domingo, 22 de fevereiro de 2009

A DOR DA SEPARAÇÃO CONJUGAL

Introdução

Enquanto o casamento perdura é comum haver entre os cônjuges atritos, que por não serem devidamente resolvidos, vão se transformando em mágoas sendo que muitas delas permanecem de forma indelével e que não se apagam mais.

Considerando que a premissa cultural de que uma relação conjugal deve ser eterna enquanto o casal vive acrescido da pressão social de que a separação é para muitos um fracasso surge daí a dificuldade dos cônjuges em aceitarem o rompimento.

Toda separação enseja psicologicamente um sentimento de desamparo proveniente da perda do cônjuge.

Um cônjuge durante o período de convívio harmonioso projeta no outro seus sonhos, fazendo da pessoa amado um objeto ideal e perfeito.

Quando ocorre o epílogo do casamento, surgem as frustrações e decepções, levando o casal a buscar no Judiciário o cumprimento dos deveres inerentes à condição de casados.

O início da discórdia

"Se você continuar a me tratar assim, o único jeito é a separação". Esta ameaça dita precipitadamente não é pressentida pela dor que um ser humano sofre com a separação.

Após o desenlace começam a surgir mecanismos de sentimentos de culpa.

A falência de um casamento não se dá de uma hora para outra. Trata-se de um longo processo para o qual contribuem os parceiros com suas dificuldades pessoais. A verdadeira causa da culpa, numa abordagem psicológica, é subjetiva e se constrói, quase sempre, com a participação de ambos.

Assim, seria imprudente imputar a aparente culpa por um comportamento que pode ser o reflexo da atitude do outro ou a projeção de um problema do outro.

Os autos questionamentos

Normalmente iniciam-se as perguntas sempre com um raciocínio embasado na autocomiseração e no sentimento de culpa produto de baixa-estima:

"O que fiz para merecer isto?" "Porque não consegui que ele ficasse comigo?" "Não sou suficientemente inteligente (bonita, nova)"; "Era muito ciumenta (excessivamente dedicada ao trabalho, aos filhos)", etc... .

Em resumo, procura-se praticamente desculpar a outra parte.

No plano psicológico, a separação torna os cônjuges confusos e vulneráveis.

A separação passa a causar maior frustração caso quem tenha sido abandonado possa ter vivido experiências difíceis: conflitos, ou a sensação de não ter sido suficientemente amado.

A separação abre as feridas não cicatrizadas, e as deixa expostas. Mesmo assim, é possível sair-se mais forte desta experiência.

A palavra-chave é reagir e a pessoa não deve titubear em pedir auxílio, principalmente quando a pessoa sentir-se incapaz de ultrapassar a situação sozinha. Recomenda-se consultar um psicoterapeuta. para superar a crise.

Alguns ingredientes podem amenizar a dor da separação

1) Evitar a solidão e o isolamento para estabelecer convívios humanos. Naturalmente devem ser pessoas de alta confiabilidade, maduras, e que possam conduzir o sentimento de perda de forma salutar;

2) Infundir na mente que a vida não acabou. Com efeito, nunca é tarde para novos encontros;

3) Algumas pessoas logo após a separação saem desenfreadamente para procurar outro (a) parceiro (a) para esquecer e apagar as más recordações.

É importante que não se deve escolher o novo (a) parceiro (a) para vingar-se do antigo parceiro. Por outro lado, não é interessante entrar imediatamente numa relação estável porque a carência afetiva mascara a observação serena dos comportamentos de outra pessoa.Mais tarde, após a cicatrização da perda, será possível construir uma nova história de amor, com bases sólidas.e sadias;

4) O envolvimento sexual deve ser bem dosado porque após a crise é comum ocorrerem falhas e distúrbios do equilíbrio sexual. Como, por exemplo, sentimentos de angústia ao ser feita a comparação do atual pelo antigo parceiro (a). Se tais problemas surgirem durante as primeiras relações sexuais com um novo parceiro, não se aflija,porque é normal e há necessidade de um período de adaptação.

6) Evitar o jogo maldoso de provocar ciúmes para o "ex", pois que tal comportamento além de não levar a nada depreciará a pessoa com o novo parceiro (a);

7) Aproveitar a recente liberdade para exercer novas atividades de lazer. Pode acontecer que pelo sentimento de perda, nos primeiros momentos, pode diminuir a motivação mas tudo depende de um esforço;

8) Atividades de grupo permitirão fazer novos conhecimentos, alargarão o círculo de amigos e, quando se sentir novamente disponível, talvez encontre um parceiro com interesses comuns;

9)Investir na vida profissional é uma solução clássica e eficaz! Com efeito, permite reagir ao desgosto e, ao mesmo tempo, proporciona satisfação imediata: sucesso e eventual aumento de salário. Este reconhecimento contribuirá para levantar o moral e recuperar a autoconfiança;

10) Evitar as queixas do antigo parceiro (a) pondo o dedo na ferida, pois que além de envolver a mente em sentimentos inferiores, pode entediar as pessoas que estão dispostas a ajudar;

11) Evitar a constante formulação de sentimentos de que tudo acabou por sua culpa;

CONCLUSÃO

Graças a humanização cada vez mais presente no Direito, não cabe mais, principalmente nas separações consensuais, vivenciar a culpa conjugal, e sim estabelecer o raciocínio que o casal está buscando, o bem-estar.Embora tendo optado pela união matrimonial, após algum tempo de convívio perceberam que a mesma não era a melhor forma de uma vida em comum, e assim cada um respeitando sua liberdade e dignidade do outro foram procurar um novo alento para uma vida afetiva sentimental.

Em suma, os conflitos psicológicos, os desajustes, os desníveis culturais, as interferências de familiares de forma indevida, a incompatibilidade sentimental, ou sexual, e até pode acontecer que de um momento para outro possa despontar o desamor, principalmente, quando o casal elaborou a união sem a devida maturidade (um dos eventos que contribui em muitos casamentos é o nascimento dos filhos, quando a esposa dedica-se mais aos filhos e provoca ciúmes no esposo, sendo um dos motivos para o rompimento do casamento).

É certo que o casamento exige certos sacrifícios para que possa subsistir, entretanto não é cabível renúncias que ultrapassam a sensibilidade e a natureza do ser humano.

(a palavra cônjuge foi distinguida para identificar aqueles unidos pelos laços do matrimônio. Interessante atentar para a semântica da palavra cônjuge:jugum era o nome dado pelos romanos à canga aos arreios que prendiam as bestas às carruagens. O verbo conjugare de [cum jugare] significa, entre outros sentidos, a união de duas pessoas sob a mesma canga, donde conjugis quer dizer jungido ao mesmo jugo, ou ao mesmo cativeiro).

PÍLULA DA FRATERNIDADE

QUANDO O CASAMENTO FOR ENCARADO POR VOCAÇÃO COMO A ESSÊNCIA DE UM IDEAL NOBRE, TODOS OS ENTRAVES SERÃO SUBLIMADOS.

[Roque Theophilo]

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