segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Personalidade psicótica: cérebro e personalidade

A personalidade inclui, em meio a todos seus traços, a cognição e a percepção (veja Percepção e Representação da Realidade). Essas atividades representam uma operação complexa baseada em redes neuronais intrincadas e perfeitamente integradas, as quais Eduardo Mata chama de Módulos, portanto, a atividade cerebral seria do tipo modular.

A sobrevivência exige funcionamento adequado, muitas vezes automático e inconsciente, de uma quantidade de módulos que tratam muitos fatores simultaneamente: a motivação, a percepção do ambiente, noção do que é necessário para sobreviver, regulação dos impulsos agressivos e sexuais, formação das relações com outros indivíduos, regulação dos comportamentos intencionais e inibição dos inapropriados.

Portanto, quanto mais eficientes forem esses módulos (Assembléias Neuronais), melhor desempenho terá a pessoa e melhor apreensão da situação existencial (no mundo), ou seja, a consciência global é conseqüência da notável capacidade de organização e integração neuronais que o organismo possui.

Todo esse procedimento adaptativo resultante das Assembléias Neuronais não se faz de maneira linear, seu curso e seqüência não se pode prever. Na pessoa normal parece que não basta a compreensão dos fenômenos químicos ou físicos para predizer como se dará a sucessão de atitudes adaptativas, tais como o autocontrole, a iniciativa, a regulação do afeto, do juízo, a destrutividade, o planejamento da fuga ou do ataque. De modo geral, há maior ou menor probabilidade da pessoa reagir assim ou assado mas as atitudes serão sempre circunstanciais, sem que tenhamos certeza da previsão.

Quando conseguimos prever a maneira com que a pessoas reagirá, como atuará em determinadas circunstâncias, em outras palavras, quando a pessoa reage sempre dessa ou daquela maneira diante das circunstâncias, e quando essas atitudes fazem sofrer (ela ou os outros), provavelmente estaremos diante de um Transtorno da Personalidade

Transtornos tais como os casos de Personalidade Múltipla, Personalidade Borderline e Transtornos Dissociativos poderiam ser considerados, pelo menos em parte, como perturbações de funcionamento ou da integração das redes neuronais. Isso caracterizaria uma perturbação do sistema cérebro/mente, a qual poderia ter causas biológicas e/o determinadas pela experiência.

Uma observação interessante é a crescente habilidade das crianças e adolescentes para regular sua conduta, à medida que o cérebro amadurece. Esse amadurecimento parece ser conseqüência não só da experiência, senão também da mielinização das áreas pré-frontais com as conseqüentes alterações nas redes neuronais. Trata-se de um processo que continua até o fim da vida (em velocidade e quantidade decrescentes).

Este modelo modular é também consistente com as pesquisas em relação à compatibilidade do humor com a memória. Partem das observações de que quando se tem determinado estado de humor, há tendência em se ter recordações específicas. Parece ter sido ativada pelo estado de humor uma rede neuronal específica, parece ainda que ao ativar determinada rede neuronal há bloqueio ao acesso a outras representações. Talvez seja por isso que o aconselhamento otimista para quem está deprimido tenha tão escasso resultado, pois a depressão favorece certo tipo de lembranças, recordações, conclusões e fantasias.

Na historia das teorias neurobiológicas da personalidade, registra-se que no século IV antes de Cristo, Hipócrates havia precisado a existência de quatro estilos diferentes de personalidade baseado nos humores. Mais de vinte séculos depois ainda não se tem uma teoria neurobiológica absolutamente precisa, mas, não obstante, na última década do século XX, a chamada “década do cérebro”, produziu-se avanços significativos na neurociência, em particular na área da neuroquímica.

As pesquisas sobre a Personalidade Psicopática têm enfocado ora alguns aspectos sintomáticos, ora outros. Alguns estudos enfocam essa alteração da personalidade em relação às condutas delituosas, à violência, dificuldades no controle dos impulsos, sexualidade de risco e desordenada e consumo abusivo de substâncias.

Algumas linhas de pesquisa têm dedicado considerável atenção aos aspectos anti-sociais e criminais desse transtorno, enquanto outros começam a se preocupar com a falta de empatia e loqüacidade comum aos psicopatas. Ressaltam-se ainda as pesquisas em relação ao encanto superficial dos psicopatas, à falta de arrependimentos, à incapacidade para amar e à gritante irresponsabilidade. São escassas ainda as pesquisas sobre a Personalidade Psicopática e as condutas terroristas.

Atualmente o estudo da Personalidade Psicopática permite fazer a distinção entre duas estruturas. A primeira delas (Fator 1), agrupa os sintomas de eloqüência, falta de sentimentos de arrependimento ou culpa, afetos superficiais, falta de empatia, e extrema dificuldade em aceitar responsabilidades. Esta variante não caracteriza necessariamente a pessoa anti-social, antes disso, parece caracterizar uma grande puerilidade ou defeito na maturidade plena da personalidade.

A segunda estrutura (Fator 2) consiste nos verdadeiros traços anti-sociais, ou seja, na agresividade e na falta de controle dos impulsos. O Fator 1 não está necessariamente associado ao Fator 2, mas este sim, para que seja dado diagnóstico de Psicopatia, deve obrigatoriamente ter como pré-requisito o Fator 1.

Lewis cita, entre outros, as tipologias de Blackburn. Esse autor refere que, enquanto a psiquiatria norteamericana define a conduta anti-social em termos comportamentais, outras definções têm se preocupado com as alterações emocionais.



Existem dois grupos em relação a esse aspecto. Um deles formado por pessoas com escassos ou nenhum sentimento de arrependimento ou culpa referentes à sua conduta anormal e têm pouca ou nenhuma empatia para com seus pares embora se façam simpáticos e agradáveis (Fator 1, de Hare). Parece que o critério de observação é ético por excelência.

O outro grupo é formado por pessoas com tendências neuróticas: apesar da conduta anormal apresentam emotividade excesiva e queixas de conflito interno em relação à culpa, ansiedade, depressão, arrependimento, paranóia, e outros sintomas neuróticos. Aqui os critérios de observação são psicodinâmicos, psicopatológicos. No primeiro caso é a chamada Psicopatia Primária (verdadeira), e a segunda Psicopatia Secundária.

Segundo idéias de Zuckermam (1, 2), uma das características do psicopata seria um marcante traço da personalidade caracterizado por Psicoticismo, Impulsividade, Busca de Sensações e atitudes não socializadas, porém, esse supertraço sociopático não estaria presente só na Personalida Psicopática, mas também na Personalidade Borderline.

Fowles ressalta a “falta de medo” dos psicopatas, mas só na Psicopatia Primária, ou seja, naqueles que não sentem ansiedade. Horvath e Zuckerman afirmam que, na busca de sensações e experiências intensas, os psicopatas assumem diversos tipos de riscos, como por exemplo, trabalhos ou esportes perigosos, inprudência ao dirigir, exposição a situações ilegais, uso abusivo de drogas, sexo inseguro. Na vida militar costumam aceitar voluntariamente missões voluntárias de risco.



[Ballone GJ - Personalidade Psicopática]

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