quinta-feira, 14 de julho de 2011

É possível seguir em frente mesmo após uma viuvez precoce

Num primeiro momento, só se consegue chorar e lamentar. Passagem do tempo ajuda a ter mais clareza sobre o que fazer.

Quando as pessoas se casam, se há amor, planejam viver toda uma vida juntos.Imaginam uma trajetória que inclui curtir a vida a dois, ter filhos, criá-los, encaminhá-los, envelhecer e aproveitar a velhice. Embora todos saibam de sua existência, a morte, é na maior parte das vezes, desconsiderada (ainda que temida).

Isso é o que se imagina. Porém, a trajetória de um casal nem sempre é tão linear. Os contratempos acontecem – mudanças de cidade, dificuldades econômicas, doenças, separação. E a viuvez.

Embora muitos acreditem que essa é uma condição exclusiva dos casais mais velhos, ela existe entre as pessoas jovens.

A morte do cônjuge pode significar para muitos um alívio. Principalmente entre aqueles que consideram ter que aguentar um casamento não importa em que condições. Diante de uma situação dessas, parecem sentir-se livres. É isso mesmo – libertam-se da pessoa que sentiam como causadora de sua infelicidade.

Geralmente não é assim. Ainda mais em tempos em que o divórcio se tornou banal. Ninguém fica mais aguentando ninguém. Pequenas divergências podem colocar fim a um casamento.

Existem situações em que a morte é esperada. E até desejada. Como, por exemplo, quando alguém é vítima de doença longa, penosa e sem cura. Desejo que é pautado no amor – fica insuportável ver um ser amado sofrendo tanto. As pessoas ao seu redor não só querem que ela parta, mas também se preparam para isso.

Outras vezes, no entanto, as coisas acontecem tão repentinamente que mais parecem um sonho. Na verdade, um pesadelo em que se custa acordar. São aquelas mortes de pessoas saudáveis, que sofrem um enfarte ou são vítimas de um acidente fatal. Por vezes jovens, cheias de planos e projetos. Com filhos para criar ou até para nascer. São verdadeiras tragédias que dificultam muito a compreensão da situação em que se vive.

Como se a roda que girasse num sentido, de repente começasse a girar para o outro, num único movimento brusco.

Drama
Para aqueles que já acompanharam pessoas passando por um drama desses (o que tem sido mais comum, principalmente envolvendo acidentes automobilísticos, como a garota de 28 anos cujo carro foi atropelado por outro em alta velocidade), como é difícil ter algo para dizer de modo a aliviar o sofrimento dos que ficam. Não existem palavras que possam confortar. Elas ainda não foram criadas. Não há conforto.

A perda causa dor intensa. Num primeiro momento, não há muito que fazer. Apenas chorar e lamentar. Ter alguém que ofereça um colo é bastante precioso. Às vezes, é o máximo que se pode fazer. Passado o choque inicial, aí sim é hora de pensar na vida. Que vai ter que ser vivida com outros referenciais. Sem a ajuda de seu companheiro.

Principalmente para os que ficam com a incumbência de criar seus filhos sem a participação do outro. A tarefa já não é simples tendo o cônjuge ao lado. Pode parecer que não vão dar conta do recado. Sem contar outros aspectos que envolvem enviuvar. Inclusive, os burocráticos.

Realmente a situação não é fácil. Mas se essas pessoas puderem perceber que não precisam dar conta de tudo de uma vez, as coisas podem ficar menos complicadas.

O melhor é que sejam resolvidas a medida que elas forem aparecendo. Até porque, com a passagem do tempo e a consequente elaboração do luto (sim, leva tempo), a possibilidade de a pessoa ter mais clareza da situação aumenta, assim como sua disposição para resolver o que for preciso.

A dor existe, mas é possível continuar em frente. E ainda ser feliz.

[Ana Cássia MaturanoEspecial para o G1, em São Paulo]

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