terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ansiedade: uma apreensão exagerada

Se por acaso não soubermos identificar os traços que definem o estado de ansiedade exagerada, podemos nos valer de certas estatísticas , tais como: taxas de suicídios, divórcios, perda de emprego, distúrbios mentais, etc. E considerar que tais números refletem muitas vezes a reação dos indivíduos à ansiedade.

Quando tenho medo eu consigo identificar o objeto que me causa medo. Diferentemente ocorre com a ansiedade, pois não consigo localizar o meu inimigo, aquilo que me remete a uma apreensão exagerada.

Tal incapacidade para saber do que é que estou receoso, é o que torna a ansiedade tão penosa e desconcertante. Pois o medo, ativa meus sentidos, e me leva se necessário a uma ação, enquanto a ansiedade além de me trazer tremenda confusão sobre os meus sentimentos, a ponto de perder a noção de quem sou , por conseguinte me leva a uma paralisação: não consigo decidir, escolher, assumir, amar, etc.

Podemos buscar as causas da ansiedade em diversas teorias, mas para compreender qualquer fenômeno através do Ser Humano, devemos antes conceber tal ser como sendo Biológico, Psicológico, Social, Espiritual, Energético, etc. E ainda, considerar que qualquer manifestação nesse ser , pode ter sua origem em cada uma das dimensões citadas acima e espalhar seus efeitos , pelas demais.

Uma das definições que encontramos sobre ansiedade é nos dada por Rollo May em "O Significado de Ansiedade" , quando diz: "Ansiedade é a apreensão deflagrada por uma ameaça a algum valor que o indivíduo considera essencial para a sua existência como personalidade".

Se entende com isso que o que importa é "como o indivíduo percebe e interpreta a situação de perigo". Ou seja, a ameaça pode ser à vida física (ameaça de morte) ou à existência psicológica (perda da liberdade, inexpressividade) , ou ainda, a algum outro valor que a pessoa considera essencial à sua existência e, por conseguinte, à sua segurança como personalidade.

Vê-se assim que o que é atacado ou ameaçado é a própria segurança do indivíduo enquanto uma personalidade única, não importando se na visão de um outro indivíduo tal ameaça é ou não coerente ou admissível , pois quem "elege" o que é essencial para sua segurança enquanto pessoa é cada um em particular. Se para uma determinada pessoa a perda do emprego for uma ameaça a sua integridade ou segurança, para outra, uma situação em que tem que fazer uma opção, ou passar por uma prova escolar, ou a perda do amor de alguém, poderá remetê-la também a uma apreensão exagerada (ansiedade).

Num estado de ansiedade exagerada é comum o indivíduo experimentar concomitantemente sentimentos de impotência, isolamento e conflito, advindo daí uma sensação insuportavelmente dolorosa, e ainda, como ocorre muitas vezes, atitudes de hostilidades para com as pessoas mais próximas. O que não é para menos, se lembrarmos que o que é ameaçado é a própria segurança da pessoa, segurança sobre a qual a pessoa fundamentou sua existência , e ao se ver "minado" justamente na sua base existencial, é de se esperar tanto sofrimento.

Mas, por outro lado, a incapacidade para se enfrentar as ameaças ou situações de ansiedade do dia a dia não é objetiva, ao contrário, é subjetiva, quer dizer, o indivíduo se vê incapaz diante dessas situações devido a motivos internos, a padrões e conflitos psicológicos internos, que o impedem de usar seus poderes como qualquer pessoa. Daí necessitar nesses casos de ajuda profissional, buscando entrar em contato mais profundamente com esses conteúdos, uma vez que como dissemos, na ansiedade não consigo localizar o inimigo que me ameaça , não consigo saber onde estou sendo atacado.

Por fim, cabe também observarmos que existe um outro lado da ansiedade considerado normal, por trazer ao indivíduo uma reação proporcional à ameaça objetiva, uma vez que toda pessoa experimenta maiores ou menores ameaças à sua existência e aos valores que ela identifica como fundamentais no desenvolvimento normal como ser humano.

A questão fica então até onde tal apreensão pode ser considerada um "Nível ótimo de tensão", sendo esta a diferença para se entender a ansiedade como normal ou exagerada (neurótica) . Pois, um "Nível ótimo de tensão" é o que prepara o indivíduo para ação (atitudes, decisões, etc) , apronta-o para a situação objetiva do dia a dia, motiva-o a ficar esperto ou de prontidão diante da situação , uma vez que a apreensão deflagrada é tal que não chega ser como dissemos, uma ameaça à sua segurança existencial como pessoa.

Falamos da ansiedade como um fenômeno em parte normal ou natural acontecendo dentro do ser humano, e em parte assumindo proporções exagerada (neurótica) , trazendo grande sofrimento e paralisando a vida de maneira geral. Tendo na base desse fenômeno a Vida Humana, nossas vidas, algo por demais precioso, e muitas vezes complexo, necessitando nesses momentos uma boa dose de humildade e coragem para se deparar com que há de mais essencial e determinante na Vida Humana, para só assim buscarmos cada vez mais uma qualidade de vida melhor, não só para a vida de uma pessoa em particular , mas para a qualidade da VIDA de uma família, de uma cidade, de um país.....

[Ademir Basso]

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