quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A Cultura e o Medo da Morte

Nossa cultura repudia com tanta veemência a possibilidade, mais que natual, de um envelhecimento saudável, que se tornou um discurso politicamente correto dizer “sento-me bem, como se tivesse vinte anos”. Para o ocidente o envelhecimento é visto sempre como decrepitude, como falência orgânica, e a morte é vista sempre como o ápice dessa degeneração.

Culturalmente, vários valores (?) contribuem para a negação da morte, seja o culto à eterna juventude, a acumulação de bens, a busca da imortalidade ou o apego materialista, tudo isso acaba fazendo com que a morte não seja aceitável de forma alguma.

O marketing profissional objetiva criar falsas necessidades, e tão mais meritoso será, quanto mais conseguir tornar obrigatórias coisas que são, de fato, facultativas. O resultado é uma sociedade inquieta e atormentada pela necessidade de ter. Com esse materialismo dominante, com esse consumismo capaz de monopolizar o ideal humano, ficam irremediavelmente prejudicadas as iniciativas para o autoconhecimento, primeira lição para aceitarmos com serenidade que um dia deixaremos de existir.

O ser humano moderno, fruto de nossa sociedade consumista, gasta todo seu tempo de vida procurando ter e gozar do que tem, chegando ao momento da morte totalmente despreparado.

Pensar na morte de maneira serena e calma não é uma questão de morbidez, masoquismo, ideação suicida, falta de vontade de viver, porque é bom deixar de existir ou algo assim. Na realidade, trata-se da conscientização de que ela vai acontecer de qualquer forma e com todos que andaram, andam ou venham a andar sobre a Terra. É a adaptação para com algo que vai acontecer, queiramos ou não, uma hora ou outra.  

 

Ballone GJ - Lidando com a Morte - in. PsiqWeb Psiquiatria Geral

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário aqui!