domingo, 3 de julho de 2011

Mulheres descomprometidas: três estações do amor

Aqui no Brasil, neste momento que escrevo, a maioria das pessoas que tem a idade adequada para um relacionamento amoroso está envolvida em um deles. No entanto, outro grupo, também bastante numeroso, está descompromissado. Este grupo de descompromissados não é homogêneo: existem pessoas que não querem namorar (“ficam”, têm casos, sentem-se bem sozinhas, etc.); nunca namoraram; estão na “entressafra” (terminaram um relacionamento há pouco tempo e ainda não “engataram” outro) ou estão com dificuldades para se envolverem em relacionamentos amorosos (algumas delas só têm facilidade para relacionamentos superficiais).

Neste artigo vou tratar apenas de três grupos de mulheres que estão disponíveis e dispostas a iniciar um relacionamento amoroso. Cada um desses grupos pode ser identificado tipicamente com certa faixa etária, embora existam muitas exceções: algumas pessoas têm facilidades e problemas na área amorosa que são mais típicos de outras faixas etárias.

Se você está descompromissada e disponível para um relacionamento amoroso, leia as três histórias abaixo e os comentários que as seguem e procure identificar qual delas mais se aproxima da sua situação.

Primeira estação: “A Vida é uma Festa”

Juliana tem 21 anos. Está cursando a faculdade, se dá muito bem com os ex-colegas de colégio e tem vários amigos de infância que moram perto da sua casa. Está sempre em contato com estes conhecidos, colegas e amigos. Além de ver uma parte deles na faculdade, ainda mantêm contato intenso com quase todos: a internet, o telefone, as festas e os diversos tipos de programas estão ai para isso. Os programas são constantes: sempre há uma pessoa que está fazendo aniversário, outra que está convidando para assistir um vídeo; as idas aos barzinhos acontecem todas as semanas e as baladas são sempre uma opção. Em cada um destes programas sempre pode rolar alguma “ficada”. Sempre, também, há alguém na fila de espera para outros tipos de relacionamento. O amor está na ordem do dia: as opções e oportunidades são múltiplas.

As duas principais características desta primeira estação são as seguintes: grande disponibilidade de parceiros para relacionamentos amorosos e grande quantidade de oportunidades de encontros amorosos. Nesta época, quase ninguém está seriamente comprometido: são raros aqueles que moram juntos ou que estão casados. Os jovens vivem em bandos: estudam juntos, viajam juntos, se falam constantemente pela internet, frequentam muitas festas e baladas.

Um estudo que publiquei recentemente1 revelou que estudantes universitários paulistanos, que tinham cerca de vinte e quatro anos de idade, já tiveram, em média, as seguintes quantidades de experiências amorosas: “ficadas” – 26 parceiros diferentes; relações sexuais – 5 parceiros diferentes; paixões – 3; namorados – 4; amores – 1. Além disso, sessenta e quatro por cento deles se declararam apaixonados na época em que a pesquisa foi realizada. Trata-se, portanto, de uma época bem intensa no campo amoroso, uma verdadeira festa amorosa.

Nesta estação do amor, portanto, as condições objetivas favorecem os inícios de relacionamentos amorosos. As principais dificuldades para iniciar ou desenvolver um relacionamento amoroso nesta época são mais de ordem pessoal. Algumas das principais dessas dificuldades são as seguintes:

- Problemas de autoestima.

- Características físicas e psicológicas pouco valorizadas pela cultura.

- Problemas para sentir atração amorosa, evolver afetivamente, comprometer-se.

- Inabilidades para criar um clima amoroso: acentuar os sinais de gênero, flertar,

- Exigência excessiva quanto ao parceiro: exigir mais do que oferece ao parceiro em diversos campos.

Segunda estação: “É Agora ou Nunca”

Eliana é bonita, se veste bem, tem uma boa formação acadêmica e está bem na vida profissional. Durante a vida, ela teve vários relacionamentos breves e dois mais longos. Atualmente está sem namorado. Está começando a ficar aflita com a sua vida amorosa. Percebeu que o seu tempo está curto e que não pode tomar decisões erradas nesta área. Quer muito constituir a sua própria família e gostaria de ter pelo menos um filho. Fez as contas: está com trinta e dois anos. Se encontrasse um namorado nos próximos meses e se casasse com ele daqui a um ano e meio, já teria quase trinta e quatro anos nesta época. Caso engravidasse depois de um ano de casada, o filho nasceria quando ela teria perto dos trinta e seis. Tudo isso, na melhor das hipóteses. Devido a estas considerações, sente uma grande pressão para acertar logo nesta área. É agora ou nunca.

A grande motivação de Eliana para casar e ter filho está se virando contra ela. Mal ela começa a sair com um rapaz, já fica muito atenta à natureza das suas intenções amorosas – se ele quer apenas se divertir ou se tem intenções sérias - e, por isso, nem aproveita direito os encontros. Ela também fica à caça de pistas que indiquem se ele seria um bom esposo. A sua “ideia fixa” tornou menos importante o envolvimento com a pessoa que ela sai do que as características dessa pessoa que a qualificam como um possível esposo. Por isso, os rapazes que saem com ela sentem-se pressionados e ficam com a sensação de que ela não quer namorar, mas sim casar. Isto geralmente “quebra o clima” e faz o relacionamento fracassar.

As principais dificuldades para iniciar e desenvolver relacionamentos amorosos nesta estação são as seguintes:

- As mesmas dificuldades da estação anterior

- A urgência para iniciar e desenvolver um “relacionamento sério”.

- Diminuição na quantidade de bons parceiros disponíveis. Principais motivos:

(a) a maioria dos parceiros compatíveis está casada ou morando junto. (b) Muitos dos disponíveis remanescentes não são compatíveis, não querem um relacionamento sério (só querem sexo ou têm dificuldade para se compromissarem). (c) Quase todo mundo em volta já está compromissado.

-Dispersão dos parceiros compatíveis. Os contatos com parceiros compatíveis no dia a dia começam a rarear.

Terceira estação: “Olha Nós Aqui Outra Vez”.

Carol é uma mulher madura e realizada em vários sentidos. Tem quarenta e cinco anos, é advogada de uma grande firma e ganha relativamente bem. Tem dois filhos já crescidos: uma filha terminando o segundo grau e um filho na faculdade.

Ela separou-se aos trinta e nove anos. Após a separação, passou dois anos sem querer novos relacionamentos amorosos. Depois disso, começou a sentir interesse em reiniciar a sua vida amorosa. Uma das primeiras coisas que fez para isso foi examinar as suas possibilidades atuais. Foi aí que ela tomou consciência de que muita coisa havia mudado desde a sua época de solteira: antes de se casar a grande maioria dos homens que despertava o seu interesse não estava seriamente comprometida (poucos moravam juntos ou estavam casados). Agora, a grande maioria dos homens da sua faixa etária está casada. Por exemplo, no prédio onde ela mora e no local onde trabalha quase todos os homens do seu nível socioeconômico e da sua faixa etária estão casados. Os homens disponíveis remanescentes estão dispersos por aí. Não existem locais onde eles podem ser encontrados naturalmente. Não existem locais com tabuletas dizendo: “Prédio exclusivo para solteiros.”, “Emprego só para disponíveis.”, “Descompromissado, venha morar e trabalhar aqui.”, “Condomínio da Paquera” ou “Só é permitida a entrada e permanência de disponíveis”. Os poucos locais onde é possível encontrar homens com estas qualificações são os bares, clubes noturnos e a internet. Nestes locais, no entanto, os frequentadores estão mais a procura de sexo imediato do que de relacionamentos mais abrangentes.

A constatação das dificuldades para encontrar um parceiro ideal pode levar muitas mulheres desta estação do amor a abrir mão de boa parte das exigências sobre o parceiro. Quando isto acontece, esta mulher já não está mais à procura de um príncipe encantado e de um grande romance. Encontrar um bom companheiro, que seja amigo, confiável, realizado economicamente e bom de cama, seria bom demais.

Talvez ela não sinta a necessidade de casar-se formalmente ou de morar na mesma casa. Também não há tanta urgência para realizar este projeto, como na estação anterior. Quem está nesta estação já realizou o seu sonho de casar-se e ter filhos. Agora o que mais importa é ter um bom companheiro. Não existe nenhuma data fatal após a qual as dificuldades para esse fim aumentem abruptamente.

Principais dificuldades para iniciar e desenvolver relacionamentos nesta estação

Além das dificuldades apontadas para as duas estacoes anteriores, as mulheres desta terceira estação ainda se deparam com outras dificuldades. As principais destas dificuldades são as seguintes:

- Os homens geralmente querem namorar mulheres bem mais jovens do que eles (no Brasil, o homem, em média, é cerca de três anos mais velho do que a mulher na época do seu primeiro casamento e cerca de nove anos mais velho do que ela quando se recasa).

- Muitos possíveis parceiros só querem sexo. Outros já não conseguem mais ter um bom desempenho sexual

- Muitos homens que se mostram interessados em desenvolver um relacionamento amoroso, e que inicialmente parecem adequados, posteriormente revelam sérios problemas (vícios, problemas psicológicos, incapacidades para se envolver, incapacidade para se comprometer, sérios problemas econômicos - desempregados crônicos, endividados dificilmente recuperáveis, etc.).

Pessoas que florescem em todas as estações

Uma boa dose de características psicológicas favoráveis ao relacionamento amoroso pode ser suficiente para superar os obstáculos para iniciar e desenvolver relacionamentos amorosos que existem nestas três estações do amor. Certas pessoas sempre atraem, sempre têm pretendentes: são charmosas, cheia de vida e tomam iniciativas. Para essas pessoas, a vida amorosa sempre é uma Primavera, cheia de flores, sol brilhante e passarinhos cantando!

Este artigo foi baseado em um capítulo do livro ("Três Estações do Amor"), "Relacionamento Amoroso, Publifolha, 2009.

 

[Por Ailton Amélio às 08h46]

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