terça-feira, 19 de abril de 2011

Cirurgia Plástica em Jovens

Quando se pensa em procedimentos estéticos, se pensa em rejuvenescimento. No entanto, cada vez mais os jovens têm procurado nas cirurgias plásticas soluções para problemas como baixa autoestima e dificuldades na vida social. O cirurgião André Colaneri destaca a necessidade de o médico estar atento ao desenvolvimento tanto físico quanto psicológico do paciente.

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As crianças, segundo Colaneri, estão se desenvolvendo mais rápido, o que facilita a realização de cirurgias em idades menos avançadas. "Hoje, uma menina de 14 anos já está formada. Elas estão menstruando com nove, dez anos e na adolescência já têm o corpo da mãe. Então, as que chegam aqui e têm uma formação adulta estão aptas a procedimentos cirúrgicos", explica. Mas psicólogos alertam que, ao optar por métodos extremos, o jovem pode estar, de fato, fugindo de um problema real.


Ditadura da beleza X Autoconhecimento

Para a psicóloga Cleives Carvalho, vivemos uma ditadura da beleza, influenciada pela mídia. "Os canais de comunicação têm um papel preponderante na vida do indivíduo. Somos perseguidos pelo ‘PIB', o ‘Padrão Inatingível de Beleza'. E não existe a perfeição. Precisamos nos conscientizar de que não somos bonecos, somos de carne e osso. Precisamos nos conhecer para sabermos o que nos tornará mais felizes. Temos nossa beleza, basta ter coragem para despertá-la", explica. Ao realçar o que gostamos em nós seria possível evitar opções mais drásticas como uma cirurgia.

A psicóloga Lina Rosa Morais, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, explica que oculto ao corpo nasceu na década de 80: "Desde então estamos imersos numa sociedade narcísica, onde a beleza passou a ser um capital. A pressão para que o jovem tenha uma ‘boa imagem' é muito maior". Para Lina, a escolha por um processo de resultado imediato, mas invasivo é resultado de baixa autoestima intimamente relacionada à busca por se enquadrar no protótipo do que se acredita belo. "Podemos trabalhar a autoestima desenvolvendo qualidades não perecíveis como elegância, estilo, bom humor e criatividade: percorrendo um caminho um tanto custoso, mas certamente garantido: o autoconhecimento", analisa.

A busca do imediato

A atriz Cristiana Peres, que vive a personagem Cristiana Araújo em "Malhação ID", revela que muitas vezes se sentiu insatisfeita com o corpo, mas nunca optou por métodos drásticos. "Já quis mudar várias partes do meu corpo, mas sempre busquei formas alternativas para reparar o que me incomodava, como comer coisas mais saudáveis. E procurei entender o porquê daquela insatisfação. Acho que, quando você se incomoda com alguma coisa é preciso trabalhar essa percepção. A cirurgia é um método extremo. Não sou contra, mas entendo que o meu corpo está se transformando e ainda vai se transformar muito", acredita.

Para ela, o crescimento da procura por cirurgias plásticas é causado pela busca do imediato. "As pessoas querem o que é mais fácil. A opção pela cirurgia é como uma edição: em vez de você tentar de novo, gravar de novo, ir pelo caminho que talvez seja mais difícil e longo, você opta pela edição. Você corta um pedaço do seu corpo que está incomodando, mas o porquê daquele incômodo você não vai descobrir qual é. A verdade é que todo mundo está buscando o seu lugar ao sol e, em qualquer situação, o segredo vai estar em você se conhecer melhor", sentencia.

Para o ator Erich Pelitz, companheiro de Cristiana na novela teen da Globo, a cirurgia só deve ser feita em casos extremos. "Cada um tem que se aceitar do jeito que é. Em casos extremos, tudo bem, mas quando é só um nariz, uma gordurinha aqui, coisas bobas, não há por que mudar", opina. Chamado pelas fãs e pela mídia de "Zac Efron brasileiro", ele emenda que nunca foi cem por cento feliz com a própria aparência. "Não sou o cara mais lindo do mundo, mas também não tem alguma coisa que eu olhe e fale ‘nossa, preciso mudar isso'. Nunca pensei em entrar na faca".

A atriz Maytê Piragibe faz coro com Erich. Para ela, a cirurgia só deve ser opção no caso de uma correção e não somente em nome da estética. "Existem mulheres, por exemplo, que têm o peito muito grande e isso acaba prejudicando a coluna, aí tudo bem. Mas quando é só uma questão estética, acho que não deve ser feito. Mas essa é cada vez mais uma tendência, até porque existe uma pressão pela perfeição. Todo mundo quer ser a Gisele Bündchen", diz.

Reais motivações

O cirurgião André Colaneri explica que, em alguns casos, existe a necessidade de uma intervenção cirúrgica pois determinadas "imperfeições" podem prejudicar, além do corpo, a vida social do paciente. "A cirurgia para corrigir orelha de abano pode ser feita aos cinco ou seis anos de idade, porque o órgão já se desenvolveu. Por que não realizar o procedimento? A criança pode ser vítima de bullying e ficar traumatizada. Com o nariz, acontece a mesma coisa. Aos 16 anos, o processo de desenvolvimento do órgão está finalizado, é perfeitamente operável. Se a 'imperfeição' realmente incomodar o jovem, ele não sai de casa, tem sua vida social prejudicada", pondera.

O médico deve estar atento às reais motivações que levaram o jovem a escolher esse caminho. Segundo Colaneri, há muitos casos em que meninas querem ser parecidas com alguma modelo ou atriz. Quando isso acontece, as expectativas quanto ao resultado final do procedimento são ilusórias. "Deve-se verificar se a paciente está psicologicamente pronta para a intervenção. A primeira pergunta que faço é ‘No que posso te ajudar?'. A segunda é para saber a expectativa quanto à cirurgia. Se ela quer ficar igual à modelo, eu não posso operar. Quando existe a idealização, a paciente dificilmente vai gostar do resultado".

Colaneri enfatiza: "A paciente tem que entender que existem limitações técnicas e que nunca vai ser possível transformá-la em outra pessoa. O que o cirurgião faz é aperfeiçoar alguns detalhes, mas a genética vai continuar a mesma, o tipo de pele etc. A pessoa tem que ter a mente aberta, porque assim estará mais propensa a gostar do resultado. E fica satisfeita física e emocionalmente", esclarece.

Outro problema recorrente, de acordo com André, é o distúrbio de imagem. "O médico deve avaliar se a queixa do paciente é de fato real ou se está imaginando coisas. Ele pode ter um distúrbio de imagem. Tem gente que acha que tem um complexo de uma coisa que não existe", explica.

É consenso entre os especialistas de que uma das causas do aumento da procura por métodos que corrijam determinados "defeitos" estéticos entre os jovens é a insegurança, muito mais presente nesta fase da vida. "A adolescência é um período de muitas transformações: corporais, psicológicas e sociais. O indivíduo vivencia um conflito de inadequação.Querendo pertencer e ser aceito, adere à manipulação da mídia", reflete a psicóloga Cleives.


O cirurgião da Clínica Colaneri conta que esta é a melhor fase para tentar métodos alternativos em prol de uma melhor silhueta. "O jovem é naturalmente inseguro. Uma menina de 15 anos está começando a querer namorar, então qualquer coisinha ela já vê problema. Mas essa também é uma idade em que gasta muita energia. Se o paciente se sente acima do peso, por exemplo, o mais aconselhável é tentar uma dieta, um esporte, para ela emagrecer sem recorrer a uma operação", diz.

Segundo Colaneri os procedimentos mais realizados são a prótese de mama, a correção da orelha de abano, a redução de mama, a rinoplastia e, por último, a lipoaspiração, que normalmente é feita em jovens de 18 ou 19 anos: "No caso do silicone, o método mais procurado, meninas com 15 e 16 anos já podem passar pela cirurgia. Acho válido caso elas realmente não tenham peito nenhum, porque a mama é a feminilidade, tem muito a ver com a autoestima".

Para a estudante de direito Ana Carolina Brandão, de 21 anos, os seios pequenos foram o impulso para marcar a cirurgia. "Nunca fui muito satisfeita com o meu corpo, principalmente com o meu peito, que sempre foi desproporcional ao restante. Tenho vontade de colocar silicone desde os meus 15 anos, mas eu tinha medo porque todo mundo fala que é melhor colocar só depois de ter filho, de amamentar. Minha mãe é ginecologista e mastologista, ela também me aconselhava a não fazer naquela idade, porque o corpo não estava totalmente desenvolvido", explica.

A psicóloga Lina Rosa Morais deixa uma mensagem para o jovem que pensa que a única forma de solucionar um problema é agendar uma data no centro cirúrgico. "Eles devem repensar seus valores e entender que nada na vida acontece ao acaso. As conquistas se dão com disciplina e determinação. É preciso coragem para viver bem e ser verdadeiro consigo mesmo. Não vai ser utilizando uma máscara ou entrando numa fôrma que seremos felizes. Felicidade não se compra, não se fabrica, não se modela. Felicidade se faz no dia a dia, com empenho", conclui.

[Nayara Marques]

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