terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O TRABALHO DO PSICÓLOGO NA SEPARAÇÃO DE CASAL

Enfrentar o fim é sempre difícil, pois causa dor e sofrimento. A separação é o término de uma forma de relacionamento entre um casal e a terapia pode ajudar a tornar essa fase mais fácil de ser vivida. O que se faz na terapia? A seguir, cito apenas algumas das questões geralmente trabalhadas no processo psicoterapêutico:

1) identificar e aumentar a capacidade de mudança de cada cônjuge frente a situações estressantes;

2) identificar o impacto da separação nos filhos, independentemente da idade, e desmistificar a crença de que filhos adultos não sofrem com a separação;

3) esclarecer as crenças pessoais de cada cônjuge em relação a si próprio e ao outro cônjuge. Crenças são as idéias e valores formadas com base no julgamento da experiência de cada cônjuge em seus relacionamentos. Exemplo: “Se eu me separar, sou um fracasso como pessoa”, “Se eu não continuar casada, serei considerada uma má pessoa por querer me divorciar de um ótimo marido”; “Se eu me divorciar, serei considerado um homem sem fibra e que desiste fácil diante das dificuldades da vida” ou “Se eu quero me separar é porque errei em algo e, portanto, não dou certo para viver junto com alguém ou no casamento”;

4) esclarecer as crenças que se formaram no casal. Exemplo: “Se eu ganhar muito dinheiro, serei um bom marido” ou “Se eu tratá-lo com muita paciência e carinho, serei uma boa esposa”;

5) esclarecer as crenças que dificultam a separação. Exemplo: “Existe felicidade fora do casamento?”; “Todos os meus problemas com a separação terminarão quando eu receber um pedaço de papel dizendo que estou legalmente divorciada”; “O divórcio prejudicará os meus filhos. Preciso continuar casada para dar segurança a eles.”; “É possível ter uma separação calma, boa, racional e sem sentimentos negativos intensos.” ou “Quem ficará com os amigos? Fizemos muitos amigos quando estávamos casados. Será que eles vão escolher de que lado ficar e me evitar?”;

6) esclarecer as crenças de cada cônjuge oriundas de sua família de origem com relação ao próprio evento da separação, casamento, educação dos filhos, papéis de homem/mulher, marido/esposa e mãe/pai que influenciam na maneira como ambos pensam, sentem e se comportam na relação;

7) esclarecer as características ou habilidades de cada um e capacitá-los naquelas que acreditam que o outro lhes venha “tirar” com a separação. Exp.: “Uma mulher extrovertida com habilidade social alta casa-se com um homem introvertido com déficit em habilidade social. Ambos se complementam e acreditam que podem viver assim para sempre. Quando da separação, sentem-se injustiçados porque precisam ser ou agir de uma forma que o outro agia por ele, quando, na verdade, são eles próprios que precisavam ter desenvolvido essa habilidade de forma equilibrada em si mesmos.”

8) as emoções como medo, tristeza, culpa, raiva, satisfação, alívio e alegria serão trabalhadas a todo o momento em ambos;

9) a qualidade da comunicação será transformada. Atitudes como adivinhações ou esperar que o outro adivinhe aquilo que pensam ou querem serão desencorajadas. A convivência nem sempre é prova suficiente para conhecer o outro. Ambos perceberão que não podem esperar que o outro saiba exatamente aquilo que pensam ou desejam, até mesmo porque, muitas vezes, o outro não entendeu o que devia fazer ou nem sabia como fazer, pois jamais pensou, sentiu ou agiu dessa forma antes. A emissão e recepção de mensagens entre os cônjuges será identificada e apontada pelo psicólogo com o intuito de mostrar quais são eficazes ou não em sua codificação pelo outro, inclusive, com a análise dos gestos não verbais realizados concomitante nas mensagens;

10) definir metas a curto, médio e longo prazo para a concretização da separação para ambos.

Vale lembrar ainda que é importante o trabalho das questões acima na separação, mas nada impede de serem feitas também durante o casamento ou namoro. Todo e qualquer relacionamento é recheado de fases melhores e piores. Nas difíceis, é preciso que, progressivamente, cada uma das partes desenvolva maior capacidade da percepção global do relacionamento e, principalmente, se disponha a rever e reajustar a própria atuação na relação. Isso é saudável e bom para ambos. Caso contrário, o relacionamento se desgastará e a insatisfação e mágoas se tornarão prevalentes.

Uma das formas de fazer essa revisão ou reajuste é buscando a terapia seja de casal ou individual. Lembro que terapia não é tribunal. Nenhum psicólogo tem o direito de decidir pela separação ou reconciliação de qualquer casal. A única função do psicólogo é de ajudar as pessoas a viverem melhor com a decisão que quiserem tomar em suas vidas e ponto final. Portanto, use e abuse da terapia sem medo ou preconceitos.

[Viviane Sampaio]

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