecto econômico ganhou proporções tão irrefreadas que o conceito de felicidade ganhou status de "ter".

— A moeda corrente são os bens externos.

Ao dizer isso, Giannetti exemplifica com uma pesquisa recentemente publicada na revista The Economist. Aplicada em 11 países, a pesquisa buscou saber como as mulheres se sentiam em relação às suas avós. O resultado mostrou que a ala feminina hoje reconhece ter mais oportunidades, mas não se sente tão feliz quanto suas avós. Resultado das duplas ou triplas jornadas, que incluem ser profissionais de sucesso, mães dedicadas e mantenedoras do lar.

Voltar a compreender o aspecto econômico como parte de um todo e não como o fim para ser feliz é, na opinião de Giannetti, "um amadurecimento que só virá com a conscientização da grave perda ambiental". Giannetti inclui a questão ambiental para dizer que, dentro de um conceito capitalista, com produção e consumo exacerbados, o meio ambiente fica gravemente desgastado, prejudicando a nós mesmos, como num ciclo vicioso.

— Cada pessoa tem de buscar a vida que lhe faz sentido. Gostaria de estar num mundo diversificado, em vez desse caminho estreito do consumo.

Década da felicidade

Será que estamos caminhando nessa direção? Segundo previsões de Mauro Motoryn, publicitário à frente do Movimento Mais Feliz, a próxima década será a da felicidade. O mundo estará discutindo este tema. Previsão que se dá com base em iniciativas que vêm ocorrendo mundo afora. Exemplo: em novembro, o Reino Unido lançou uma consulta pública para definir como fazer uma pesquisa para medir o grau de felicidade.

Outro exemplo: o Índice do Planeta Feliz (IPF), criado pela Fundação para Nova Economia, usa dados como expectativa de vida e felicidade autodeclarada para avaliar o bem-estar. E já houve pesquisas na Europa, Estados Unidos e América Latina. Ou seja, existe uma preocupação dos governos com o aspecto felicidade. E há críticas ao índice que o Produto Interno Bruto (PIB) produz, já que ele é baseado apenas na produção econômica.

O norte-americano Joseph Stiglitz e o indiano Amartya Sen, ambos Nobel da Economia, defendem que é preciso propor uma alternativa ao PIB para avaliar o estágio de desenvolvimento de uma nação. Um indicador que, segundo eles, deve considerar valores imateriais, como a qualidade do sistema de saúde, do transporte coletivo e da educação. Algo como Felicidade Interna Bruta (FIB).

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Segunda chance: Casou, separou, voltou: cometendo o mesmo erro ou reacendendo o amor?

Nádia* casou-se cedo, aos 19 anos. Ela afirma que não sabia muito bem se o que estava fazendo era a escolha certa. Pedro*, seu noivo, parecia um ótimo partido, uma pessoa honesta, com boa índole e se dizia louco por ela. O casamento foi bastante simples, a noite de núpcias foi quase um desastre, mas a convivência nos quatro anos seguintes mostrou-se tranqüila para ambos até que Nádia, grávida, começou a desconfiar da fidelidade do marido, que saía constantemente à noite. Quando ameaçou dar um ultimato a Pedro, surpreendeu-se com uma agressão física. Após seis meses, ela pediu o divórcio.

Arrependido, ele reapareceu um ano depois, fazendo juras de amor e prometendo mudar seu comportamento. A mágoa já não tinha tanta força, ela não resistiu aos pedidos de Pedro. Resolveu perdoar e voltar para o ex-marido. "Pedro prometeu que dessa vez seria diferente e que me amava muito para viver longe de mim. Realmente, não tive mais conhecimento de possíveis traições e ele não encostou mais o dedo em mim com violência", revela Nádia.

Apesar de ter falhado na primeira, o casal voltou com mais vontade de ficar junto. "Aos poucos, o amor que sentia foi reacendendo e ficando até maior do que antes. Era como se tivéssemos acabado de nos conhecer, um recomeço de verdade. Depois de um tempo, ele me pediu em casamento outra vez e eu aceitei. Acreditava que ninguém mais poderia nos separar novamente", conta.

No entanto, nem tudo foram flores. Depois de mais cinco anos juntos, as brigas se tornaram cada vez mais freqüentes e Nádia resolveu, em 2003, largar o marido pela segunda vez. "Não agüentava a estupidez dele. Ele se mostrava uma coisa no início e depois agia de outra forma. Não respeitava a mim nem ao nosso filho, me agredia verbalmente e às vezes até fisicamente. Eu vi que estava me iludindo achando que ele mudaria, decidi que não permitiria mais ser enganada nem que eu enganasse a mim mesma", confessa ela, que mora há um ano com outro parceiro.

“Ele é o homem da minha vida. Jamais me perdoaria se tivesse deixado-o escapar mais uma vez. Acho que este tempo separado não destruiu nada do que a gente tinha e só serviu para crescermos e nos aprimorarmos”

A história de amor de Nádia e Pedro não teve um final feliz, mas é apenas uma entre muitas que poderiam ter dado certo, se o futuro atendesse às esperanças de casais que se dão uma segunda chance após uma separação. Assim como Nádia, a professora Adriana Fontes, de 29 anos, seguiu o coração e concedeu uma nova oportunidade para um ex-noivo, que hoje é seu marido. "Namorávamos desde 1999 e éramos muito apaixonados. Mas assim que ficamos noivos ele teve que mudar de estado a trabalho e não tinha condições de viajar com freqüência para me ver. Apesar de amá-lo, não resisti às saudades, à distância e ao ciúme, e chegamos à conclusão de que seria melhor dar um tempo", diz Adriana.

O noivo relutou de início, mas quatro meses depois de ir embora já estava saindo com outra pessoa. "Fiquei muito chateada quando soube, mesmo que a gente não estivesse mais junto. Ele sempre dizia que estava apenas tentando me esquecer, e que no fundo ainda me amava, mas meus amigos enchiam a minha cabeça contra ele. Só que, dentro de mim, eu sabia que ele estava sendo sincero e que eu também só queria ficar com ele", explica.

Adriana procurou sair com outras pessoas, mas a cabeça e o coração permaneciam na lembrança do ex. Quatro anos se passaram, ele pediu demissão do emprego e voltou à cidade de Adriana. Quando se reencontraram, tudo voltou a ser como antes: "Sentimos no olhar um do outro toda aquela paixão de novo. Não teve jeito. Reatamos e marcamos a data do casamento no ano seguinte", conta a professora. "Ele é o homem da minha vida. Jamais me perdoaria se tivesse deixado-o escapar mais uma vez. Acho que este tempo separado não destruiu nada do que a gente tinha e só serviu para crescermos e nos aprimorarmos", relata.

Íngrid*, de 48 anos, também tentou reviver uma relação que tinha acabado. Já divorciada, ela acreditava que tinha finalmente encontrado o amor de sua vida em outra pessoa, com a qual ficou casada por oito anos. "No início foi tudo perfeito. Eu estava totalmente apaixonada, achando que ele era o meu príncipe encantado. Porém, depois de uns três anos, começaram as dúvidas, brigas, telefonemas esquisitos. Isto acabou com a nossa relação", destaca Íngrid.

Ingrid apostou na mudança do amado e se arrependeu. "Ele é um homem muito sedutor e mulherengo. Da primeira vez que soube de sua pulada de cerca ainda não vivíamos juntos. Meu mundo caiu! Sabia que ele era assim, mas resolvi apostar na mudança, crendo que, por me amar, ele iria mudar. É óbvio que isto não aconteceu e nos separamos depois que soube que ele estava com uma outra mulher que morava perto de nós", afirma.

Íngrid acreditava que deixar o parceiro livre para viver aquela paixão seria mais inteligente de sua parte e pouparia um sofrimento maior. A separação ocorreu de forma tranqüila e o ex continuou ajudando-a nas despesas com o filho de seu primeiro casamento. Para se recompor, Íngrid voltou a estudar, sair com amigos e conhecer novas pessoas. "Senti o gosto da liberdade e adorei. Relacionei-me com vários homens, mas sem trazê-los para minha casa, para proteger meu filho. Mas não conheci ninguém nesta fase que superasse as qualidades do meu ex-marido", revela.

"Depois de três anos ele se separou. Nunca perdemos o contato e, por motivo de doença na família dele, nos reaproximamos mais rápido e intensamente. Aos finais de semana, passamos a sair à noite. Ele voltou a frequentar a minha casa e meu filho adorou". Depois de um ano, contudo, Íngrid levou um novo balde de água fria: "Recebi um telefonema da ex-mulher dele, dizendo que ele estava querendo voltar para ela. Nós nos encontramos, conversamos e eu cheguei à conclusão de que ele não tinha jeito mesmo. Saí de cena novamente. Porém, não da mesma maneira. Estou mais forte e acho que de certa forma já esperava isso", conclui Íngrid.

“O casal pode se gostar muito, mas não se dá conta do que é o conviver, de que ambos trazem facilidades e dificuldades que a vida lhes deu anteriormente, e muitas vezes tudo isso prejudica o avanço da relação”

Hoje, os dois continuam amigos e, apesar de descrente de relacionamentos amorosos, Íngrid se diz bastante amadurecida com o que passou. Tanto ela quanto Nádia acreditaram que um casamento poderia dar certo depois de já ter dado errado. Será que a decisão de se dar uma "segunda chance" a um parceiro não passa de persistência no erro? Ou será que relacionamentos podem ser "reciclados" e é possível reconquistar a felicidade depois de muito tempo ou de traições? Será que o amor de verdade resiste às separações e mágoas?

Fazendo certo

Para o psicólogo Paulo Bonança, a "segunda vez" pode, sim, ter um final feliz, principalmente porque o casal está mais maduro emocionalmente e já consegue perceber seus erros e acertos na primeira relação. "O rompimento é como um luto, em que os parceiros podem refletir sobre o que aconteceu durante o relacionamento. Este momento serve para que eles se perguntem qual a participação de cada um naquilo que não teve sucesso. Com isso, ocorre um crescimento, o casal 'se atualiza', o que até facilita a reaproximação, e pode até pensar: 'Peraí, temos tudo para dar certo'", observa Paulo, que afirma que é comum a pessoa tentar solucionar algo seu no outro.

Segundo ele, o relacionamento é um processo que envolve aspectos regressivos que podem pesar demais no desenvolvimento da relação: "Quando se inicia este processo, muitas coisas vêm inclusas, como fatores atuais, fatores do passado e espectativas para o futuro. O parceiro vai ter que lidar com reações da sociedade, com a família e com o passado do outro. O casal pode se gostar muito, mas não se dá conta do que é o conviver, de que ambos trazem facilidades e dificuldades que a vida lhes deu anteriormente, e muitas vezes tudo isso prejudica o avanço da relação", explica.

É fato que algumas pessoas, como Íngrid e Nádia, se magoam com determinadas atitudes dos parceiros e acabam dando uma nova oportunidade para a relação na esperança de que o outro mude seu comportamento ou até mesmo sua personalidade. "Nesse caso, é preciso se perguntar se gosta do parceiro do jeito que ele é, ou se gosta de como ele poderá ficar depois que mudar. Muitas vezes é esta pessoa que deseja a transformação do outro que precisa mudar seus padrões de felicidade e de escolha", ressalta o psicólogo.

Paulo Bonança destaca, ainda, que a chave para o sucesso de quem quer tentar novamente ser feliz com o ex (ou mesmo com um novo par) é sempre o diálogo: "Conversar é fundamental. Mas é preciso conversar de verdade. Muita gente se fala, mas não se comunica. Finge que sabe tudo do outro e que o outro sabe de tudo também, e fica por isso mesmo. Assim, assuntos sérios que devem ser abordados acabam virando tabus. O casal não pode ter medo de conversar sobre qualquer tema, principalmente quando o tema envolve os dois. E ter a ver com os dois é ter a ver com cada um", completa.

* Os nomes foram alterados a pedido dos entrevistados.

[Mônica Vitória]

Visões femininas do amor

"Grande afeição de uma pessoa por outra. Afeição, grande amizade, ligação espiritual. Carinho, simpatia. Desejo sexual". Assim é definido o amor no dicionário. Mas como explicar um sentimento tão complexo? Muitos escritores, poetas, filósofos tentaram, arduamente, traduzir o intraduzível em palavras. Camões, por exemplo, afirmou que o "amor é fogo que arde sem se ver / É ferida que dói e não se sente / É um contentamento descontente / É dor que desatina sem doer".

Já o escritor português Camilo Castelo Branco (1825 - 1890) disse que "o amor é a primeira condição da felicidade do homem". As definições são muito complexas e diferentes, mas será que a compreensão deste sentimento muda ao longo do tempo? Para tentarmos responder a essa questão, selecionamos mulheres de diversas faixas etárias e histórias amorosas bem distintas para tentar entender o que é o amor.

Acordando para o amor

Ah, a juventude! Época de tantas descobertas, conflitos, dissabores e muitas ilusões. Nada como ter vinte e poucos anos e poder sonhar e desenhar o futuro. Nesse comecinho de vida temos mais expectativas e devaneios que verdades e constatações, principalmente acerca deste sentimento. Foi assim com a jornalista Juliana Resende, 25 anos. Depois de sete anos e meio de relacionamento, ela já consegue definir e explicar o amor de uma forma diferente. "No início, acho que a visão é mais caricata, como se fosse de novela. Você imagina que terá sempre romance, sonhos compartilhados, que o homem será perfeito. Hoje acho que o amor não precisa ser intempestivo, ele, na verdade, é mais calmo, mais companheiro", diz.

“Já sofri muito, mas amar não é sofrer. A gente espera muito do outro e acaba se frustrando. O certo é não ter expectativas.”

A jornalista acha que existem diversas formas de amar e, talvez, a mais consistente seja com base na amizade. O que Juliana aprendeu, mesmo com a tenra idade, é que o outro não precisa ser exatamente como a imaginação projeta, mas sim uma pessoa com interesses comuns. Ela, entretanto, tem dúvidas se realmente vai encontrar esse amor. Pessimismo? "Não, realismo. A relação homem e mulher se transforma muito com o tempo", afirma ela, que, definitivamente, não acredita em alma gêmea.
Mesmo com essa visão, Juliana percebe que as mulheres de sua idade continuam tentando encontrar o grande amor, ainda que se escondam sob a imagem de mulher independente e bem-resolvida. "Elas continuam procurando, mesmo estando felizes independentes. Ainda lhes falta isso", afirma a jornalista, atualmente solteiríssima.

Menos sonhos, mais realidade

A gerente de marketing Alessandra Orrico, 32 anos, compartilha a opinião de Juliana: existem várias formas de amar e ela é um bom exemplo disso. Aos 19, teve o primeiro amor, mas hoje admite que "foi mais paixão que amor", porque na época idealizava muito a relação e o sentimento. Chegou a ficar noiva do rapaz, mas aos 23 anos, já à beira do altar, jogou tudo para o alto por causa de traições e mentiras. "Já sofri muito, mas amar não é sofrer. A gente espera muito do outro e acaba se frustrando. O certo é não ter expectativas", ensina.

Tempos depois do noivado, viveu um romance com um grande amigo. Os dois não quiseram assumir nenhum tipo de envolvimento, mas Alessandra garante que existia amor. "Era uma relação mais adolescente, que você sabe que não é para sempre. É a curtição do momento. Só que ele é meu amigo e o sentimento é distinto, mas existe", explica. Já com atual namorado, com quem está há sete anos e pretende casar, Alessandra afirma que a relação é mais madura, sadia, fraternal. "O Alex é um cara que eu não quero perder nunca, que eu confio e quero envelhecer juntinho", derrete-se.
Mesmo mais descolada em assuntos amorosos, Alessandra acredita em amor eterno, sim, senhora! E diz que o relacionamento perfeito é aquele que o companheiro está junto para tudo, apoiando em todas as decisões. O principal, segundo ela, é que ambos não criem expectativas em relação à união, nem busquem no outro algo que ele não pode ser.

Alessandra garante que é muito bem-resolvida sobre o tema. Acredita que as mulheres balzaquianas, de uma forma geral, não conseguem lidar bem com a situação. "Mulheres de 30 são bem complicadas. Algumas são mais realistas e param de idealizar. Outras não, ainda querem o príncipe encantado. Eu estou no grupo das bem-resolvidas. Me desiludi muito cedo", conta.

Quem disse que mesmo depois de muita experiência e algumas frustrações as mulheres não querem amar? A vendedora R.R*., 58 anos, não perdeu as esperanças e ainda procura encontrar um companheiro para compartilhar alegrias e problemas. Mesmo depois de dois casamentos frustrados - um terminou por traição e outro, por tortura psicológica - ela continua acreditando no amor, mas aprendeu que o sentimento fica diferente.

R.R. tem dois filhos adultos, um deles casado, e percebe bem as diferenças de sua geração e a dos dias atuais. "Hoje as pessoas são mais pé no chão. A gente pensava que casamento era para a vida toda, vocês não, têm outros projetos de vida mais sólidos. Aliás, se olharmos bem, a gente não pensava como ia ser o futuro. Apenas vivíamos o presente", relembra. Para ela, o amor se resume a companheirismo e amizade. "Na nossa idade, a solidão é muito grande, principalmente depois que os filhos crescem", conta.

“Não perdoei uma traição e fiquei com muita mágoa. Não me senti frustrada por isso, mas acho que faria diferente.”

Segundo ela, para um amor dar certo, é preciso ter admiração pelo outro em todos os campos da vida. A receita é ver menos os defeitos e valorizar as qualidades. "Muita cobrança destrói tudo", afirma. Para R.R, o grande número de separações hoje se deve à imaturidade. "A vida é tão simples. O problema é que a gente quer sempre muito do outro", filosofa.

O que você faria por amor?

Elas ainda acreditam no amor e já fizeram muitas coisas por ele. A jornalista Juliana Resende, por exemplo, se separou de um rapaz em nome do sentimento que nutria por ele. "Se ficasse com ele, não iria dar certo. Nem eu, nem ele seríamos felizes. Desisti de um amor para deixá-lo viver", relembra. E a gerente de marketing Alessandra Orrico perdoou uma traição por amor.
R.R. não teve o mesmo posicionamento de Alessandra. No entanto, afirma que poderia ter feito muito mais. "Não perdoei uma traição e fiquei com muita mágoa. Não me senti frustrada por isso, mas acho que faria diferente", afirma.
Mesmo com todas essas experiências, alegrias e frustrações, elas garantem que todo esforço e desprendimento vale a pena. "Ah, amor é tudo na vida de uma pessoa. Ninguém pode viver sem amor", suspira R.R..

É, definitivamente elas ainda querem amar!

* O nome foi ocultado a pedido da entrevistada.

Ele é indeciso e você não vê futuro na relação? Tome uma atitude!

Quando um namoro é muito longo é comum escutarmos: ou casa logo ou é separação na certa. É o famoso "ou vai ou racha". Os homens ficam em eterna dúvida, fingindo que não é com eles. As mulheres empurram a decisão com a barriga e torcem para que o pedido de casamento venha no melhor estilo Hollywood. Mas... chega uma hora que não dá mais! Se um dos lados está em dúvida sobre o que fazer no futuro a dois e a história vai acontecendo sem cenas emocionantes, tome cuidado para não ficar sem final feliz.

Foi o que aconteceu com a jornalista Juliana Resende. Ela namorou durante oito anos e tudo conspirava a favor da troca de alianças: já tinha um armário na casa dele, a sogra a adorava (isso conta muito!) e as famílias estavam na expectativa. Faltava o mais importante: o noivo. O namorado? Fingia que nada estava acontecendo. "Certa vez, perguntei se ele não pensava em se casar. Ele respondeu que um dia poderia pensar nisso, mas que 'não por enquanto'. Nesse momento, deixou bem claro que não estava nem aí. Fiquei arrasada, pois o nosso namoro já tinha um bom tempo. Nos dávamos muito bem em todos os sentidos. Éramos companheiros, amigos, confidentes e amantes. Tinha tudo para ser um bom casamento", lamenta.

Dúvida cruel

Juliana começou a perceber que estava sendoenrolada quando seus amigos, que tinham menos tempo de relacionamento, começaram a ficar noivos. "Ele me dizia que tinha que terminar a faculdade, fazer pós-graduação e aí depois pensaria nisso. Dava como exemplo o casamento do irmão, que casou cedo e acabou enrolado em dívidas, tendo que recorrer à mãe. Hoje sei que foi pura enrolação, podíamos esperar os estudos dele com, pelo menos, um compromisso de noivado", relembra. Juliana tomou coragem e terminou o relacionamento. "Não dá para ser enrolada a vida toda, não é?", questiona.

Sensação parecida sente a nutricionista Cátia Borges. Em longos dez anos de relacionamento, o namorado ainda não deu pistas se vai ter ou não casório. Acostumada com a relação, ela tem medo de conversar com Jonas sobre o assunto. "Tenho medo do fim, de não encontrar ninguém depois de velha", exagera ela, que tem 31 anos. As amigas mais próximas já estão casadas e não se conformam com a situação de Cátia.

Teoricamente não há empecilhos para subirem ao altar. Ambos têm condições financeiras favoráveis e o relacionamento é maduro. "Sei que existe amor. Mas não sei se ainda existe um frio na barriga, aquela coisa da paixão. Ele é indeciso até na escolha do restaurante. Eu tomo as rédeas e decido tudo, mas falar sobre casamento... se conversarmos sobre isso, tenho certeza que ele vai alegar que ainda tem muita coisa para fazer antes de casar. Perdemos boa parte da nossa juventude juntos. E se ele quiser coisas novas, o que eu faço?", questiona.

Ai, que medo!

De acordo com Andrea Cavalieri, psicóloga do Espaço Criar-se, no Rio de Janeiro, qualquer mudança, principalmente aquelas que revelam uma transformação de ciclo na vida, como o casamento, ter um filho e separação tendem a ser complicadas. "A tomada de decisão implica em administrar o novo. Ao mesmo tempo em que o novo é desejado, ele é ameaçador. Você vai sair da sua zona de conforto, de coisas que você tem domínio para uma realidade totalmente diferente. Isso é muito difícil", explica.

"Em um relacionamento, não lidamos apenas com o amor. Existem outros sentimentos envolvidos:apego, ciúme, egoísmo. A maioria das pessoas não sabe lidar com isso tudo junto", continua. O medo, segundo Andrea, tem a capacidade de paralisar. Não permite fazer escolhas e, pior, potencializa a tendência de ver tudo pelo lado negativo. Com esse sentimento, as pessoas pensam em tudo o que não pode dar certo com a escolha e esquecem-se o que de bom pode vir a acontecer. O diálogo do casal é importante para que seu companheiro se liberte das dúvidas e recupere a autoestima.

Encarando a situação

Se mesmo tentando de tudo ele ainda permanece em cima do muro, é hora de ter uma conversa séria. Para Andrea, antes de colocá-lo no paredão, é bom ter certeza do que realmente quer, afinal, você vai ter que bancar qualquer resultado dessa tomada de atitude. Ele podem ficar intimidado e cair fora. "A mulher deve ser honesta com o homem. Em uma relação de muito tempo, essa atitude não é pressionar e, sim, avaliar a relação. Ela deve ter em mente que corre riscos, mas o que é melhor para ela? É preciso verificar o risco-benefício de uma atitude. Ela topa ficar mais tempo vivendo como está vivendo? Como quer estar daqui a cinco anos?", enumera a psicóloga.

Foi essa avaliação que Juliana fez e garante: não se arrepende. E ainda dá a dica para quem está vivendo esse dilema. "Acordem antes que seja tarde. Muitas vezes nos fazemos de cegas e acabamos sofrendo mais do que eles. Se você sentir que não vai dar samba, fuja para a lambada, mas não fique parada esperando um milagre do céu. Você descobre com o tempo que fez a melhor opção", conta ela, que curte, feliz, a sua solteirice.

O ponto final: Qual é a dificuldade dos homens em dar fim a um relacionamento?

Está na cara que o relacionamento de vocês anda de mal a pior. Implicância demais, paciência de menos e sexo, que é bom, nem pensar. Por mais que o namoro vá mal para os dois, você tem a mais absoluta certeza de que ele não vai tomar a atitude de terminar. Parece que os homens têm imensa dificuldade de botar um ponto final nas histórias e preferem empurrar uma relação fracassada com a barriga.

As mulheres reclamam da falta de atitude deles para encerrar o que já acabou. Seria medo, insegurança? A publicitária Bruna D., 31, acha que os homens são uns fracos. "Nos meus dois últimos relacionamentos foi assim: não estava bom, mas tinha certeza de que o meu namorado jamais terminaria comigo. Não significa que ele acreditasse que o namoro ia ter uma reviravolta, mas que era um covarde", ataca. A bióloga Cláudia R., 33, diz que os homens deixam o trabalho sujo para as mulheres. "Eles fingem que o casamento vai bem, falam que está tudo ótimo e não tentam nada para salvar a relação. Daí, quando levam o pé na bunda, ficam tontos".

“Eles não suportam a solidão e arrumam outra, não importa quem seja. Eles ficam com a primeira que aparecer. Enquanto isso, a mulher fica chorando, apaixonada”

Comodismo?

Perguntamos a um arquiteto de 25 anos, a um redator de 30 e a um químico de 35 os motivos que levam um homem a empurrar um relacionamento com a barriga.
O primeiro disse que isso varia de homem pra homem, mas o motivo mais comum é a acomodação. "A gente já conhece aquela pessoa, está habituado às suas qualidade e defeitos. Também bate um medo de terminar e ficar sozinho", revela ele, que não acredita que um homem continue num namoro apenas por receio de fazer a namorada sofrer e vê-la chorar. "Homem é mais egoísta e não pensa se a mulher vai chorar ou se matar por causa deles", diz.

O segundo acredita que os homens têm, sim, mais dificuldades para terminar um relacionamento em decadência do que as mulheres. Também apontou ocomodismo: "Os homens são mais acomodados e conseguem viver mais tempo com uma situação incômoda do que as mulheres. Pequenas coisas podem prender-nos ao relacionamento como fazer sexo com frequência. Além disso, bate um medo de ficar sozinho, de não achar outra pessoa, de ter que começar tudo de novo, sem garantias". Para ele, a possibilidade da mulher abrir o berreiro faz com quem o homem pense mil vezes antes de chamar para uma conversa. "Vocês choram! Vocês chamam o homem da canalha. Vocês transformam aquilo num drama. Fazemos qualquer coisa para evitar a catarse", confessa.

O terceiro entrevistado, o designer de 35 anos, diz que a mulher é mais impetuosa. "Age apaixonadamente, tem coragem pra largar tudo e começar de novo - principalmente se já tiver um amante", acredita, confirmando que homem é diferente e prefere ir levando. "Há homens muito comodistas. Traem aqui e ali e vão levando com a esposa porque ela é legal, cuida dele etc", revela, lembrando que no passado as mulheres dependiam financeiramente dos maridos e, por isso, não podiam abandoná-los. "Hoje ela pode chutá-lo mais facilmente. Sexo frágil é o homem, que precisa de cuidados o tempo todo, que não aguenta nem uma dor de dente", diz.

O outro lado da moeda

Então, por unanimidade, fica determinado que homem não termina namoro por comodismo? A psicóloga Maria Manuela Ferreira não acredita nisso. "Pelo que vejo na minha clínica, nem sempre os homens têm mais dificuldades. Ao contrário, as mulheres ficam mais apegadas e não conseguem abrir mão do parceiro. Já o homem larga a mulher e nem dá notícia", garante ela, que concorda que os homens têm medo de ficar sozinhos. "Eles não suportam a solidão e arrumam outra, não importa quem seja. Ficam com a primeira que aparecer. Enquanto isso, a mulher fica chorando, apaixonada", afirma.

Segundo a terapeuta de casais Fernanda Teixeira, não se pode generalizar. "Há homens bastante intempestivos e também mulheres muito passivas. Além disso, antes de terminar um relacionamento, o ser humano, homem ou mulher, se depara com a dificuldade de encerrar uma etapa", afirma, lembrando que é preciso muita segurança para colocar o ponto final em um relacionamento. Para a terapeuta, empurrar uma relação com a barriga é um sinal de comodismo. "É deixar que o outro resolva a situação por você", explica.

Mariana Mattos, psicóloga especialista em relacionamento amoroso, afirma que a dificuldade em terminar uma relação não tem a ver com gênero: "Depende muito mais do jeito de cada um do que do fato de ser homem ou mulher". Ela lembra que há pesquisas interessantes que revelam que homens e mulheres têm expectativas diferentes num casamento. "Quando as mulheres reclamam que o relacionamento vai mal e os maridos alegam que está 'tudo bem' é porque, para eles, está tudo bem mesmo", explica, salientando que as prioridades são diferentes entre homens e mulheres. "Falta de amor, por exemplo, pode ser um bom motivo para uma mulher terminar um casamento. Já para o homem, não. Ele pode considerar o status social mais importante", finaliza.

Casamento consanguíneo

Os romances entre pessoas da mesma família geraram controvérsias ao longo da história. Cleópatra teve que se casar com o irmão Ptolomeu XIII para seguir os costumes da dinastia ptolomaica. Já na Idade Média, essas uniões eram incentivadas no intuito de manter o patrimônio familiar. Mais tarde, porém, ocasamento consanguíneo passou a ser considerado uma imoralidade. E em pleno século 21, o assunto está longe de ser superado.


Pesquisas científicas

atuais apresentam um elemento de complicação para os enlaces entre membros de material genético semelhante. O geneticista, professor da UERJ e pediatra Isaías Paiva explica: "A problemática é o risco maior de ocorrência dedoenças de herança recessiva autossômica".

Explicação científica

Todas as características do nosso organismo foram definidas através de uma dupla de genes, sendo um do pai e outro da mãe. Segundo Paiva, muitos de nós, mesmo não apresentando problemas, podemos ter mutações em um dos genes que são transmitidas a descendentes. "Em muitos casos, temos um gene com uma determinada mutação e outro sem. Aí a pessoa não apresenta nenhum sinal porque o gene sem mutação faz a atividade normal. A doença recessiva ocorrerá quando dois genes com as mesmas mutações, tanto o do pai quanto o da mãe, se unirem. No caso do casal com códigos genéticos parecidos, esse risco aumenta", diz.

É uma conta de probabilidade. Paiva afirma que tudo não passa de um estudo das heranças genéticas da família: "O geneticista vai fazer um levantamento genético das doenças recessivas na família e montar um heredograma que chega até a quinta geração". Nesse caso, ter um ancestral comum faz aumentar o risco desse encontro de genes recessivos iguais, chamado pelos especialistas de homozigose por origem comum. "É mais fácil que pessoas da mesma família partilhem das mesmas mutações genéticas", ressalta.

Riscos reais

Apesar de serem maiores, Paiva ressalva que esses riscos não são passíveis de impedir uma relação conjugal entre familiares: "Se, ao fazer o heredograma, não é encontrado nenhum histórico de doença, a chance do casal consanguíneo ter um filho que apresente uma doença genética é de 6%. Existem outros 94% de chances de gerarem uma criança normal. Quando o casal não é da mesma família, essa probabilidade é de 3%, essa é a única diferença".

Apesar dos riscos, não são raros os casos de união entre parentes. O mais comum, conta Paiva, é entre primos de 1º grau. Mas relacionamentos entre tios e sobrinhos também ocorrem com frequência. Quanto maior o grau de parentesco, maiores são as chances da homozigose. A recomendação é fazer oaconselhamento genético: "Fazer o heredograma para avaliar os riscos. Se não tiver nenhuma incidência de doença, a probabilidade fica naquele patamar de 6%. Entretanto, esse número pode chegar a 25%". São centenas de doenças oriundas dessas mutações genéticas, classificadas como autossômicas recessivas. "As mais comuns são a anemia falciforme, a fibrose cística e as mucopolissacaridoses", cita o geneticista.

De acordo com o professor, não somente os casais consanguíneos devem fazer o aconselhamento. "Todo casal no mundo tem 3% de probabilidade de ter um filho com problemas de origem genética. O ideal é sempre fazer uma consulta pré-nupcial para avaliar os riscos", recomenda.

O caso de Passione

Um romance na novela Passione trouxe o tema à tona. Os primos de primeiro grau Sinval (Kayky Brito) e Fátima (Bianca Bin) têm um relacionamento e fazem planos de ter um filho. Cientes dos perigos, ambos vão procurar orientação com um geneticista. O doutor da ficção diz ao casal que as chances de gerar um filho com uma mutação genética são muito grandes.
No mundo real, no entanto, o geneticista e professor da UERJ Isaías Paiva defende que o médico deve ser mais cauteloso. "Quando se diz que as chances são grandes, pensa-se logo em 80%. Eles saíram da consulta pensando que não poderiam ter filhos. A probabilidade aumenta, mas o percentual é de 6% apenas", justifica.
Outro ponto discutível na trama, na opinião do especialista, foi o médico ter sugerido que o casal optasse por adotar uma criança. "O geneticista não deve interferir na decisão do casal. O nosso papel é apontar os riscos, mostrar as probabilidades de doenças recessivas e dar todos os instrumentos para que os parceiros optem. Mas a decisão final é deles", acredita.

Amor depois dos 40

Aos 20, o frescor da juventude: frio na barriga, calor no resto do corpo e, se possível, muita quantidade. Aos 30, a galera dá uma sossegada: grande parte julga ter encontrado a tampa da panela com quem se casa e começa uma família. Aos 40, muitas já se separaram e estão se preparando para voltar ao mercado amoroso. Outras não chegaram ao altar. Conheça as histórias de mulheres que encontraram o amor na casa dos enta e esperam ser felizes para sempre.

Eles se conheceram no intervalo de uma peça de teatro. O economista Toni, 51, viu a dentista Mara, 46, na bomboniere. "Ele se aproximou e puxou um assunto qualquer sobre a peça. Antes de voltarmos a nos sentar, ele pediu meu telefone e eu dei. Três dias depois, fomos jantar fora", lembra Mara, contando que a paquera evoluir rápido e o namoro também. "Casamos em menos de um ano. Não tinha por que esperar! As pessoas esperavam uma cerimônia simples, mas fiz questão de tudo a que eu tinha direito: casei na igreja de noiva!", revela Mara que acredita ter enfim encontrado o amor da sua vida. "O negócio é não desistir de achar o seu par. Para o amor, a idade não conta", garante ela, com conhecimento de causa.
Em casas separadas
Ela estava divorciada, mãe de filho criado. Ele, cinco anos mais velho, tinha ficado viúvo há pouco mais de um ano e suas duas filhas não aguentavam mais vê-lo só. "Ele deu em cima, mas logo percebi que ele estava precisando de um bom colo. E dei!", conta a funcionária pública Soraia, hoje com 55 anos, casada há dez. "Somos casados no papel e usamos aliança, mas temos duas casas. Mesmo estando quase sempre juntos, cada um quis manter o seu espaço", revela, lembrando que, depois de certa idade, fica difícil abrir mão do que já construiu. "Ele é um excelente companheiro e acredito que vamos envelhecer juntos", diz Soraia.
A médica Rose J., 48, achava que tinha fechado a panela do amor quando reencontrou um amigo do passado. "Foi por acaso. Nos encontramos em uma festa de um amigo em comum e conversamos a noite toda. Trocamos telefones, saímos para jantar e tudo começou", conta ela, que vem se sentindo como se tivesse 18 anos outra vez. "É tudo igual: cinema, brigas! Ele tem muito ciúme de mim", revela, aos seis meses de namoro. "Se tudo continuar como está, temos planos de morar sob o mesmo teto", anuncia, contando com o apoio dos três filhos dela e da filha dele. "Seremos uma grande família", acredita.

Amor sem idade

Segundo a psicóloga Sabrina Dotto Billo, o amor não tem idade. "O amor depois dos 40, como tudo na vida, tem seus prós e contras. Por um lado, pode ser que o amor seja um ‘gato escaldado' e as pessoas tenham mais dificuldade para se envolver. Por outro lado, as pessoas estão mais carentes", pondera a psicóloga, para quem a paixão, esta sim, tem idade. "Os hormônios desenvolvidos durante o apaixonamento, aqueles que causam ‘frio na barriga' e fazem o coração bater mais forte, duram de 12 a 30 meses (período suficiente para copularmos). A partir de então a freqüência é cada vez menor", explica Sabrina, lembrando ainda que o que fica é o amor.
Para a psicóloga, depois dos 40 são mais valorizados fatores como o companheirismo, a convivência e o desejo de construir uma vida juntos. "O que acontece muitas vezes é que, em relacionamentos entre pessoas de mais de 40 anos, não há uma paixão avassaladora, mas em compensação isso pode fazer com que a relação seja mais duradoura", afirma a psicóloga, explicando que o amor depois dos 40 se baseia no que o outro é e não no que idealiza-se que ele seja. "Não é raro que um casal depois dos 40 possa ‘pular a etapa' da paixão e viver direto o amor, valorizando o companheirismo e convivência", conclui.

O amor da (sua) vida: Para cada uma de nós, existe apenas um único e grande amor?

Na adolescência, entre um beijo e outro, arrebatadas pela força do primeiro amor, olhamos no fundo dos olhos daquele garoto que nos tira o chão e dizemos com sinceridade absoluta que ele é o grande amor das nossas vidas. No instante em que a frase é dita, acreditamos realmente nisso. Até que vem o segundo namorado, o terceiro, o quarto. Na casa dos 30, com uma bela bagagem amorosa nas costas, nos perguntamos: será que o chamado amor da minha vida existe mesmo? Se existe, é um só?

Metade da laranja
Para muita gente, "grande amor da vida" é que nem mãe: só tem um. Para a usuária da rede social do Bolsa de Mulher Shelly, amor de verdade é assim. "Eu acredito e muito no amor verdadeiro. Acredito que cada um tem sua tampa da panela", diz Shelly, que ainda não encontrou a dela, mas crê que esse dia vai chegar. "Acho muito importante acreditar no amor, porque é isso que nos dá força para superar os momentos de solidão: saber que tem alguém para você em algum lugar. No momento certo, ele vai aparecer".

São várias as expressões que confirmam a ideia de que para cada pessoa no mundo há outra nascida especialmente para ela: metade da laranja, tampa da panela, cara metade, alma gêmea. A usuária da rede social do Bolsa de Mulher J.V.M.S acredita na ideia de que para cada pessoa existe um único grande amor e já achou a azeitona da empada dela. "A gente pode até gostar de outras pessoas ao longo da vida, mas amor eu acredito que só exista um. Quando ele chega, a gente sabe. É único e pra sempre. O amor da minha vida está comigo há quatro anos e continuo amando ele ainda mais", derrete-se.

Várias tampas para a mesma panela

Já a usuária da rede social do Bolsa de Mulher Iyaosun acha que podemos viver diversas e verdadeiras histórias de amor ao longo da vida. "Na minha opinião, podemos viver, sim, mais que um grande amor, pois passamos por diferentes fases na vida, quando temos diferentes modos de ver as coisas", diz ela, que já viveu um grande amor mas, infelizmente, ele faleceu. "Levei muito tempo para me refazer desta perda. Mais tarde conheci outro alguém e, no decorrer dos anos fui aprendendo a amá-lo", conta ela, que hoje vive com um novo grande amor com quem é muito feliz. "Amar é uma arte que, no decorrer da vida, vamos aprendendo", garante.

Sabendo que no mundo, além de nós, existem cerca de 7 bilhões de pessoas, achar que só uma delas é o grande amor da sua vida pode parecer miséria. É assim que pensa a usuária Kátia Flavia: "Prefiro achar que existem vários. Assim não corro o risco de me decepcionar. Não deu certo? Tudo bem, mais adiante vem outro", diz ela, na defensiva, para em seguida completar: "Isso de viver um grande amor não me agrada. Por que não viver muitos grandes amores?". Kátia Flávia cita o poetinha: "Que seja eterno enquanto dure. A chama apagou? A fila anda!", sugere.

Idealização do amor

Segundo a psicóloga Sabrina Dotto Billo, a psicologia não corrobora a visão de existir apenas um grande amor. "Pesquisas e relatos clínicos revelam histórias de amores, o que implica em várias possibilidades. O amor não tem medida, quantidade ou limites", afirma Sabrina.

Para ela, não é raro que algumas pessoas se lembrem de um amor que ocorreu durante a adolescência como um grande amor, mas isso tende a ser ilusório. "Geralmente isso acontece porque há a associação do flerte com uma época única, recheada de lembranças do colégio, amigos da rua, festas, descobertas, experimentações, mudanças hormonais, formação da identidade, busca da autonomia etc. Aí associamos essa 'magia' que uma fase pode representar com amor", explica a psicóloga.

Não podemos dizer que existe um grande amor e outros pequenos ou de tamanhos variáveis. "Algumas pessoas têm mais afinidades, outras menos. Algumas aparecem em nossas vidas em um momento em que não estamos preparados ou voltados para um relacionamento", explica a psicóloga, lembrando que o mundo é dinâmico: nós mudamos, nossa vida se transforma, nossas rotinas e responsabilidades também. "Então podemos dizer que não existe uma só tampa. Que bom, né?", finaliza.

Por que casais mantêm a relação mesmo sabendo que ela está fracassada?

O clima não é mais o mesmo e as desculpas estão cada vez mais diversificadas. Você anda conversando com as amigas e suas reclamações são sempre: "Ele não presta mais atenção no que eu digo" ou "Entramos numa rotina". São indícios de uma relação desgastada, possivelmente na iminência do fim. Mesmo assim, muitos insistem em empurrar com a barriga esses relacionamentos. O que motiva os casais a ficarem juntos mesmo sabendo que não dá mais certo?

Os sinais de uma relação arrastada são inúmeros e variam de par para par. Aílton Amélio da Silva, doutor em psicologia de casais e autor do livro "Para viver um grande amor", fornece um bom termômetro: "Desconfie quando a segunda-feira passar a se tornar melhor do que o fim de semana", vaticina. Mesmo reconhecendo que a relação vai mal, muitos prosseguem com o compromisso.

Autoestima baixa é uma das características que justificam essa atitude, segundo a psicóloga especializada em terapia de casal e psicoterapeuta sexual Jaqueline Meireles: "Às vezes, a mulher pode achar que não vai conseguir um parceiro melhor. Em outros casos, existem algumas compensações que suprem a falta de vínculo".

Sentimento de dependência, de qualquer ordem, também é fator importante na manutenção dessas relações. "O cara está do seu lado, mas já não é mais seu companheiro. Está ali apenas por estar. O sentimento existente não é mais amor, mas dependência", ressalta a terapeuta.

Meireles reforça que a insegurança influencia diretamente no temor da mulher de romper o relacionamento. "Quanto mais ela sabe o que quer e sabe o seu valor, menos necessidade ela tem de estar com alguém que não a complete 100%. Ela vai buscar algo no seu nível", pontua. A especialista aconselha aquelas que estão insatisfeitas no seu relacionamento: "A mulher tem que ter consciência de que aquela relação não tem mais chance de crescer. A relação está minada".

O relacionamento é cultivado todos os dias, continua ela, e esse tipo de situação só acontece quando a parceira já esgotou todas as tentativas na vã ilusão de reavivar a chama. "Quando chega ao final é porque existem indícios lá atrás de que o envolvimento não está dando certo e, instintivamente, o casal já sabe disso", constata. Ela complementa: "Em uma relação ambos têm que estar inteiramente envolvidos. Não existe namoro pela metade".

A hora do rompimento é considerada a mais complicada. "Nada é fácil, existem muitas raízes no relacionamento e muitas delas são legítimas. Ela sabe racionalmente que tem que sair, mas existem um conjunto de outros fatores que têm importância nessa decisão", considera Amélio da Silva. A passagem da decisão para a atitude cria inúmerostemores, que são naturais, porém difíceis de lidar. "Primeiro a relação termina emocionalmente e depois é que vai para as atitudes", afirma Meireles.

Segundo a psicóloga, a decisão interna de terminar vai influenciar toda a convivência a partir dali, e se transmitirá em pequenas atitudes: "No fundo, ele sabe que a companheira não mais o suprirá como antes, não se doará como antes. Não será bom para ela nem para ele", conta. Muitas mulheres passam por inúmeros conflitos internos que acabam indicando uma via mais simples, mas que não soluciona: "Para ela é mais fácil dar um basta em tudo do que usar as ferramentas necessárias para reerguer o relacionamento", acredita Meireles.

Nesses casos, a psicóloga aponta que a terapia de casal pode ajudar na compreensão real do relacionamento e também no julgamento individual, mas ressalta que só as sessões no divã não farão milagres. "As pessoas pensam que a terapia irá salvar o relacionamento. Às vezes, ela só reafirma que a relação já não tem mais sustentação e deve acabar. A psicologia não afasta nem aproxima, apenas esclarece a forma de enxergar os conflitos. Para uma relação continuar sólida ambos têm que querer continuar juntos, se doando à relação", insiste.

A chave para um rompimento mais ameno é ser verdadeiro com o parceiro. Apesar das frustrações e do sofrimento inerente à situação, a mulher deve ser firme na decisão. A psicóloga explica: "Conversa é sempre a melhor solução. É necessário mostrar o que já foi tentado para manter viva a relação. Deve-se falar abertamente, as pessoas têm medo de ser sinceras para não magoar, mas é importante ser verdadeiro independentemente de qualquer coisa. Ela já sabe de antemão que vai causar um sofrimento".

O maior vilão nessas situações é a carência. Segundo Amélio da Silva, logo após o término, muitos sentem falta da companhia do antigo parceiro e acabam sucumbindo à dor da solidão repentina: "Ele pode até reatar por sentir falta da disponibilidade dela em tentar lhe agradar, mas não quer dizer que voltou a amá-la. Quando a carência passar, a insatisfação aparecerá. A relação continua fadada ao fracasso". O autor fala ainda em arrependimento: "Muitas pessoas só dão valor quando perdem e acabam se arrependendo da decisão".

[Sylvio Netto]

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Alguma mágoa lhe prende ao passado?

Nem todos na vida foram acompanhados por uma família zelosa e presente. Às vezes há até presença, mas falta contato, olhar, diálogo, falta a sensação de ser visto e de ser importante para o outro. A qualidade de nossas relações é o que mais importa. Muito comum é que na ausência busque se suprir a falta com valores materiais. Subverte-se o amor, os sentimentos, o cuidado da alma. Muito comum também é a ausência total ou uma presença prejudicial, que oferece modelos distorcidos, que fere e magoa.

Com tantas marcas, algumas pessoas se perguntam: "Como posso ser feliz? Como seguir em frente se tanto peso me prende ao passado?"

Mágoa é um peso mesmo, que nos faz afundar nas águas do sofrimento, do "não consigo", "não dou conta", "não posso confiar". Quanto mais mexemos na ferida mais ela dói. Mas se deixarmos de simplesmente "cutucar" e passarmos a tocá-la para lhe fazer os curativos necessários? O ardor será diferente? Talvez quem tenha sofrido a dor de suas feridas por muito tempo, relute de início, se encolha ou até reaja agressivamente. Porém, se der abertura, perceberá que, por mais que seja dolorida, a dor da limpeza, de passar os remédios e aplicar os curativos compensa, porque acaba por diminuir a dor constante do que está doente e sem cuidados. É dor menor do que simplesmente remexer a ferida.

Curando as feridas

As dores e as feridas que remetem às nossas raízes são realmente difíceis. Por isso mesmo, precisamos cuidar delas com maior carinho. Por vezes, se não tivemos figuras de cuidado é complicado sermos bons cuidadores para nós mesmos, é complicado nos respeitarmos, nos auxiliarmos. Porém dentro de todos nós há um centro que nos diz que precisamos e merecemos mais. Essa é nossa face cuidadora e saudável e que precisamos reconhecer, dando espaço para que ela se manifeste em nossa vida.

Não há fórmulas prontas de como curar nossas feridas e nos libertarmos de nossas mágoas. A busca por ajuda profissional e começar a fazer terapia pode ser um bom início de caminho. Assim podemos nos conhecer melhor, compreender nossa história e construir novas possibilidades. Além disso, existem muitas formas de nos cuidarmos que podem ser aliadas de nossa cura. Preparar nosso coração para conversas libertadoras, ir em busca das raízes, reconhecer que talvez o outro também seja uma vítima e colocar-se em seu lugar, estabelecer limites saudáveis, exercitar a vivência do agora sem se deixar confundir pelos medos do passado ? tantos caminhos possíveis que podem se complementar. Um passo de cada vez, iniciando por cuidar dos próprios sentimentos, reconhecendo-os e buscando auxílio para os próximos passos.

Toda planta precisa de raízes saudáveis para seguir seu crescimento. Alguns podem olhar para uma plantinha de raízes castigadas, pouco profundas, ressecadas e pensar: "Não tem mais jeito". Outros são capazes de reconhecer seu potencial adormecido. O solo pode estar sem nutrientes, a quantidade ou qualidade da água pode estar inadequada, talvez seja necessário fazer algumas podas, alguns ajustes. Mas ali está a base e o potencial de vida. As feridas mostram o que precisa ser curado. Conosco também é assim: precisamos olhar para nossas raízes e cuidar para continuarmos a crescer. As nossas marcas não indicam que não tem mais jeito, mas sim mostram o que precisa ser curado.

Se você tem marcas em suas raízes familiares, trate de reconhecê-las e cuidar delas. Olhe para suas raízes, não ignore sua importância, nem deixe que suas marcas determinem a impossibilidade. Elas são as bases e se você cuidar bem disso poderá seguir crescendo e se desenvolvendo, sem pesos que lhe joguem para baixo. Não é fácil, não é simples, mas é necessário. Acredite em seu potencial de vida!

Pratique o silêncio da paz

Mahatma, grande alma, Gandhi foi o maior defensor do Satyagraha (forma não violenta de protesto.) Afirmou e agiu : "Não existe um caminho para a paz! A paz é o caminho!" Utilizando as palavras de Mahatma Ghandi , ao longo de todo este texto, gostaría de motivá-lo, você leitor, a mudar um pouco este mundo através de si próprio...

Quase sempre pensamos que a paz do mundo depende dos governantes, dos poderosos e nos sentimos de mãos atadas. Sem ação. Mas será que você não faz parte deste mundo? Querendo ou não, você é seu habitante e também responsável por ele.

"Só engrandecemos o nosso direito à vida cumprindo o nosso dever de cidadãos do mundo". Se queremos paz, devemos praticá-la diariamente. Ser felizes em agir como pensamos, discursar e propagar o pacifismo. "Felicidade é quando o que você pensa, o que você diz e o que você faz está em harmonia."

Mergulho em você mesmo

Temos medo de estarmos conosco, mergulharmos em nosso interior. O silêncio e sua prática nos leva a esta possibilidade de encontro profundo e revitalizador. Com o silêncio, encontramos a paz e o amor incondicional

vem com toda a força transformadora."O amor é a força mais sutil do mundo.O mundo está farto de ódio". É é este ódio irracional e distante da força criadora que destrói,corrompe e ensurdece a humanidade.

Pare! Recomece! Reprograme-se... O silêncio pode ser o ponto chave desta nova caminhada. Pratique-o diariamente e transforme um pouco nosso mundo. Ouça-se.

"Temos de nos tornar a mudança que queremos ver no mundo. Você tem que ser o espelho da mudança que está propondo. Se eu quero mudar o mundo, tenho que começar por mim."

Pratique diariamente o silêncio da paz. Respire profundamente algumas vezes. Inspire e sopre lentamente até ir relaxando e mergulhando dentro de si mesmo. Feche os olhos e silencie seus medos, preocupações e ansiedades diárias, por alguns momentos. Dê a chance à sua paz e a paz do mundo.

"Faça a sua parte, se doe sem medo.O que importa mesmo é o que você é...

Mesmo que outras pessoas não se importem.Atitudes simples podem melhorar sua vida."

Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada,não existirão resultados. Espalhe esta ideia.

Transforme o mundo, a partir de você.

"Seja a mudança que você deseja para o mundo".

Mahatma Gandhi

O que há por trás da raiva?

Muitas vezes reagimos desproporcionalmente às situações diversas do dia-a-dia. Uma simples pergunta recebida em um momento "inoportuno" pode gerar uma resposta atravessada, sem nexo com o conteúdo original do questionamento. E o que será que determina o que é inoportuno para nós?

É preciso investigar um pouco mais a fundo nossas emoções e reações. Possivelmente acordar de mau-humor depois de uma boa noite de sono tem algum significado. A irritação pode estar relacionada tanto a questões físicas (alteração hormonal, cansaço, anemia, desequilíbrio no organismo, estresse mental), quanto a situações mais amplas (excesso de trabalho, descontentamento com algum fato específico, depressão, raiva de ações e planos frustrados...).

Como se vê, a irritação e o mau-humor são sintomas de uma manifestação maior. Eles são seus aliados e chegam para avisar quando algo não está funcionando bem. É como a febre, que indica que o corpo luta contra uma provável infecção. Não se trata a febre, mas o que a gera. Da mesma forma funciona com a irritação. Por isso, não adianta simplesmente ouvirmos aquelas mensagens otimistas: "calma", "a vida é bela", "sorria", "tem gente em condição muito pior que você". Ora, o parâmetro de cada vivência são as próprias experiências da pessoa e não os outros. É fundamental que, frente a uma irritação constante, a pessoa pare e faça uma análise corajosa sobre sua história. Algo não está caminhando em uma direção satisfatória, esteja certo.

Ironia e mau humor mascarados

Na maior parte das vezes, irritação está ligada à raiva, que por sua vez tem ligação com algum projeto frustrado, alguma ação que não pôde ser colocada em prática ou alguma atitude incoerente com a vontade. A raiva é fruto de um processo que ocorre de uma maneira diferente da que queremos, gerando um sufocamento do desejo inicial. Ela pode ir e vir, mascarada de ironia e de mau-humor, estando associada à memória emocional e aos instintos.

O fato é que para que o mau-humor passe, precisamos fazer as pazes com o passado, com aquilo que não ocorreu de acordo com o esperado. E a partir daí, fazer novas escolhas. Quanto mais consciente você estiver de suas escolhas, menos a raiva o afetará. É preciso não fazer escolhas pautadas nas outras pessoas e, sim, escolhas com as quais você mesmo possa arcar. Por isso, as escolhas de relacionamento são difíceis e devemos ter sempre em mente que nosso projeto tem um limite de ação que é a escolha do outro.

A irritação também é um dos primeiros sintomas da depressão, de quando estamos perdendo a alegria de viver. Nosso dia-a-dia fica em desacordo com nossa alma, que parece não mais encontrar mais prazer e diversão no que ocorre, por isso tudo começa a ficar chato e cinza e sem perspectiva. É melhor correr antes que a tristeza profunda se abata sobre o coração e a mente. Por isso, ao identificar uma irritação constante, não deixe para amanhã sua reflexão. Antes que o bichinho se torne um monstro, procure a consciência, a aceitação e a transformação.

 

[Clarissa de Franco]

Sai da condição de vítima

Eu passei grande parte da minha vida escutando a frase-feita que mais sucesso faz no universo maravilhoso das crenças falsas: não escolhemos por quem nos apaixonamos. É verdade, não escolhemos. Podemos nos apaixonar por gente que não vale um miligrama do que come. É mais assustador ainda considerar que nós mesmos podemos ser estas pessoas na vida de outro alguém que também sofre por nós. Mas em qualquer um dos casos, eu sou inclinado a concordar que, de fato, não escolhemos por quem nos apaixonamos. Paixão, como o nome diz, vem do grego pathos, o mesmo termo que dá origem a "patológico". A paixão é prima-irmã da doença. E ninguém escolhe se apaixonar, tanto quanto não escolhemos ficar gripados ou pegar caxumba. Acontece.

Epa! Mas então por que será que eu digo que isso faz parte do universo das crenças falsas? Ora, não é preciso muito esforço para perceber que por mais que não escolhamos por quem nos apaixonamos, esta "condição de vítima", esta "condição passiva" não é de forma alguma fatídica ou determinante. Se percebemos que nos apaixonamos pela pessoa errada, ainda assim temos escolhas. Temos a escolha, por exemplo, de não querer contato. Temos a escolha de, mesmo apaixonados por quem não deveríamos estar, racionalizarmos minimamente o processo de modo a não nos colocarmos à mercê de quem nos faz mais mal do que bem. Não estou falando de eventuais sofrimentos. Qualquer relacionamento saudável tem sua cota de sofrimento. Estou falando de apaixonar-se por alguém que, por diversas razões, se revela destrutivo para sua vida. Há muitas razões para isso: a pessoa pode ser comprometida e ficar te enrolando infinitamente; a pessoa pode mentir tanto que nem sabe mais discernir o que é verdadeiro do que é falso; a pessoa pode ter um ciúme digno de figurar numa peça teatral de Shakespeare (e, acredite, o ciúme shakesperiano não tem nada de bonito). Em suma, não irei aqui dizer o que é uma pessoa que nos faz mal. Nós sabemos quando uma pessoa nos faz mal. E ela pode nos fazer mal mesmo sendo uma boa pessoa. Basta que a paixão não seja correspondida. E, convenhamos, ninguém tem culpa de não se apaixonar pela gente, não é mesmo? Acontece.

Paixão e fantasia

A paixão é um veneno da mente. Por conta dela, ampliamos a imagem de uma pessoa, tornando-a mais importante do que ela realmente é. Esta pessoa por quem nos apaixonamos não é ela mesma. Não passa de uma perspectiva projetada de nossas fantasias. Para 99,99% da humanidade, a tal pessoa não tem importância alguma. E é tão relevante para o ser apaixonado, mas não tem relevância além daquela criada pelos mecanismos da fantasia. E é por isso que a paixão sempre estará abaixo do amor e nunca lhe chegará aos pés. Porque a paixão trata de fantasia, e o amor, de realidade.

Porque apaixonar-se é sempre por causa de: por causa da beleza do outro, por causa de sua inteligência ou de várias características sedutoras que o outro apresenta. E amar, ao contrário, é sempre apesar de. Amamos alguém apesar de seus defeitos, apesar de conhecermos seus lados mais sombrios. O amor enxerga, e muito bem. Quem sofre de cegueira é a paixão.

Apaixonar-se é absolutamente natural, e mais natural ainda é que esta paixão dê lugar ao amor na medida em que o tempo passe e aquela pessoa perfeita se converta naquilo que ela efetivamente é: uma pessoa. Isso quando a paixão é correspondida e é saudável. Insistência em paixões infuncionais, apego por quem nos faz sofrer, essas coisas não têm nada de amor e têm tudo de imaturidade ou, em alguns casos, têm a ver com desejo de autodestruição.

Não escolhemos por quem nos apaixonamos. Mas escolhemos dar corda para isso. E quando a paixão se revela destrutiva como uma doença, o tratamento é evidente: afastar-se do que nos causa mal é prerrogativa inicial básica para o retorno a um estado centrado. Em seguida, procurar trazer as projeções e expectativas passionais à luz da análise pode ajudar a mudar nosso gosto, permitindo que nos apaixonemos por pessoas melhores. Gosto é uma coisa que se refina com o tempo e com boa vontade. Assim é na música, na literatura, na culinária, e nos relacionamentos humanos não é diferente. A paixão é uma parte nossa, mas não somos nós. E jamais, nunca deveria ser a força mais poderosa a nos guiar a vida. Aliada à paixão devem vir as considerações racionais. E quem acha que uma coisa exclui a outra ou ainda está na adolescência, ou precisa de uma educação para a vida, de uma efetiva educação filosófica que lhe permita ir além deste falso cenário em que as coisas ou são da paixão ou são da razão. Afinal, é do contraste e da dança paixão-razão que brota a vida em sua forma mais plena e bem vivida.

 

[Alexey Dodsworth]

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Novo ano, novas esperanças, novo amor!

Um novo ano se aproxima e, com isso, renovam-se esperanças de todos os tipos. O início de qualquer ano desperta em muitos de nós o desejo de, em diversas áreas de nossas vidas, iniciar coisas novas, fazer novos projetos ou botar em prática projetos antigos que ainda não foram executados.

Entre estes planos, há sempre algum relacionado ao amor. Conseguir namorar, se separar, se casar, ser mais tolerante com o parceiro... Dependendo do que cada um tenha vivido no ano anterior, diferentes projetos são feitos para o ano que se inicia. Entre os tantos planos possíveis, falarei, aqui, do de conseguir namorar.

Escolhi esse pois, fazendo uma rápida busca na Internet, percebi que há incontáveis sites em que são descritas inúmeras simpatias para se conseguir um namorado no ano novo. Como sei que este assunto costuma interessar e angustiar muitos de nossos usuários, achei que seria interessante dar minha colaboração com algumas dicas. Afinal de contas, para se conseguir um(a) namorado(a), qualquer ajuda é válida, certo? Vamos, então, às dicas.


Sem autoestima, nada feito O primeiro passo para encontrar um parceiro não tem nada a ver com o próprio parceiro ou com a relação que pode vir a existir. Antes de tudo isso, é preciso acreditar em si mesmo. Muitas pessoas querem ter um relacionamento, porém mostram não acreditar na própria capacidade de despertar o interesse do outro.

Se acham pouco interessantes, pouco capazes de conversar sobre um assunto que agrade, pouco capazes de tomar iniciativas. Todas essas crenças negativas sobre elas próprias sem dúvida alguma influenciam a maneira como essas pessoas agem. Provavelmente acabam não despertando o interesse do outro porque elas mesmas não se sentem interessantes.

Para iniciar um relacionamento, é preciso, portanto, que a autoestima esteja em dia. Quando nos sentimos atraentes, exuberantes, inteligentes, os outros tendem a também nos verem assim.


Tenha um objetivo claro Há inúmeras pessoas que dizem querer ter uma relação e que fariam todo o possível para que isso acontecesse. Na prática, no entanto, não é isso o que acontece. Isso porque qualquer pretendente já é visto com olhos de desconfiança e mil defeitos são colocados nele.

Querer um namorado não faz com que qualquer pretendente tenha automaticamente que ser aceito e desejado, porém quando muitos defeitos são encontrados em todas as pessoas que aparecem, há algo que contradiz o desejo de ter alguém. Por esta razão, é preciso ter clareza sobre as próprias intenções. Será que você quer mesmo ter alguém? É um desejo que vem de dentro, ou da comparação com outras pessoas? O que você ganha estando só e o que ganha estando com alguém? E o que perde nestas duas situações? Tente responder todas essas perguntas e avalie se o que você está fazendo está em sintonia com o que está sentindo.


Não conte com a sorte Ouço com muita frequência pessoas dizendo que “não têm sorte” no amor, ou que “fulano(a) é que tem sorte”. Sempre que escuto esse tipo de frase, repito: se relacionar não é uma questão de sorte, mas de investimento. Se a sorte tem algum papel na busca por um parceiro, esse papel é bastante pequeno, se comparado com o esforço que cada um deve fazer por isso. De nada adianta a sorte quando se fica em casa, desanimado, sem ter vontade de sair, se sentindo mal por não ter ninguém. De nada adianta a sorte se em todos aqueles que lhe aparecem na frente são colocados inúmeros defeitos.

Por isso, se você quiser mesmo ter um relacionamento, é preciso agir. Saia, converse, relacione-se, experimente, arrisque. Seja o ator principal da sua história. Jamais desistir! É grande o número de pessoas que nos escrevem em momentos de extremo desânimo, e dizem que estão pensando em desistir de ter alguém para se relacionar.

Como pensar em desistir de algo tão desejado? Como abrir mão do plano de ser feliz ao lado de uma pessoa especial? É importante ter em mente que, na busca por um grande amor, frustrações ocorrerão. Essas frustrações, no entanto, não devem ser entendidas como rejeições por parte de todos. Se não deu certo com uma pessoa, poderá dar com outra. Se alguém te rejeitou, haverá tantos outros que te desejarão. Por estas razões, as decepções não devem gerar desânimo, mas devem renovar as energias para futuras tentativas.

Espero que essas dicas possam colaborar para que o ano que se inicia seja um ano especial. Desejo, com todo carinho, que 2011 traga muitas realizações e alegrias. Feliz amor novo!

 

[Dra. Mariana Santiago de Matos - Psicóloga]

Você está pronta para ser encontrada por seu grande amor?

Certamente, você é uma pessoa que deseja viver um amor especial, um relacionamento onde haja respeito, carinho, sinceridade, romantismo e prazer. Afinal, por que não? Nascemos para nos relacionar e sermos felizes!


Curiosamente, tenho observado, ao longo dos anos em que venho estudando os relacionamentos, especialmente os amorosos, que a maioria das pessoas sabe descrever, com facilidade e clareza, todas as qualidades que deseja encontrar naquele que, finalmente, merecerá o título de “grande amor da minha vida!”.


Em princípio, não há nada de errado em saber o que se quer! Muito pelo contrário! É ótimo quando ganhamos consciência e autoconhecimento o bastante para saber quais qualidades e quais limitações podemos suportar do outro. Sim, porque algumas vezes teremos de aprender a conviver até com as qualidades de quem amamos.


Porém, a grande questão é: e você? Quais qualidades tem cultivado em si mesmo, já que espera encontrar alguém tão especial? Pense comigo: alguém especial certamente desejará ser correspondido. Ou seja, para que um encontro flua e seja gratificante e prazeroso para os dois, ambos precisam estar comprometidos em oferecer ao outro suas melhores características.

E, mais do que isso, precisam estar dispostos a rever suas limitações e cuidar para que elas não sejam maiores do que as qualidades e terminem tomando conta da relação.
O que você tem feito para se conhecer muito bem e poder se mostrar ao outro com segurança e firmeza? Quanto tem de fato vivenciado valores como sinceridade, autoestima, fidelidade, carinho, compreensão e paciência? Quanto tem investido em sua aparência, cuidado de seu corpo, de sua alimentação e do modo como se apresenta no mundo?


Tudo isso conta e você, quando pensa nesse alguém tão especial por quem espera, certamente imagina alguém cheiroso, bem vestido, com um corpo saudável e atraente. E tem mais: também deve querer que seja uma pessoa lúcida, coerente e divertida. Portanto, você tem alimentado seu bom-humor, sua capacidade de expressar alegria, otimismo e vontade de viver, mesmo nos momentos de crises e dificuldades?


Infelizmente, muitas pessoas não se cansam de anunciar, aos quatro cantos, alto e bom som, que querem se relacionar com alguém maravilhoso, engraçado e etc. No entanto, esquecem do bom senso que diz que precisam ser compatíveis com essas características, que precisam estar alinhadas com essas “delícias” que querem ver no outro, que precisam, enfim, ser e viver tudo isso antes de esperar do outro! Senão, viverão de encontros em encontros, sempre com aquela sensação de que algo deu errado de novo quando parecia que tinha tudo para dar certo.


O fato é que precisam, o quanto antes, investir nelas mesmas! Sendo assim, sugiro que você compreenda o significado da conhecida frase (não conheço a autoria): “Não corra atrás das borboletas. Cuide do seu jardim e elas virão até você”... Nela está contida a sabedoria do encontro, isto é, atraímos para nossas vidas não quem inocente e desatentamente queremos, mas quem corresponde com aquilo que verdadeiramente somos!

 

[Dra. Rosana Braga - Consultora]

Por que parece tão difícil encontrar alguém bacana?

Na ânsia por um relacionamento que corresponda com todos os deliciosos sentimentos que desejamos vivenciar, algumas frustrações típicas podem surgir, a começar pela sensação de que nunca dá certo, ou de que ninguém quer assumir compromisso ou ainda a de que os homens têm medo de mulheres independentes e bem-sucedidas, entre outras. Ou seja, um sem-fim de generalizações e conclusões extremadas.

Para refletirmos sobre o tema “encontros e desencontros”, é fundamental começar descartando os radicalismos. Palavras como “ninguém”, “sempre”, “nunca” ou “todos” só servem para nos distanciarmos ainda mais das possibilidades e das oportunidades. Sim, porque elas existem e as provas estão aí, ao seu redor. Basta observar o número de casais que estão juntos, satisfeitos e felizes.
Certamente, alguns dirão que esse número é muito pequeno. Os generalistas se apressarão em afirmar que ninguém é feliz no amor. Mas isso, definitivamente, não passa de uma defesa interna que criamos para justificar sentimentos como raiva, medo e tristeza, especialmente por não estarmos vivendo o enredo que tanto queremos.

O fato é que, felizmente, o amor existe sim e é bem provável que você consiga vivenciar o seu assim que entrar numa sintonia interna, clara e concisa que aponte para um único e coerente objetivo. Isto é, você precisa pensar, sentir e agir na mesma direção – na direção do relacionamento que deseja.
Veja bem: não estou falando sobre focar na pessoa que deseja, porque aquela que você acha que é a certa, pode não ser! Pode estar servindo apenas para que você continue se autosabotando e insistindo na ideia de que é impossível ser feliz no amor.

Sua concentração deve estar voltada para a dinâmica que deseja experimentar. Quer alguém que expresse muito carinho ou nem tanto? Alguém que goste de conversar sobre a relação ou não precisa? Alguém que goste de fazer tudo junto ou que seja mais independente? Tem de estar inteiramente disponível para se relacionar com você (e isso quer dizer que alguém que já namora ou é casado não serve!)?

Por fim, você está certo de tudo isso? Está disposto a encarar os bônus e também os ônus de um compromisso? Está ciente de que merece exatamente o que está desejando? Porque saiba que se não acreditar que merece exatamente tudo isso, terminará implorando amor, agindo de modo inseguro e “pedindo” para se dar mal, só para comprovar seus receios mais íntimos!

Então, agora, apenas aja e viva de acordo com esse pedido e, sobretudo, seja paciente. Confie no Universo e deixe a vida fluir. Não aceite menos. Não se sabote com crenças equivocadas. Não se subestime. Mas também não seja arrogante e prepotente a ponto de considerar que é melhor do que qualquer pessoa. Você não é! Apenas sabe o que quer e está em sintonia com seu coração.

Por mais que, algumas vezes, seja cômodo acreditar que não existem homens sérios ou românticos ou seguros o bastante para se relacionarem com mulheres independentes; ou por mais que seja cômodo acreditar que não existem mulheres sinceras, companheiras e dispostas a construir um futuro sólido, não caia nesta armadilha!
Existem, sim, homens que valem a pena, cujo caráter é admirável, a gentileza é surpreendente e a vontade de fazer dar certo está acima das mentiras e farras. E existem, sim, mulheres maduras e divertidas, sensatas e prontas para caminharem ao lado de seu homem. Enfim, existem pessoas incríveis neste mundo e que estão à procura de alguém tão especial e intenso e bacana como você!

O que tem faltado, muitas vezes, é justamente a congruência entre o que se pensa, o que se sente e o que se faz. E não por falta de inteligência ou integridade, mas simplesmente por medo de sofrer, medo de se entregar e medo de apostar todas as fichas na possibilidade de ser realmente feliz num relacionamento.
Não faça parte desta tendência e tudo será uma questão de tempo...

 

[Dra. Rosana Braga - Consultora]