quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A hora da morte

De todas as certezas que pode ter o ser humano, a morte é sem dúvida uma delas.
Quem nasce já está fadado à morte. Mensageira estranha, por vezes, abraça antes os mais jovens e os mais sadios, deixando para trás idosos e doentes.
Contudo, sempre chega. Paradoxalmente, é um dos assuntos que quase todo mundo evita tocar.
É por isso mesmo que, quando chega, sempre surpreende.
Também por esse motivo, muitas lágrimas são derramadas sobre os túmulos.
Lágrimas que se casam a exclamações como: “Ah, se eu soubesse que era o seu último dia! Se eu soubesse que ele iria morrer, não teria sido tão mau! Se eu soubesse que ele partiria tão cedo, teria abraçado mais, dito como o amava, sido melhor para ele.”
Por tudo isso, é bom considerar que nossa existência é muito efêmera. Hoje estamos aqui, amanhã poderemos não nos encontrar mais deste lado da vida.
O ser amado que se despede para o trabalho diário, pode não retornar. A criança que corre pela rua, rumo à escola, pode não voltar para casa.
Como a irmã daquele menino de apenas 10 anos. Ele entrou em casa e chamou pela mãe.
Ela estava no quarto, sentada, quieta.
“Sua irmã morreu esta manhã, Michael.” – foi o que disse.
O conceito de morte não tinha um significado concreto para aquele garotinho.
Durante muito tempo ele perguntava à mãe: “ela vai voltar? Por que ela teve de morrer?”
E ficava em frente à casa, esperando que o ônibus escolar a trouxesse de volta.
Entrava no quarto dela e apanhava a sua pasta escolar. Tudo estava bem arrumado – os cadernos de um lado, os livros do outro, o estojo de lápis no meio.
A faixa preta de elástico que ela usava nos cabelos quando foi para o colégio naquela manhã.
Depois, devolvia tudo certinho no seu lugar. Perguntava-se, se a irmã ficaria zangada por ele ter mexido em suas coisas.
O que ele realmente jamais esqueceria foi o que aconteceu duas noites antes da irmã morrer.
Ele esperou o ônibus que a trazia da escola. Estava preocupada. Esquecera de um trabalho de arte que devia entregar no dia seguinte.
Ele a foi ajudar e juntos fizeram 12 borboletas coloridas, de antenas enroladas e asas triangulares.
No dia em que ela morreu, ele estranhamente despertou mais cedo.
Observou-a se aprontando para a escola.
Como o vão da escada no prédio era muito escuro, ele ficou segurando a porta aberta para que a luz do apartamento a ajudasse enxergar os degraus.
Uma das mãos dela segurava a pasta, a outra balançava, enquanto descia os degraus.
Estava de uniforme azul. Tinha só 14 anos. E suas últimas palavras para Michael foram: “Até logo, irmão.”
Passadas mais de 4 décadas, Michael ainda guarda a lembrança de sua irmã.
Quando vê uma borboleta, recorda de imediato daquele último trabalho que fizeram juntos.
E espera. Porque, um dia, ele também fará essa viagem para o grande além.
Nesse dia, finalmente, ele a verá outra vez.

***

Ame muito. Usufrua a companhia dos afetos.
Quando um deles se for, poderá acalentar seus dias com as doces lembranças dos afagos compartilhados.
E isso amenizará sua grande saudade.

[Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita com base no artigo A despedida, de Michael Tan, da revista Seleções do Reader´s Digest, outubro/2005]

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